Eric Seba: “Precisamos mudar urgentemente a forma de fazer política no DF”

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À queima roupa // Eric Seba, ex-diretor-geral da Polícia Civil do DF

por Ana Maria Campos

Depois de três anos fora da PCDF, o que mudou? Na sua opinião, houve avanços?
Nos últimos três anos, procurei me manter distante, mas, apesar disso, recebo muitas mensagens. Várias delas lamentando mudanças negativas que teriam ocorrido da gestão anterior para a atual. Várias aquisições (como viaturas e armas), reformas de prédios e outras tiveram seus processos iniciados na gestão anterior e concluídos na atual. A máquina como um todo continuou andando, me parece sem muitas novidades.

A atual gestão implantou as delegacias abertas durante 24 horas. Por que não funcionava assim antes?
A questão do plantão 24 horas é tema bastante complexo. A existência dele implica necessariamente na composição de uma equipe completa (com delegados, agentes e escrivão) com o objetivo de iniciar imediatamente investigações sobre crimes, em especial os mais graves. Não é o que ocorre atualmente. Apesar de termos registrado o maior número de nomeações, comparando os últimos quatro governos, o quadro de servidores está muito defasado. Tentamos implantar o serviço voluntário gratificado, que manteria os plantões funcionando (que possibilitou funcionar atualmente), mas por obstáculos diversos, inclusive da oposição, não foi possível. Para não parar as investigações, tivemos que optar por trabalhar com parte das delegacias sem plantão 24 horas. Se não me engano, mantivemos 17 delegacias funcionando 24 horas.

Há anos, os policiais civis esperam pela paridade. Acha que agora sai?
Se não fosse a manipulação de oportunistas e intransigência de lideranças de classe, a paridade poderia ser uma realidade. Havia várias questões políticas que interferiram negativamente no processo, por isso buscamos uma mediação judicial. Com o apoio do Ministério Público, foram feitas várias propostas perante o Judiciário, também extremamente sensível à questão, mas infelizmente todas foram rechaçadas em assembleias. Certo que a paridade nunca foi tema simples, tanto que o atual governo prometeu implantar no primeiro mês e até hoje nada. Circulou esta semana que deverá sair alguma coisa de aumento no ano que vem, mas sem alcançar a paridade. Na minha opinião, assim como o das 32 categorias, movimento meramente eleitoreiro.

Um reajuste agora pode ajudar na reeleição de Ibaneis Rocha?
Com certeza, na cabeça de políticos fisiologistas, qualquer afago em termos de aumento salarial para funcionário público é uma forma de robustecer seu intento eleitoreiro. Não acredito que fará muita diferença no resultado final das eleições. O atual titular do Buriti já mostrou que de novo não tem nada. Adepto da velha política. O povo não é mais bobo.

Como você avalia hoje, três anos depois de se aposentar, a relação do governo Rollemberg com a Polícia Civil do DF?
A relação do governo Rodrigo Rollemberg com a Polícia Civil foi marcada por amor e ódio. As pessoas sabem que ele e sua equipe foram probos. O preço político por ter feito escolhas técnicas em detrimento das politiqueiras foi alto. O que mais pesou em desfavor foi a questão da paridade. A maioria enxerga atualmente que houve muita manipulação durante o processo. Interesses políticos, de informação, manipulação, etc. Uma infinidade. As lideranças daquela época hoje estão caladas, simplesmente porque o interesse da instituição, dos servidores ou o interesse público nunca foram a pauta principal.

Quais são seus planos para o futuro?
Tenho convicção de que me aposentei de forma prematura. Ainda quero trabalhar bastante. Quero uma sociedade mais justa e melhor. Fui procurado por algumas lideranças políticas que sinalizaram no sentido de uma candidatura a deputado distrital nas eleições proporcionais. Estou estudando o melhor caminho, mas certo é que precisamos mudar urgentemente a forma de fazer política no DF. A grande razão das chagas sociais reside na corrupção e fatos reiterados e recentes mostram isso. Precisamos combater de forma dura e frequente a corrupção, como iniciamos na nossa gestão quando criamos a estrutura de combate à corrupção, à época a Cecor.

Ana Maria Campos

Editora de política do Distrito Federal e titular da coluna Eixo Capital no Correio Braziliense.

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