Há 20 anos, Marcos André Batista Santos, o Vampeta, dava cambalhotas na rampa do Palácio do Planalto com uma camisa preta número 9 do Corinthians — sob aplausos perplexos do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Era 2 de junho de 2002. Quando passou por Manaus, o piloto do avião da Varig responsável pelo transporte dos campeões da Copa do Mundo de 2002 avisou que a Seleção acabara de entrar no espaço aéreo brasileiro. No início da aproximação para o pouso em Brasília, souberam que estavam sendo escoltados por caças da Força Aérea Brasileira (FAB) e sobrevoaram baixinho o céu do Distrito Federal.
Coube ao chefe da delegação, Weber Magalhães, ex-presidente da Federação do Distrito Federal, do Gama e ex-vice da CBF, a missão de comunicar ao capitão Cafu a decisão do então presidente Ricardo Teixeira a decisão de passar por Brasília. Havia certa resistência. O cartola reclamava que FHC havia sido ausente na relação com o elenco durante a campanha. Coube ao então ex-governador do Ceará e cacique do PSDB, Tasso Jereissati, convencê-lo a mudar de ideia e alinhá-lo com FHC. O elenco ficou surpreso, topou, mas impôs suas condições.
Os jogadores se recusaram a usar terno e gravata para ir ao Palácio do Planalto. Eles preferiam o conforto do moletom verde com o qual viajaram mais de 24 horas do Japão ao Brasil. A outra reivindicação era que preferiam desfilar em um trio elétrico com a cantora Ivete Sangalo, ao som de Festa, um dos hits da campanha do penta, em vez da convencional viatura do Corpo de Bombeiros. O combinado saiu caro, mas o carnaval fora de época foi organizado exatamente como os foliões a bordo do voo do penta queriam.
Recebidos no Palácio do Planalto depois de uma festa impressionante pelo Eixão Sul, Rodoviária do Plano Piloto e a Esplanada dos Ministérios, os jogadores foram recepcionados por FHC, dirigiram-se à frente da sede do governo para saudar os torcedores posicionados na Praça dos Três Poderes, e aí foi a vez de Vampeta entrar em cena para protagonizar o que havia prometido aos companheiros mais próximos: deu cambalhotas com uma camisa 9 preta do Corinthians na rampa do Palácio do Planalto e chamou mais atenção do que o troféu na tarde histórica no centro do poder.
Em entrevista ao blog (ouça o áudio no fim do post), Vampeta recorda o dia em que ousou quebrar os rígidos protocolos do cerimonial da Presidência da República. “Nunca passou pela minha cabeça ir à rampa do Planalto para dar umas cambalhotas. Foi natural. O Brasil havia sido campeão e era um sonho de criança. Escolhi ser jogador profissional de futebol e as coisas foram caminhando bem. Vesti a camisa da Seleção e na minha primeira Copa do Mundo voltamos com a taça. Parece que foi ontem, mas essa história faz 20 anos”, emociona-se o comentarista da rádio Jovem Pan.
Havia um outro plano traçado por parte do elenco, mas não foi colocado em prática. Alguns jogadores ensaiaram surpreender o presidente FHC e jogá-lo para cima. Quando os mentores da ideia estavam próximos de colocar o plano em ação, uma mensagem superior alertou que era melhor não. Os limites protocolares foram respeitados e a brincadeira, abortada.
O dia de glória de Vampeta terminou em Nazaré das Farinhas, no recôncavo baiano, onde Vampeta nasceu. O então governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães, providenciou uma recepção de gala para o volante Vampeta, o lateral-esquerdo Júnior e o goleiro Dida com direito a deslocamentos de “chefe de estado” até as respectivas cidades e bairros dos jogadores.
Três anos depois das cambalhotas no Planalto, Vampeta retornaria ao Distrito Federal para se apresentar ao Brasiliense para a disputa do Campeonato Brasileiro de 2005. Desembarcou na cidade como um dos principais reforços do time derrotado por ele e companhia da decisão da Copa do Brasil de 2002. “Não imaginava que, três anos depois, fosse jogar aí em Brasília. Foi um momento muito feliz, fui muito bem recebido por todos no Distrito Federal, fiz vários amigos e é uma honra falar sobre tudo isso 20 anos depois da conquista do penta”, encerrou Vampeta.
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