Atual número 1 do mundo no Fifa The Best, Vinicius Junior é um senhor jogador, mas uma característica dele costuma incomodar os técnicos: a displicência com a marcação em tempos de futebol altamente competitivo. Isso incomodava Tite na Copa do Mundo de 2022. Ao privilegiar Neymar, ele desejava aplicação tática de Vini na ponta esquerda.
Xabi Alonso também confia, desconfiando. Prova disso é comportamento sem a bola de Vini na vitória deste domingo do Real Madrid por 2 x 1 contra o Barcelona, no Santiago Bernabéu. Com a bola, azucrinou a defesa adversária. Sem a posse, não combateu o lateral-direito Koundé e Lamine Yamal como deveria em vários trechos do clássico espanhol.
O treinador espanhol trocou Vinicius Junior por Rodrygo por essa razão. O Barcelona iniciava a pressão em busca do empate e o fechamento de espaço do lado esquerdo da defesa do time merengue começava a fraquejar. Demandava mais aplicação do atacante brasileiro.
Vinicius Junior funcionou sob o comando de Carlo Ancelotti porque o italiano o blindou praticamente no 4-4-2 na parceria com Benzema e depois na função de par de Rodrygo após a transferência do francês para a Arábia Saudita. A contratação de Xabi Alonso e a consolidação de Mbappé como referência mudou a hierarquia e incomoda Vinicius Junior.
Isso não justifica o questionamento público sobre a substituição arriscando jogar a torcida contra o técnico, os xingamentos a Xabi Alonso, o desrespeito ao amigo Rodrygo na saída do gramado e muito menos a confusão protagonizada com Lamine Yamal no encerramento. O dia de fúria de Vinicius Junior é inaceitável. Perdeu totalmente a razão.
Vinicius Junior é veloz, dribla, desata nós, quebra linhas, mas a deficiência na marcação mexe até no tabuleiro da Seleção. Observou? Carlo Ancelotti vem escalando o xodó no papel de falso nove, ou seja, menos preso ao fardo de marcar. Estêvão, Rodrygo e Matheus Cunha assumem essa responsabilidade, como na goleada por 5 x 0 contra a Coreia do Sul.
Xabi Alonso acumula 19 jogos como técnico do Real Madrid. Vinicius Junior foi titular em 16. Média de 75 minutos por partida. Atuou do início ao fim em apenas quatro. Fez seis gols e deu seis assistências. Tão ou mais importante do que os números são os relacionamentos humanos. Eles constroem — e destroem — o vestiário. Xabi e Vini precisam se acertar.
O espanhol não tinha jogador do tamanho de Vinicius Junior, Mbappé, Bellingham e Rodrygo no Bayer Leverkusen. Jogou com Cristiano Ronaldo, Benzema, Xavi, Iniesta, mas agora ele é o técnico e precisa aprender a lidar com ego, vaidades que inclusive ele tinha nos tempos de volante.
Em contrapartida, Vini precisa atender ao nível de exigência do novo treinador. A era Carlo Ancelotti no Real passou. Ele tinha dificuldades nas finalizações. Evoluiu muito e faz gols. Por que não dedicar-se ao entendimento tático do jogo sem a bola? Simples assim.
No que diz respeito a Carlo Ancelotti, o italiano precisa deixar claro a Vinicius Junior e a Rodrygo que os problemas do Real ficam em Madri. Rodrygo pode ficado chateado com o colega. Desrespeitado pelo aborrecimento do camisa 7 com a saída do time para a entrada dele. A crise de lá não pode abrir outra aqui na Seleção a pouco mais de 200 dias da Copa.
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