O desfecho do Mineiro, Paulista, Gaúcho e Carioca na semana de abertura do Campeonato Brasileiro tira do fundo do baú o surrado debate sobre a capacidade de os vencedores dos quatro estaduais mais badalados do país transportarem seus desempenhos para as competições nacionais. Vou direto ao ponto: campeões domésticos neste fim de semana, Atlético-MG e Palmeiras são, sim, favoritos ao título da Série A. O Grêmio também é candidatíssimo a conquistar a Série B pela segunda vez — a primeira foi em 2005. E não, não vejo o Fluminense, hoje, com bala na agulha para peitar os mais ricos e badalados elencos do país em 38 rodadas na elite. A conquista contra o Flamengo é gigante, óbvio, mas é preciso festejá-la com moderação quando o assunto é a projeção do que o elenco de Abel Braga é capaz de fazer em sete meses de maratona do Nacional. Vamos por partes.
Atual campeão da Copa do Brasil, do Brasileirão e tri do Mineiro, o Atlético-MG partirá como o time a ser batido na Série A. Há um porém: o Galo não foi tão testado no estadual como o Palmeiras. O principal concorrente ao título brasileiro se impôs em uma sequência de três clássicos duríssimos contra Santos, São Paulo e Corinthians no fim da primeira fase e depois protagonizou virada incontestável contra o tricolor paulista na decisão do título. Perdia o jogo da ida por 3 x 1 e virou para 5 x 3 dentro do Allianz Parque. Impressionante.
O Atlético não teve concorrência no Mineiro. É um timaço, mais forte agora depois do retorno de Júnior Alonso e de reforços como Otávio, mas o time não esteve tão bem no principal confronto do ano — a final da Supercopa do Brasil contra o Flamengo. Sofreu, fez o adversário sofrer e ganhou o primeiro título do ano em uma virada nos pênaltis. O Cruzeiro jogou no limite no primeiro clássico do ano e perdeu por 2 x 1 com direito a decisão polêmica da arbitragem. O Galo sobrou na final em jogo único e fez 3 x 1.
Campeão paulista pela segunda vez em três anos, o Palmeiras é um dos favoritos ao título do Campeonato Brasileiro se Abel Ferreira quiser. O lusitano prefere as copas. Ficou em sétimo na Série A em 2020 e em terceiro no ano passado, atrás do vice Flamengo e do campeão Atlético-MG. O alviverde tem pela frente o desafio de um tricampeonato na Libertadores — o que não acontece desde o tetra do Independiente de 1972 a 1975.
Faço apenas uma ponderação em relação à sequência da temporada do Palmeiras. O fato de o time paulista ter largado na frente dos demais para a disputa do Mundial de Clubes da Fifa fez com que o alviverde atingisse alto nível de competitividade antes dos principais concorrentes do país. Tenho a impressão de que, principalmente o Atlético-MG, apresentará um futebol mais forte a partir de agora. O Mineiro não exigiu excelência do elenco alvinegro.
Quanto ao Fluminense, o título em cima do Flamengo mostra potencial, mas vale fazer algumas ponderações. O tricolor não enfrentou a melhor versão rubro-negra. Soube tirar proveito, com todos os méritos, de um arquirrival bagunçado. Bom lembrar, também, que o campeão carioca foi eliminado pelo Olimpia na terceira fase da Pré-Libertadores e esteve a alguns minutos da queda na semifinal do estadual contra o Carioca. São altos e baixos.
Há dois pontos a considerar. O insucesso na tentativa de entrar na fase de grupos da Libertadores permite ao Fluminense dedicar-se mais às rentáveis Libertadores e Copa do Brasil, e levar a Copa Sul-Americana em banho-maria. Outra possibilidade é dedicar-se de corpo e alma a um título internacional, algo muito relevante na história do clube.
Abel Braga tem um elenco experiente para brigar pelo título. Fez muito, com pouco, em 2020, no Internacional. Herdou um time semi-pronto de Eduardo Coudet, deu cara dele ao time e levou o colorado ao vice-campeonato nacional, um ponto atrás do Flamengo.
Costuma-se dizer que títulos estaduais são uma espécie de “me engana que eu gosto”. Neste ano, há três verdades e uma mentira. Atlético-MG e Palmeiras, campeões em Minas e em São Paulo, já eram e são ainda mais favoritos ao título da Série A. Pentacampeão gaúcho, o Grêmio entrará na B impondo respeito e cotadíssimo não somente a subir, mas ao título. O Fluminense deixa o torcedor desconfiado. Qual será o tricolor no Brasileirão: o da eliminação na Pré-Libertadores ou que se mobiliza sempre para enfrentar o Flamengo?
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