PVC Paulo Vinícius Coelho, o PVC, autor de Escolha Brasileira de Futebol. Foto: Fox Sports Paulo Vinícius Coelho, o PVC, autor de Escolha Brasileira de Futebol

Um bate-papo com Paulo Vinícius Coelho, o PVC, sobre o livro Escola Brasileira de Futebol

Publicado em Esporte

O jornalista Paulo Vinícius Coelho acaba de marcar mais um gol de letra. Lançou o livro Escola Brasileira de Futebol. No último sábado, o PVC, comentarista da Fox Sports e da Rádio Globo/CBN e colunista da Folha de S. Paulo, bateu um papo por telefone com o blog a caminho do Aeroporto do Galeão, no Rio, onde embarcou rumo a Moscou para a cobertura da Copa da Rússia. A seguir, o autor de Jornalismo Esportivo (2003), os 50 Maiores Jogos da Copa do Mundo (2006), Futebol Passo a Passo: Técnica, Tática e Estratégia (2006), Bola Fora: A História do Êxodo do Futebol Brasileiro (2009), Os 55 Maiores Jogos das Copas do Mundo (2010), Os 100 Melhores Jogadores Brasileiros de Todos os Tempos (2010), Tática Mente (2014) e o Planeta Neymar (2014) fala sobre a nona publicação na carreira e faz um convite aos leitores no esquenta para o Mundial. “Recomendo a leitura para entender um pouco o futebol brasileiro e saber o que esperar do futebol brasileiro na Copa”.

 

Você está fazendo parte de uma revolução editorial no mercado brasileiro, ou seja, está se escrevendo mais sobre futebol?

Outro dia, o professor Pasquale (Cipro Neto) entrou na CBN e estava falando sobre a música Gente humilde, que é do Chico Buarque, do Vinicius de Moraes e do Garoto (Aníbal Augusto Sardinha). Eu não sabia que o Garoto tinha deixado a música feita. Ele morreu em 1955. Em cima da música, Chico Buarque e Vinicius puseram a letra, no fim dos anos 1960. Acho que em 1969. O que eu quero dizer com isso é que o futebol brasileiro não tem partitura. Chico e Vinicius acharam uma música que estava pronta fazia 20 anos. A diferença no Brasil é que não há registro, não temos partituras.

 

Então, agora o futebol brasileiro tem uma partitura…

Esse livro de agora, era para ter sido escrito, digamos, em coleções que mostrassem como o Tim trabalhava, como trabalhava o Telê Santana, o Foguinho (Oswaldo Rolla) no Grêmio, o Rubens Minelli no Internacional. Isso a gente não tem através das décadas. Então, a cultura do futebol brasileiro passa só de boca em boca.

 

De quem partiu a ideia do livro?

A ideia é do Matinas (Suzuki Jr., da editora Objetiva). Ele disse que havia uma lacuna: falar sobre a escola brasileira de futebol. Ele queria que eu escrevesse. Comecei a tocar. Fui escrevendo, parei, escrevi de novo, até que, para sair antes da Copa do Mundo da Rússia, eu entreguei em 1º de outubro do ano passado.

 

livro

 

Depois desse mergulho no túnel do tempo, é possível definir o que é a escola brasileira de futebol?

Eu acho que é. Quando você pensa em Seleção Brasileira, em qualquer lugar do país, seja no interior do Rio Grande do Sul, seja no interior da Bahia, nós não aceitamos que se jogue de uma maneira que não seja: criativa, alegre, envolvente e ofensiva. O Vanderlei Luxemburgo diz no meu livro que a escola brasileira é o empirismo. Eu acho que é. É isso que a gente carrega, de se jogar bola em qualquer pedacinho de chão. Seja na praia, seja na beira do rio, no asfalto ou num platô, como fazia o Garrincha num terreno baldio no alto de um morro em Pau Grande (distrito de Magé, na serra fluminense). Agora, esse empirismo poderia estar com uma coisa acadêmica, ou seja, que passasse menos de boca em boca e mais de geração em geração por meio de relatos escritos de como se jogou em cada época.

 

Quem é, ou quem são os técnicos mais influentes na escola de futebol brasileiro?

As pessoas confundem um pouco. Quando eu cito Tim (Elba de Pádua Lima), Rubens Minelli e o Vanderlei Luxemburgo, não estou dizendo que eles são os três maiores técnicos brasileiros de todos os tempos. Até porque o livro começa com o maior time de todos os tempos,  que foi dirigido pelo Zagallo. É que diferentes gerações de jogadores disseram que sentiram-se muito instruídas quando trabalharam com o Tim, outra com o Rubens Minelli e outra com o Vanderlei Luxemburgo. Você conversa com qualquer jogador que trabalhou com o Luxemburgo e ele vai dizer que foi muito influenciado por ele. Não com o Luxemburgo de hoje. Gilson Nunes e Carlos Alberto Torres citariam o Tim. Mario Sérgio falava muito no Ênio Andrade.

 

Quem é o maior técnico brasileiro de todos os tempos?

A gente perdeu uma figura, que foi técnico da Seleção antes do tempo, e que se não tivesse morrido tão cedo, seria o maior técnico do Brasil por conseguir juntar o acadêmico e o empírico, a mistura das coisas, que era o Cláudio Coutinho.

 

A gente perdeu uma figura, que foi técnico da Seleção antes do tempo, e que se não tivesse morrido tão cedo, seria o maior técnico do Brasil por conseguir juntar o acadêmico e o empírico, a mistura das coisas, que era o Cláudio Coutinho.

 

O Brasil foi a quatro das últimas cinco Copas sob a batuta de um técnico gaúcho: Luiz Felipe Scolari (2002 e 2014), Dunga (2010) e Tite (2018). A exceção foi o Carlos Alberto Parreira (2006). Até que ponto o futebol gaúcho tem ascendência na escola brasileira?

A escola gaúcha tem duas vertentes. A do Carlos Froner, que é o futebol mais duro, mais do interior, a do Felipão. E tem uma escola Ênio Andrade, que é o futebol mais jogado, que é Tite, Mano Menezes, que é Dunga. Dunga é filho do Inter e o Inter é muito filho do Ênio Andrade. Então, essa segunda escola gaúcha, que a é a do Tite, tem uma mistura de coisas. Ela foi Daltro Menezes, ela foi Dino Sani, ela foi Rubens Minelli e ela foi Ênio Andrade. É um estilo mais técnico, mais jogado do que guerreado. O Felipão é de um estilo mais guerreado, embora tenha feito o único time na história das Copas que ganhou os sete jogos para ser campeão, e com o melhor ataque.

 

O Tite fala muito na Seleção de 1982. É possível resgatar um pouco daquele timaço?

Não. A Seleção de 1982 é muito carismática porque tinha jogadores muito talentosos e não ter vencido. O João Saldanha era muito crítico daquela Seleção. Ele via problemas táticos graves e eu acho que ela perdeu porque tinha problemas táticos sérios. Eu espero que a Seleção do Tite não seja lembrada como uma Seleção que jogou bem, mas perdeu a Copa. O melhor cenário é jogar bem e vencer. Nós temos uma Seleção atrasada. A gente perdeu dois anos (no ciclo da Copa de 2018). Eu vi a França jogando contra a Itália. A França está voando. São seis anos de trabalho junto, inclusive com a cicatriz de uma derrota em casa na final da Eurocopa (para Portugal, em 2016).

 

Eu espero que a Seleção do Tite não seja lembrada como uma Seleção que jogou bem, mas perdeu a Copa. O melhor cenário é jogar bem e vencer. Nós temos uma Seleção atrasada. A gente perdeu dois anos. Eu vi a França jogando contra a Itália, a França está voando. São seis anos de trabalho junto, inclusive com a cicatriz de uma derrota em casa na final da Eurocopa.

 

Esse foi o livro mais prazeroso que você escreveu?

Esse Escola Brasileira de Futebol e o Bola Fora — A História do Êxodo do Futebol Brasileiro são os que eu mais gosto. O Bola Fora é um projeto que poderia ter sido mais legal, maior, mas eu gosto da história do êxodo, que é de 2009. O atual não foi o mais difícil. Talvez, até seja, mas eu prefiro pensar no prazer. Foi o mais prazeroso.

 

Qual é a Seleção favorita para ganhar a Copa da Rússia?

Temos candidatos. França, Espanha, Brasil, Alemanha e o Messi.