Argentinas Carlos Bianchi e Tite no duelo pelas oitavas da Libertadores de 2013. Foto: AFP PHOTO / Juan Mabromata

Um bate-papo com mestre Carlos Bianchi sobre o início do “aluno” Tite na Seleção Brasileira

Publicado em Esporte

Em 2014, Adenor Leonardo Bachi, o Tite, colocou a mochila nas costas e o pé no mundo em um ano sabático. Partiu à caça de conhecimento. Um dos destinos do intercâmbio foi Buenos Aires. Na Argentina, procurou o endereço de um senhor chamado Carlos Arcecio Bianchi — único treinador tetracampeão da Copa Libertadores da América, uma vez com Vélez Sarsfield e três com o Boca Juniors. Um dos mentores do upgrade na carreira do técnico da Seleção Brasileira, o mestre argentino conversou ontem com exclusividade, por telefone, com o blog, sobre o desempenho do discípulo na estreia contra o Equador, na quinta-feira passada, em Quito. Também falou acerca do confronto de hoje contra a Colômbia, às 21h45, na Arena Amazônia, em Manaus, pela oitava rodada das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa da Rússia-2018.

Matéria publicada na edição desta terça do Correio Braziliense
Matéria publicada na edição desta terça do Correio Braziliense

Depois de dar lugar a Mano Menezes no Corinthians no fim de 2013, Tite investiu dinheiro do próprio bolso para ir à Europa e à vizinha Buenos Aires se reciclar. Uma das curiosidades era conhecer os métodos de trabalho de Carlos Bianchi, que o derrotou nas oitavas de final da Libertadores naquela temporada. Questionado pelo blog sobre o intercâmbio, o argentino lembrou que o brasileiro acompanhou treinos do Boca, uma partida in loco e até um banquete. “Ele (Tite) é uma pessoa muito agradável. Nós almoçamos juntos e falamos muito de futebol. É um grande treinador, sem circo, eu gosto muito do estilo dos times dele”, disse Bianchi. Sem circo, para Bianchi, é sinônimo de discrição, equilíbrio, frieza, uma das marcas de sua vitoriosa carreira.

Depois da vitória por 3 x 0 sobre o Equador, em Quito, Tite citou o colega como uma das suas influências ao falar da inteligência emocional da Seleção Brasileira. “Tive uma conversa com o Carlos Bianchi e ele falou do nível de concentração. Eu pensei que eles (argentinos) eram provocados e jogavam futebol, que a arbitragem errava e eles seguiam jogando. Que nível de concentração é esse? Me deu um estalo que eu estava em frente a um grande cara, muitas vezes campeão, que poderia reforçar um legado. Aspecto disciplinar é fundamental. Você toma um cartão bobo e deixa de fazer uma falta tática necessária. Reclamar inibe, quem reclama muito, deixa de jogar. Não é disciplina, é questão de inteligência”, explicou.

Questionado pela reportagem se viu algo de Bianchi no sistema tático 4-1-4-1 do Brasil de Tite na goleada por 3 x 0 sobre o Equador, ou do nível de concentração do time, o argentino foi modesto. “Eu respeito muito o Tite, não tenho nada a ensiná-lo. Apesar de o Brasil não ter grandes jogadores, como no passado, exceto Neymar, ele tem capacidade para formar um time forte, uma equipe competitiva como a que vimos diante do Equador. Foi uma estreia estupenda”, elogiou.

Hoje, Bianchi confessa que vai ficar dividido. Técnico da Colômbia, o compatriota José Pekerman é amigo dele. Quando a Argentina foi eliminada pela Alemanha nas quartas de final da Copa de 2006, Bianchi chegou a fazer campanha pela permanência de Pekerman no cargo.

Bianchi prevê um duelo tático dificílimo para Tite. “Eu asseguro que sim. Vai ser uma partida muito equilibrada.” No entanto, o argentino aposta em uma espécie de anjo da guarda capaz de levar o colega brasileiro à segunda vitória consecutiva. “Neymar é um grande jogador. O futuro Bola de Ouro (melhor jogador do mundo), pode desequilibrar a partida”, profetizou, antes de desejar boa sorte ao Brasil e retomar o almoço em Buenos Aires. Desta vez, sem o amigo Tite à mesa.