Chico Leite: “O direito de quem não quer se vacinar não pode se impor sobre o de todos os outros”

Compartilhe

À Queima Roupa // Ex-deputado Chico Leite, procurador de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT)

Por Ana Maria Campos

Existe uma polêmica dentro do MPDFT sobre vacinas infantis. Qual é a sua opinião?
Não posso falar pelo MP. Somente a Procuradora-Geral de Justiça pode fazê-lo. E, para questões relativas à pandemia, ela cuidou de designar uma força-tarefa, conduzida, com a competência habitual, pelo procurador distrital dos direitos do cidadão, José Eduardo Sabo Paes, cuja posição a respeito foi expressada em relatório público, em que incentiva e recomenda a imunização de crianças de 5 a 11 anos, e ressalta a necessidade de aceleração da vacinação, com a absorção de mais idades, e de uma abrangência maior, integrando outros postos de saúde e unidades básicas de atendimento.

Por que, na sua avaliação, há tantos embates relacionados à pandemia?
Passamos por um período, no país e no mundo, de desafio inesperado à nossa cultura civilizatória, aos direitos que conquistamos e às instituições democráticas. Quem imaginou, algum dia que, em plena guerra contra um vírus perverso — que nos fez perder mais de 620 mil concidadãos —, autoridades da República pudessem fazer campanha contra medidas sanitárias preventivas, aventar que a liberdade era mais importante que a vida e a economia que a saúde, prescrever drogas sem eficácia científica comprovada e lançar descrédito aos imunizantes? Sou de um tempo em que mamãe me levava pra vacinar. Hoje as crianças precisam lutar pela vacina.

O DF tem adotado uma política adequada no combate à covid?
Elogiáveis a agilidade e o pioneirismo das providências. Pena que a Secretaria de Saúde tenha voltado às páginas policiais. Falta ainda um compromisso mais assertivo com o passaporte da vacinação, porque o direito de quem não quer se vacinar não pode, autoritariamente, se impor sobre o direito de todos os outros que não querem pegar a doença, e um reconhecimento maior aos servidores da saúde, heróis
desses dias difíceis.

Tem saudades dos mandatos parlamentares?
Procuro sempre viver intensamente as missões que a vida me dá, exatamente para não ter saudade depois. Agora estou apaixonado pelas atividades que exerço na 11ª Procuradoria de Justiça e na 1ª Câmara Criminal.

Pretende disputar a próxima eleição?
Em 2022, cumprirei uma função igualmente honrosa, a de um eleitor seletivo.

Vai apoiar alguém?
Estou afastado da política partidária. Minha militância é pelas causas enumeradas no art. 129, da CF, as funções do Ministério Público. Mas, quando posso, estimulo as pessoas honestas e capazes a concorrer. Está na hora, por exemplo, do senador Reguffe aceitar a caminhada para o GDF, um sonho da minha geração. Joe Valle e Cristovam Buarque precisam voltar. A sociedade, a duras penas, já aprendeu que, na política como na vida, o autointitulado novo só por fora pode esconder uma senilidade muito nociva por dentro.

Qual a sua opinião sobre o fim da Lava-Jato?
O combate à corrupção continua. Importa a ação, não o adjetivo. Veja o trabalho da Gaeco aqui, com independência, impessoalidade e determinação. É que houve um tempo em que o crime parecia definido pelas câmeras de televisão; agora, não: é pelas provas dos autos e pelo enquadramento típico do Código Penal. E o tempo de uma investigação responsável e próspera nem sempre coincide com a ansiedade da gente.

Acha que Deltan Dallagnol será um bom representante do MP no Congresso?
O MP é representado no Legislativo por todos aqueles que comunguem com as causas que ele tem por função constitucional defender. Olhe o modelo da votação do substitutivo à recente PEC 05/2021 (que altera a composição do CNMP). Ele foi derrotado em plenário, mas sabemos de parlamentares, inclusive do DF, que cultivavam uma retórica simpática e tentadora, mas votaram a favor da fragilização das nossas prerrogativas.

Ana Maria Campos

Editora de política do Distrito Federal e titular da coluna Eixo Capital no Correio Braziliense.

Posts recentes

Poupança-Escola, programa criado no DF, vira Bolsa Pé de Meia

Sancionado ontem pelo presidente Lula, o projeto que ficou conhecido como “bolsa pé de meia”…

10 meses atrás

Plano de policiamento da Esplanada: previsão é de paz no próximo 8 de janeiro

Está tudo pronto no plano de policiamento da Esplanada dos Ministérios para o 8 de…

11 meses atrás

Em uma semana, quase 800 mil pessoas aderiram ao Celular Seguro

Um dos programas de destaque do Ministério da Justiça e Segurança Pública é o Celular…

11 meses atrás

De olho em 2026: Celina desponta como possível candidata, mas vice é dúvida

Por Luana Patriolino (interina) - O ano ainda nem acabou, mas as movimentações para as…

11 meses atrás

Damares pode prejudicar Celina se decidir concorrer ao Buriti

Entre os possíveis candidatos ao Palácio do Buriti em 2026 está a senadora Damares Alves…

11 meses atrás

Kokay foi única parlamentar do DF a votar a favor do fim da desoneração da folha

A deputada federal Érika Kokay (PT) foi a única parlamentar do DF a votar a…

11 meses atrás