A aposta na renovação da dinastia brasileira na lateral esquerda do Real Madrid tem um aprendiz de Zinedine Zidane. Depois de jogar ao lado de Roberto Carlos e de ajudar Carlo Ancelotti a liderar Marcelo, o técnico francês teve, durante um ano e meio, a missão de lapidar o paranaense Abner Felipe Souza de Almeida — o Abner — no Real Castilla, como é chamado o time B que representa o clube merengue na terceira divisão do Campeonato Espanhol.
Xodó do agora treinador da esquadra principal e titular do Real B até sofrer, no ano passado, a terceira lesão grave no joelho em dois anos, a promessa de 19 anos ganhou até um vídeo gravado por Zidane para incentivar a sua recuperação. “Você é jovem, Abner. Espero que a sua recuperação seja rápida para nos reencontrarmos no Centro de Treinamento de Valdedebas”, discursou Zidane. Quando retornar aos gramados, Abner, revelado pelo Coritiba, não será mais comandado pelo professor eleito três vezes melhor do mundo no Castilla. Otimista, ele vislumbra a chance de ser incorporado em um futuro próximo ao elenco de CR7 & Cia.
“Estou trabalhando pesado para voltar e ajudar o clube, independentemente do treinador, almejando sempre estar no time principal. Acho que pode ser bom para mim o Zidane ser o técnico também, pois ele já me conhece”, projeta Abner em entrevista de Madri ao Correio.
Enquanto astros como Bale e Cristiano Ronaldo começam a decifrar o técnico Zidane, Abner conhece o comandante muito bem e topou traçar um perfil do treinador. Segundo ele, Zidane não é de palestras motivacionais: “Ele motiva o tempo todo, mas as preleções são focadas nas questões táticas e técnicas”.
Abner conta como Zidane comanda os treinos. “Ele exige troca de passes em campo reduzido, exige finalização, pressão e marcação”. No período em que comandou o Castilla, foi a Munique observar o trabalho de Guardiola. Para o lateral, há pelo menos uma semelhança nas filosofias de Zizou e Pep. “A manutenção da posse de bola”, destaca Abner, entregando o sistema tático preferido do craque: “4-3-3, três atacantes”.
De acordo com a experiência de Abner, o técnico Zidane é “tranquilo, observador e focado”. E tem total controle do vestiário. “Na despedida, ele falou com todos os jogadores individualmente no Castilla e depois com o elenco principal. Ele é extrovertido, mas ponderado. Nunca fez piada sobre a final da Copa de 1998”, brinca.
No Castilla, Zidane tinha o seu manual de boa conduta. Nos jogos em casa, por exemplo, não há concentração. “Quando não precisa viajar, é necessário estar cinco horas antes do jogo no clube. Ele orienta os atletas a seguirem alguns princípios”, diz Abner. Nas partidas fora de Madri, nada de terno e gravata. “O traje é livre. Dependendo da distância, ele prefere que o elenco viaje no mesmo dia da partida”, relata Abner.
Ascensão marcada por lesões — Paranaense de Londrina, Abner foi criado no Conjunto Violin, na Zona Norte de Londrina. Cansou de quebrar janela, vaso e vidro da estante da mãe, dona Altina Aparecida de Souza, antes de pegar o rumo do PSTC, clube formador da cidade. Quando Abner seguiu para o Coritiba, a mãe largou a carreira de enfermeira para acompanhar a rápida evolução do filho na profissão.
Precoce, Abner tem passagens pelas seleções de base desde o Sub-15. Participou da Copa São Paulo de Futebol Júnior com 16 anos vestindo a camisa do Coritiba. Indicado por Ramón Martínez, responsável pela base do Real Madrid, Abner foi contratado na janela europeia de verão de 2014. Disputou apenas uma partida como profissional do Coritiba no empate por 2 x 2 com o Goiás, no Couto Pereira, pelo Campeonato Brasileiro. Convocado para o Mundial Sub-17 de 2013, nos Emirados Árabes Unidos, rompeu o ligamento cruzado do joelho esquerdo.
No ano passado, Abner voltou a machucar gravemente o joelho esquerdo em um treino do Real Castilla liderado por Zidane. Voltou a romper o ligamento cruzado anterior e praticamente perdeu a temporada. O jogador chegou a ser aproveitado por Rafa Benítez nos treinos do elenco principal. Sensibilizado com a lesão, o ex-atacante Ronaldo usou sua conta no Instagram para mandar uma mensagem de apoio à promessa da lateral esquerda da Seleção Brasileira.
“Enfrentar a terceira lesão grave no joelho em pouco mais de dois anos… Sei como você se sente. Mas o que nos define é a forma como levantamos depois da queda”, disse o Fenômeno.
Um bate-bola com Abner, lateral-esquerdo do Castilla, time B do Real Madrid
Qual foi a sua reação quando soube que o Zidane foi promovido a técnico do Real Madrid?
Fiquei muito feliz com a promoção dele. Trata-se de uma ótima pessoa e profissional.
Ele tem um carinho especial por você. Gravou até um vídeo incentivando a sua recuperação?
Sim, todos os funcionários do Real Madrid Castilla, desde jogadores, comissão técnica, roupeiros, massagistas, além do Zidane.
Você é lateral-esquerdo. O Zidane fazia referência ao Roberto Carlos, com quem ele jogou?
Em relação ao Roberto Carlos, não, mas diz que tenho características parecidas com as do Marcelo.
Ele deu a braçadeira de capitão do Castilla ao filho. O elenco interpretou bem a atitude?
O Enzo é muito trabalhador e tem perfil de líder. O grupo achou justo.
O que você pode dizer que aprendeu com o técnico Zidane no Real Madrid Castilla?
Resumindo em uma palavra, somente reforçou o que tenho de princípio sobre humildade. Ele é uma pessoa que atingiu o topo e é extremamente humilde.
Como foi a despedida dele?
Ele falou com todos os jogadores individualmente no Castilla e depois no time principal.
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