Vai nessa, Leonardo Moura! No dia do adeus do capitão e lateral-direito ao Flamengo, a entrevista concedida pelo camisa 2 em 2013

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Entrevista publicada em 25/5/2013 no Correio

Você defendeu os quatro grandes do Rio, mas se identificou com o Flamengo. Por que o casamento com o rubro-negro dura tanto tempo? Sou torcedor do Flamengo desde pequeno. Cheguei a entrar no Maracanã como mascote de mãos dadas com o Zico quando era criança, essa identificação sempre foi natural. Além disso, consegui conquistar meu espaço, conquistei títulos e com o tempo esse casamento foi ficando mais forte.   Qual foi a proposta mais tentadora que você recebeu nesse período? Quando esteve mais perto de sair? Ano passado (2012) recebi uma proposta do Cruzeiro e cheguei a achar que minha história no Flamengo poderia chegar ao fim. Tinha contrato em vigor e o Flamengo não aceitou negociar.   O que faltou para Vasco, Botafogo e Fluminense segurá-lo? Cada clube teve sua peculiaridade, eram momentos diferentes, recebi boas propostas para mim e para os clubes. Além disso, o Flamengo me valorizou, reconheceu meu trabalho e fui renovando os contratos ao longo dos anos.

Qual é a sensação de vestir a camisa 2 que, por muito tempo, foi do Jorginho, do Leandro? Como já era torcedor do clube, conseguir me firmar, conquistar títulos e escrever história no Flamengo. É muito especial. Ainda mais num clube com tradição de grandes laterais. Uma honra.

Neymar é o cara que deve jogar ali pelo seu setor aqui em Brasília. Prefere que ele anuncie logo a ida para a Europa nesta semana ou quer tê-lo como adversário no Mané Garrincha? (Os dois se enfrentaram em 26 de maio de 2013, no 0 x 0 que marcou a reinauguração do Mané Garrincha e a despedida de Neymar do Santos. Leonardo Moura deu conta do recado e anulou o menino da Vila). Já enfrentei o Neymar algumas vezes. Acho que todo grande jogador como ele a gente tem que respeitar, mas encarar. É melhor para o espetáculo. Como amigo, torço para que aconteça o que for melhor para ele. (Na véspera do jogo, Neymar anunciou a transferência do Santos para o Barcelona).

 Você veio recentemente a Brasília como embaixador do Flamengo. Qual é o segredo para atingir esse status que nem ídolos como Adriano, Ronaldinho Gaúcho e Vagner Love alcançaram? Com trabalho. O torcedor é apaixonado pelo seu clube e o do Flamengo mais ainda. Eles valorizam o jogador que honra a camisa, que corre, se dedica e busca sempre o algo a mais. Acho que consegui conquistar o carinho deles com dedicação.   Por que o Ronaldinho Gaúcho não vingou com a camisa rubro-negra? Para quem não viveu a situação é complicado opinar. O clube tinha seus argumentos, Ronaldinho tinha os dele. Infelizmente foi uma passagem rápida.   No tempo que você está no Flamengo, o time teve Celso Roth, Andrade, Joel Santana, Valdir Espinosa, Waldemar Lemos, Ney Franco, Caio Júnior, Cuca, Rogério Lourenço, Silas, Vanderlei Luxemburgo, Dorival Júnior, Jorginho… O que explica esse entra e sai? Quem foi o melhor para o clube na sua opinião? Cada técnico trouxe coisas positivas. Uns valorizaram a prata da casa, revelaram atletas, outros acrescentaram algo importante para a estrutura do clube, outros foram campeões. É difícil apontar o melhor, Cada um contribuiu da sua maneira com o elenco e estrutura que tinha em mãos.   O que faltou para você se firmar na Seleção do Dunga depois daquele amistoso contra a Irlanda e disputar um Mundial? É uma frustração? Naquela época, a Seleção estava muito bem servida na minha posição. Maicon estava jogando muito bem, Daniel Alves voando. Claro que acho que poderia ter tido mais oportunidades. Acho que correspondi quando fui chamado. Infelizmente, não tive sequencia. Fica a sensação de que poderia ter ido mais longe na Seleção, mas não tenho mágoa de ninguém.  Foi uma felicidade enorme realizar o sonho de vestir a camisa da Seleção.    Por que estamos carentes de laterais direitos depois das eras Jorginho e Cafu? Há uma crise nas divisões de base dos clubes do país inteiro? Acho que o Brasil ainda tem bons laterais. Mas acredito que nas categorias de base é cada vez mais difícil um jogador querer se especializar ali. Todos querem jogar do meio para a frente. Garoto geralmente não gosta de marcar, quer ficar mais perto do gol. Com isso, acaba ficando mais difícil revelar laterais.   Você recentemente se tornou evangélico. Em algum momento tentou ajudar, por exemplo, o Adriano, a procurar outro caminho, ou seja, a tentar uma mudança de vida a partir da fé? Como amigo, procurava conversar e tentar ajudá-lo no que ele precisasse. Até porque a família dele também é evangélica e sabia que tinha a liberdade para uma conversa. Mas sempre respeitei seu espaço. Falava do que eu achava importante para mim, mas sem querer obrigá-lo a nada ou ultrapassar um limite.   O que mudou na vida do Leonardo Moura ao virar evangélico? Nossa! Muita coisa. Ficaria aqui o dia todo falando. Mas resumidamente, a maneira de encarar a vida, a importância da família. Só me fez bem.   Qual é a sua opinião sobre o futebol do Rafinha, um jogador que praticamente cresceu aqui em Brasília? Ele é meu companheiro de quarto, estamos sempre juntos. É um garoto maravilhoso, bem centrado, boa cabeça e que não vai se deslumbrar. É tecnicamente muito bom, está fazendo um trabalho para ganhar corpo e aguentar mais os trancos que recebe agora que ficou visado pelos adversários. Tenho certeza que terá um futuro brilhante.   Leonardo Moura já pensa em aposentadoria? O que você pretende fazer  quando pendurar as chuteiras? Acho que ainda tenho um tempinho para jogar. Procuro não ficar pensando ou sofrendo com o fim da carreira. Quero que ela aconteça de maneira natural. Tenho uma produtora de shows gospel com um sócio que toca o negócio. Eu acabo dando mais um suporte nos momentos de folga. Mas acho que o caminho será investir nessa área musical.