Vanderlei Luxemburgo lembra Alice, aquela personagem do filme Alice no país das maravilhas: é inteligente, articulado e convicto de que sabe quase tudo — e nada mais tem a aprender. Até que um dia, aparece um coelho branco na vida dela. Movida pela curiosidade, Alice topa segui-lo sem pensar nas consequências e se aventura em um mundo diferente, capaz de desafiar a racionalidade, onde precisa se transformar e questionar tudo o que aprendeu.
Sinopse de cinema à parte, Luxemburgo está precisando ver um coelho branco no CT Joaquim Grava. O personagem do filme significa busca por mais conhecimento e obsessão com o tempo. O técnico mais vitorioso em competições de clubes na história do futebol brasileiro necessita urgentemente reinventar-se. Do contrário, o trabalho dele será engolido pelo relógio diante do risco de eliminações na Copa do Brasil e na Libertadores e da fuga da zona do rebaixamento no Campeonato Brasileiro. Não há alternativa que não seja vencer, vencer ou vencer nos três torneios.
As entrevistas de Luxemburgo depois das partidas dão margem a três interpretações: ele está desconectado da realidade, ou seja, em uma bolha, um país das maravilhas no qual somente ele tem a chave e sabe como será o futuro; ou está mais perdido do que cachorro em caminhão de mudança ou usa a ironia para intimidar perguntas curtas e grossas sobre a crise do Corinthians.
Na prática, o trabalho não caminha. O sinal de evolução apresentado na derrota para o Flamengo não se repetiu contra o Argentinos Juniors. O time anfitrião teve um jogador a menos e o Corinthians simplesmente não soube tirar proveito da superioridade numérica para vencer.
A minha percepção indica o seguinte: Vanderlei Luxemburgo pediu 10 jogos de trégua para arrumar o time de trás para a frente. Na cabeça dele, o Corinthians precisa ter uma defesa forte. A retaguarda suportou adversários fortes como Atlético-MG e Flamengo enquanto foi possível e segurou o empate por 0 x 0 com o Argentinos Juniors. Luxemburgo tem insistido na sincronização da defesa. Algo parecido com o que Mano Menezes, Tite e Fabio Carille sempre fizeram.
Enquanto isso, Luxemburgo ganha tempo para ter de volta o jogador que pode transformar os pontos fracos do Corinthians em fortes. Mais uma vez, na cabeça dele, a entrada de Renato Augusto no meio de campo como articulador dará poder de fogo a Róger Guedes e Yuri Alberto. O treinador alvinegro quase sempre entregou a chave do time a um articulador. Ricardinho teve esse papel no Corinthians campeão brasileiro de 1998 e no Santos de 2004. Alex era o rei do pedaço na tríplice coroa do Cruzeiro em 2003. Portanto, Renato Augusto é visto como esse cara.
O azar do engenheiro Luxemburgo é a possível perda de Paulinho. O jogador vinha sendo tratado na cabeça do técnico como novo Rincon. Na primeira passagem pelo Corinthians, ele recuou o jogador para o papel de primeiro volante. Exatamente como posicionou Paulinho nas partidas recentes. No entanto, ele se machucou. Quando a casa parecia ter alicerce, com Paulinho de primeiro volante e uma zaga cada vez mais ensaiada, é hora de buscar um substituto.
Luxemburgo vive no país das maravilhas. O tempo vitorioso que ele deixou no passado e aplaudimos de pé. Neste momento, bom seria que ele visse o coelho branco para transformar a vida como ela é do Corinthians o mais rapidamente possível. Competência ele tem para isso. Não sabe tudo nem desaprendeu, mas precisa entender como é bacana dar um F5 no saber.
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