Contrato com Novacap: TCDF suspende certame vencido por empresa da família do presidente da Câmara Legislativa

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Crédito: Breno Fortes/CB/D.A. Press

JÉSSICA EUFRÁSIO

Um contrato firmado em novembro pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) está na mira do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF). O motivo envolve supostas irregularidades no certame que selecionou uma empresa de serviços de segurança em nome da mãe do presidente da Câmara Legislativa, Rafael Prudente (MDB). Na quinta-feira (17/3), o conselheiro Márcio Michel acatou orientação do Ministério Público de Contas (MPC-DF) e suspendeu temporariamente o andamento do certame que selecionou a firma.

Assinada pelo titular da Terceira Procuradoria de Contas do Distrito Federal, Danilo Morais dos Santos, a representação com esse pedido chegou ao TCDF na segunda-feira (14/3). A licitação sob análise trata da contratação por R$ 3,7 milhões dos serviços de rastreamento e monitoramento por GPS oferecidos pela Multi — Segurança Eletrônica e Patrimonial.

Entre os argumentos para pedir a anulação do pregão eletrônico vencido pela empresa, o procurador destacou a existência de irregularidades como: não realização de teste de solução previsto no edital; ausência de capacidade técnica para execução dos serviços; além de falhas “insanáveis” entre procedimentos da fase interna e o que estabeleciam as normas do certame.

Questionamentos

Outros itens do edital teriam prejudicado a participação de mais empresas na concorrência, que teve apenas três interessadas. O titular da Terceira Procuradoria de Contas menciona a existência de falhas na orçamentação associadas a problemas de clareza e coerência em cláusulas do termo de referência do contrato e do documento de convocação das interessadas.

O serviço previa a montagem de uma nova central de monitoramento, para rastreio de uma frota de 1.180 veículos e do maquinário da Novacap, bem como a contratação de 22 funcionários terceirizados. Após a divulgação do resultado da licitação, uma das duas concorrentes recorreu da decisão e apontou problemas no edital, além de divergências entre os equipamentos disponibilizados pela empresa vencedora do certame.

Por ordem da Novacap, o recurso foi negado, e o processo licitatório continuou. No entanto, ainda depende de homologação para ser concluído. Na decisão, o TCDF paralisou o pregão eletrônico “no estágio em que se encontra” até que haja nova manifestação da Corte, dando cinco dias à Novacap e à Multi para apresentarem explicações sobre o que consta na recomendação do MPC-DF.

A respeito do caso, a assessoria do deputado informa, em nota, que o parlamentar não responde pelos negócios da família. “Ele se afastou de todas as empresas em 2014, quando resolveu se candidatar para deputado distrital”, diz o texto.

Locação de prédio

A Multi Segurança abriu em 1995. Em 2017, a empresa foi investigada no TCDF por supostas irregularidades na locação de um prédio no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) à Defensoria Pública do Distrito Federal (DPDF), ao custo de R$ 1,5 milhão. O processo havia ocorrido com dispensa indevida de licitação e uso de critérios inadequados para a escolha da empresa, segundo as apurações iniciais.

Após diligências, assim como as apresentações das defesas da DPDF e da empresa, o processo acabou arquivado, em 2018. O contrato firmado em 2015 com a Multi continua em vigência e, em 10 de dezembro, foi renovado pelo sexto ano consecutivo; desta vez, por mais cinco anos. Em 2022, o valor mensal do aluguel somado ao Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) ficou em R$ 107.542,51.

Em relação a esse contrato, a DPDF respondeu que o arquivamento se deu pelo reconhecimento por parte do TCDF de que “a locação do imóvel obedeceu a todas as exigências legais, foi precedida de aviso de procura de imóvel publicado no Diário Oficial do Distrito Federal, atendeu aos parâmetros de mercado e, entre as opções apresentadas, revelou-se adequado ao atendimento das finalidades precípuas da Administração, além de ter levado em consideração as específicas condições operacionais de instalação”.

A coluna ainda aguarda posicionamento a respeito dos contratos por parte da Multi e da Novacap. O texto será atualizado com as respectivas respostas assim que recebidas pela reportagem.

Ana Maria Campos

Editora de política do Distrito Federal e titular da coluna Eixo Capital no Correio Braziliense.

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