Rafael Sampaio: “O principal, que é a recomposição salarial, não ocorreu”

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À Queima Roupa // Delegado Rafael Sampaio, ex-presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil do Distrito Federal (Sindepo) e pré-candidato a deputado federal pelo PL

por Ana Maria Campos

Acabou o prazo para a recomposição das forças de segurança. Por que o presidente Jair Bolsonaro não enviou o reajuste
para o Congresso?
A informação é de que não haveria clima político para dar reajuste apenas para as forças do DF, especialmente considerando as reivindicações dos servidores federais.

Os recursos para o reajuste são do DF, apesar de saírem do Fundo Constitucional do Distrito Federal. Por que a recomposição não saiu?
Os recursos não são do DF, são da União. É a União que organiza e mantém as forças policiais do DF. Por isso, a legislação que concede reajuste para os servidores policiais do DF é federal, de iniciativa do presidente da República. Isso nos coloca nesse cenário caótico de necessitar o encaminhamento do GDF de mensagem à União e o aval do governo federal para termos uma recomposição salarial.

Qual é o sentimento entre policiais civis?
De muita injustiça. Ficamos frustrados, pois negociamos com o Governo do DF, que, em tese, é nosso patrão, mas ficamos sempre dependendo do aval da União — que, em duas ocasiões, interveio negativamente no negociado com o GDF, sob o argumento de que não haveria reajuste para as forças federais e de que não poderia dar reajuste só para os policiais do DF. A primeira (negociação) foi em 2011, no governo Agnelo, quando negociamos 13%, e a presidente Dilma vetou nosso reajuste; a segunda (foi) agora. De outro lado, o que nos indigna é que, quando a União reajusta os policiais federais, não tem a mesma preocupação com o reajuste dos policiais do DF. Assim, em 2016, deu um gordo reajuste para os policiais federais, de 37% — que não tivemos —, sob o argumento de “autonomia do DF”. Neste ano, a União negociou, no âmbito do Ministério da Justiça e Segurança Pública, uma reestruturação das forças policiais federais sem qualquer participação das forças do DF — que, se aprovada, não nos aproveitaria —, mas rejeitou nossa recomposição porque não seria concedido reajuste para os servidores federais, e isso geraria desgaste político. Ou seja, o paradigma é somente em nosso desfavor.

Ibaneis concedeu alguns benefícios para as forças de segurança. Acha que a Polícia Civil foi bem tratada no governo de Ibaneis?
Acho que houve avanços e boa vontade em alguns pontos. Mas, no fim das contas, a valorização pessoal está bem distante da prometida e esperada. Foi concedido um plano de saúde que, apesar de não ser o pleiteado, foi positivo. Houve um avanço, também, do auxílio-alimentação e a criação de um auxílio-uniforme. O governo coloca o (serviço) voluntário (gratificado) como um benefício, mas é uma ação de interesse do Estado, pois, sem ela, as delegacias estariam fechadas por falta de servidor. Além disso, o valor do voluntário é um absurdo, bem abaixo do valor da hora de trabalho do servidor. De outro lado, não tivemos as contratações esperadas, e os concursos se arrastam, sendo a previsão de nomeação dos concursos de 2019 para 2024. Por fim, o principal, que é a recomposição salarial, não ocorreu. A proposta que não avançou agora, por exemplo, é inferior ao prometido para 2019, mesmo diante da alta da inflação.

Acha que a deputada Flavia Arruda será candidata ao Senado ao lado de Ibaneis?
Parece estar ajustado isso. Mas fala-se que, na política, é como nas nuvens: as coisas mudam de lugar a todo instante.

E Arruda? Acredita que ele será candidato? A qual cargo?
Acredito que sim. O direito (à candidatura) é muito bom. (Essa) não é uma causa pessoal e tem repercussão geral, alcançando muitas pessoas no Brasil. O cargo é ele quem tem de decidir, junto da Flávia.

Se ele for candidato à Câmara, ajudará a eleger uma bancada forte do PL?
Sem dúvida. Há 20 anos, ele teve mais de 300 mil votos. Acho que, hoje, isso seria potencializado. Seria muito bom para o partido. Uma votação assim poderia nos levar a compor metade da bancada.

As forças de segurança vão votar em Bolsonaro?
No geral, creio que sim. Mas, na Polícia Civil, há muita insatisfação pela não concessão do reajuste.

Ana Maria Campos

Editora de política do Distrito Federal e titular da coluna Eixo Capital no Correio Braziliense.

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