À queima-roupa // Delegado Sandro Avelar, Diretor-executivo da Polícia Federal (PF)
por Ana Maria Campos
O diretor-executivo da Polícia Federal (PF), Sandro Avelar, acompanhou de Brasília todo o trabalho de buscas e investigações sobre o bárbaro crime na Amazônia que resultou na morte do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. Ele esteve em contato com as famílias das duas vítimas e com as equipes em campo na região do Vale do Javari e ontem recebeu os corpos em Brasília para perícia no Instituto Nacional de Criminalística. Avelar entende bem a repercussão mundial pelos assassinatos, uma vez que morou entre 2018 e 2021 em missão como adido da PF em Londres. Mas, em entrevista à coluna, afirma que a PF entrou de imediato na história, antes de qualquer pressão internacional e sustenta que é momento, sim, de ressaltar o empenho e o sucesso das forças de segurança na elucidação do caso, levando-se em conta a imensidão da Amazônia e sua complexidade. Para Avelar, esse trabalho mostra ao mundo que as instituições funcionam no Brasil.
Como foi possível localizar os corpos de Bruno Pereira e Dom Phillips num local tão inóspito, a três quilômetros mata adentro?
Os corpos foram localizados em razão de um belíssimo trabalho de investigação que rapidamente identificou uma das pessoas que participaram do crime e por meio dessa pessoa conseguiu identificar, naquela imensidão, os corpos que jamais seriam encontrados, caso não tivesse uma informação tão precisa.
A Polícia Federal agiu por pressão internacional ou tomou providências imediatas?
Não só a Polícia Federal como também forças componentes da segurança pública do estado do Amazonas e das Forças Armadas atuaram de imediato, de maneira integrada. E coordenadas pela Polícia Federal, nesse formato de força-tarefa, fizeram um trabalho belíssimo. Os resultados apareceram. Muitos não acreditavam que esses corpos um dia poderiam ser localizados e que esse crime pudesse ser esclarecido. O sucesso dessa missão é algo que se deve a esse esforço conjunto e rápido. Então, não é verdade que esse empenho veio a acontecer a partir de pressões internacionais. Quem fala isso tenta politizar, desviar o foco do excelente trabalho realizado pelos profissionais envolvidos nessa missão.
O crime está solucionado?
O Amarildo, vulgo Pelado, admitiu a participação no crime, ao menos no que toca à ocultação do cadáver. A versão dele está sendo investigada, mas não é a única que está sendo considerada pela Polícia, que trabalha com diversas hipóteses. Agora, que ele efetivamente participou do crime, isso é fato, tanto que ele nos levou até o local onde os corpos estavam enterrados.
Qual foi a participação dos indígenas nas buscas? Como eles ajudaram?
Os indígenas ajudaram de várias maneiras. Ajudaram prestando informações importantes para a identificação das pessoas, ajudaram indo a campo durante as buscas e ajudaram, sobretudo confiando e participando do trabalho que vinha sendo desenvolvido pelas forças envolvidas na força-tarefa.
Você passou três anos representando o Brasil em Londres como adido da PF. Qual é a imagem que nosso país tem, em termos de segurança, no Reino Unido?
O Reino Unido tem uma visão do Brasil de um país muito violento, até porque a realidade deles é muito diferente. A maior parte das vítimas de crimes violentos no Reino Unido são vítimas de armas brancas, facas e etc, e em números muito mais baixos que para eles já dá o tom de epidemia. Quando há em Londres, por exemplo, cinco mortes em um mês por faca, a imprensa já publica a notícia num tom extremamente alarmista. São realidades muito diferentes. Infelizmente, não é só o Reino Unido que vê o Brasil com esses olhos. O mundo inteiro nos vê assim porque nós efetivamente somos um país muito violento.
Como um crime bárbaro como esse abala a credibilidade do Brasil?
Eu vejo de duas formas: a primeira é o absurdo de um crime como esse. Por razões tão banais perder duas vidas, o que realmente é chocante para o mundo inteiro. A segunda forma de ver é que nós mostramos para o mundo inteiro que aqui as instituições funcionam, o nosso trabalho é sério e raríssimas forças de segurança do mundo, raríssimas polícias do mundo solucionariam esse crime, especialmente em se tratando de uma região cuja imensidão só quem conhece tem noção do que é. Então, o mérito de esclarecer esse crime talvez seja maior e melhor para a credibilidade do país do que o fato em si. Agora isso depende também da maneira como for explorado. Se não houver esse reconhecimento inclusive por parte da imprensa, de que esse trabalho é digno de elogios, que mostra que as forças de segurança pública, assim como outras instituições, estão funcionando, nós mesmos estaremos alimentando perante o mundo inteiro uma imagem negativa do país.
A Polícia Federal está dando assistência às famílias?
A Polícia Federal está dando todo o apoio às famílias, se comunicando com os familiares do Bruno e do Dom, sempre antes que as notícias sejam divulgadas. Também a Embaixada do Brasil em Londres e a do Reino Unido em Brasília estão em contato permanente conosco. Estamos informando pessoalmente às famílias todo o avançar das investigações, inclusive tivemos o cuidado de trazer os corpos para Brasília para fazer os exames o mais rapidamente possível, para tentar de alguma maneira amenizar a dor dessas famílias.
Você é um delegado experiente. Quem mandou matar Bruno e Dom?
Justamente por ser experiente é que não vou me arriscar a dizer quem mandou matar Bruno e Dom ou se alguém mandou matar Bruno e Dom.
Esse crime será um marco para que as autoridades brasileiras assumam o controle da Amazônia há anos tomada por grileiros, garimpeiros, invasores e narcotraficantes?
A questão da Amazônia é muito complexa, não existe solução simples. É um planeta à parte. As soluções são difíceis porque você precisa ocupar e preservar ao mesmo tempo. É importantíssima a presença do Estado — e nesse aspecto as forças de segurança têm procurado criar uma alternativa com esse trabalho conjunto das polícias do âmbito federal, das forças armadas e das forças estaduais, um novo método de se fazer segurança pública promovido pelo Ministério da Justiça.
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