Erro pontual? Não, cultural! A velha dificuldade do Brasil de marcar "bola parada". Franck Fife/AFP
A França usou métodos antigos, explorou velhos fantasmas de quem sofre com um problema estrutural mal resolvido desde as categorias de base no masculino e no feminino, ou seja, não saber marcar lances de “bola parada”, e renovou o estoque de carrascos ao confirmar o favoritismo contra o Brasil na segunda rodada do Grupo F na Copa do Mundo. Resultado: terceiro colocado, o Brasil é obrigado a vencer a Jamaica na quarta-feira para não repetir as eliminações precoces na fase de grupos de 1991 e de 1995.
Quem chorou perda de título de 1998 com gols de cabeça do Zidane e ficou de cabeça inchada ao ver Henry completar cobrança de falta para a rede do goleiro Dida nas quartas de final de 2006, hoje está pistola com a falha de posicionamento no lance crucial protagonizado pela jogadora mais alta da Copa Feminina. Com 1,87m, a zagueira Wendie Renard é o pesadelo da vez de um sistema defensivo caótico no lance crucial da derrota por 2 x 1. Aconteceu com Zagallo, Parreira e agora com a sueca Pia Sundhage.
E não falei daquele gol na queda de 2019, quando Majri bateu falta, Amandine Henry desviou para a rede e a França despachou a trupe de Oswaldo Alvarez, o Vadão, na prorrogação. Roteiro sempre repetido.
Enquanto a técnica Pia Sundhage cometia o pecado capital da avareza ao não abrir mão de Marta sentada no banco de reservas até os 85 minutos do duelo contra a adversária mais forte da chave, Hervé Renard apostava na experiência das trintonas Le Sommer (34) e Wendie Renard (33), ambas peritas em destruir a Seleção, para impor o choque de realidade nos pachecos e pachecas de plantão seduzidos pela goleada contra o Panamá e o tropeço das europeias contra a Jamaica na estreia.
Guerra de vaidades à parte, para mim, Pia errou ao não levar Christiane para a Copa. Agora, arrisca pagar caro por deixar Marta como peça de decoração no banco de reservas. A jogadora eleita seis vezes melhor do mundo está pronta para a Copa ou não? Se sim, pode jogar quanto tempo? Isso precisa ficar claro. Não é razoável tratar a camisa 10 apenas como motivadora antes da entrada em campo, a responsável por tocar pandeiro, puxar o samba ou tocar violão para o elenco dançar. Ela não pode estar na última Copa da carreira para ver a banda passar. É a protagonista. A referência técnica precisa entrar em campo. Se não pode devido a alguma limitação física ou médica, urge esclarecer o problema, não abafá-lo.
Traiçoeiro, o futebol enganou quem se empolgou com a goleada da Seleção contra o Panamá por 4 x 1 e se iludiu no empate das gaulesas por 0 x 0 com a Jamaica. Quem viu com lupa a estreia da França conhecia o volume de jogo, a força física, a frieza e a experiência da seleção de Hervé Renard. Apesar do empate sem gols, elas dominaram o confronto. Porém, esbarraram em uma exibição da goleira Rebecca Spencer. A muralha do Tottenham fez cinco defesas incríveis. Todas dentro da área. Foram 14 finalizações azuis contra seis das caribenhas.
O triunfo foi costurado pela França com a delicadeza de quem decifrou cada linha do engessado sistema 4-4-2 de Pia Sundhage. As oponentes fizeram o óbvio: Sufocaram as laterais Antônia e Tamires, obrigaram as pontas Adriana e Ary Borges a auxiliá-las, ou seja, neutralizaram a possibilidade de transição rápida do Brasil, e se impuseram tecnicamente e fisicamente no meio de campo nas batalhas com Luana e Kerolin.
Dominado no início do primeiro tempo, o Brasil viu os papéis invertidos. Em uma comparação com a estreia, comportou-se como o Panamá, acuado no sistema defensivo, e viu a França se comportar como a Seleção na estreia. A goleira Letícia Izidoro suportou a pressão enquanto foi possível.
Aí, entraram em cena as carrascos do jogo. A centroavante Le Sommer chegou ao duelo com dois gols em confrontos com o Brasil, ambos em amistosos disputados em 2013 e em 2014. Marcou o terceiro, o 90º dela em 182 exibições com a temida camisa azul. O Brasil poderia ter empatado com Adriana. Ela recebeu passe sozinha, na entrada da área, e isolou a bola. Desperdício inaceitável em um duelo de altíssimo nível contra a França.
Sacrificada no sistema tático de Pia, Debinha teve de se comportar quase o jogo inteiro como arco e flecha. Era obrigado a deixar a área para marcar e construir. Nas horas vagas, batia o ponto na frente. Foi assim no lance do gol de empate. Quem com camisa nove fere, com uma camisa 9 será ferida. O troco vere-amarelo foi na mesma moeda.
No fim da partida, o Brasil não pagou por um erro pontual, mas, sim, estrutural. A Seleção perdeu uma Copa com dois gols de cabeça em cobranças de escanteio porque não soube marcar Zidane na final de 1998. Abriu-se debate até em CPI no Congresso Nacional sobre quem deveria marcar Zidane. Foi eliminado nas quartas de final do Mundial de 2006 ao deixar Henry cara a cada com Dida depois da cobrança de falta de Zidane. O vilão da época foi Roberto Carlos, acusado de arrumar o meião enquanto Henry partida sozinho para fazer o gol da vitória.
A França usou o velho truque, antigos fantasmas e a Seleção caiu na armadilha. Selma Bacha encontrou a jogadora de linha mais alta da Copa do Mundo livre na área. A zagueira de 1,87m Wendie Renard não perdoou. Balançou a rede verde-amarela pela terceira vez na carreira. As críticas recaem sobre Antônia. A lateral admite a falha no lance crucial. Renard vive dia de carrasco. Ela também havia marcado nos amistosos de 2015 e de 2018. Dos 35 gols da defensora na carreira, três são contra o Brasil — a maior vítima da estrela. O Brasil despencou para o terceiro lugar na classificação. É obrigado a vencer a Jamaica para avançar às oitavas de final. Do contrário, voltará para casa. Que drama!
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