Santos Cássio foi um dos alvos dos rojões na Vila Belmiro. Foto: Fernanda Luz/Estadão Conteúdo Cássio foi um dos alvos dos rojões na Vila Belmiro. Foto: Fernanda Luz/Estadão Conteúdo

Violência dentro e fora do alçapão pode empurrar Santos Série B abaixo

Publicado em Esporte

Os anos mudam, os métodos de vandalismo, não. Você lembra um dos motivos do pedido de demissão do técnico argentino Ariel Holan do Santos, em 2021? Rojões detonados contra o apartamento dele, no litoral paulista. O presidente Andres Rueda contou a história à época.

 

Rojões provocaram a confusão generalizada na eliminação do Santos da Copa do Brasil no ano passado, na Vila Belmiro. O alvo era Cássio. O goleiro também levou chute dentro do gramado. Um torcedor invadiu o campo para atacá-lo. Foguetes anteciparam o fim do jogo na Vila Belmiro nessa quarta-feira. O Corinthians vencia por 2 x 0 quando a fúria da torcida anfitriã, dentro e fora do alçapão, impediu a continuidade da partida pelo Brasileirão, aos 42 do segundo tempo.

 

O novo capítulo da revolta é desproporcional ao desempenho na temporada. Algum torcedor do Santos esperava, sinceramente, a conquista de algum título em 2023? A realidade nua e crua do clube é viver um jogo de cada vez para permanecer na Série A. Esse é o campeonato à parte do Alvinegro Praiano.

 

A expectativa jamais foi título. Se alguém prometeu isso, iludiu o torcedor. As prévias dos guias do Brasileirão foram sinceronas. Apontavam o Peixe como candidato ao rebaixamento. Na prática, o time faz uma campanha de superação. Está alojado no meio da classificação. A cinco pontos de distância do Z-4. Os quatro piores da Série A entrarão em campo nesta quinta-feira. Sim, podem reduzir a distância. A culpa não é somente da diretoria, da comissão técnica e dos jogadores. A torcida tem parcela nisso.

 

O Santos não se classificou para as quartas de final do Paulistão, foi eliminado pelo Bahia nas oitavas da Copa do Brasil, está por um triz na Sul-Americana, mas a facção vândala da torcida precisa entender que o campeonato do time, em 2023, é o Brasileirão. Se o time cair pela primeira vez para a segunda divisão, a culpa também será dos baderneiros irresponsáveis.

 

O Superior Tribunal de Justiça Desportiva nunca esteve tão engajado em punições severas para questões como manipulação de resultados, preconceitos de todos os níveis, como racismo e homofobia, e violência nos estádios. O Santos deve se dar por satisfeito se o STJD determinar, no mínimo, uma sequência partidas com portões fechados na Vila Belmiro. A tendência é o time sequer continuar mandado partidas no litoral paulista. Afinal, a barbárie invadiu as ruas de Santos. A torcida pavimentou o caminho do clube rumo à Série B e deve ter consciência disso.

 

A punição ao Santos será um balizador para o restante do campeonato. Além do castigo, a CBF, organizadora do Brasileirão, deve cobrar dos clubes vigilância ostensiva no acesso aos estádios. Até quanto permitirão a entrada de rojões, sinalizadores e até faca, como vimos recentemente no duelo entre São Paulo e Palmeiras na Copa São Paulo de Futebol Júnior.

 

Nos últimos 10 anos, o Brasil recebeu uma Copa das Confederações (2013), uma Copa do Mundo (2014), Jogos Olímpicos do Rio-2016, duas edições da Copa América, uma final da Libertadores e o Mundial Sub-17. Os padrões Fifa, Conmebol e COI de tratar eventos esportivos com segurança rígida viraram piadas nacionais. Eram considerados exagero. Desdém de um país que insiste em dar de ombros para para a organização e prefere a esculhambação. O quanto pior, melhor.

 

E pensar que, há cinco meses, o campo da Vila Belmiro era exibido ao mundo como palco do adeus ao Pelé.

 

O Rei não merece isso.

 

Twitter: @marcospaulolima

Instagram: @marcospaulolimadf

TikTok: @marcospaulolimadf