Há 20 anos, Diego Armando Maradona disputava sua última partida oficial. Era 25 de outubro de 1997. Estádio Monumental de Núñez, Buenos Aires. Clássico entre River Plate e Boca Juniors. Em uma tarde de sábado. O técnico Héctor Vieira escala o Boca assim, no 3-5-2: Córdoba; Vivas, Bermúdez e Fabbri; Arruabarrena, Toresani, Cagna, Solano e Maradona; Latorre e Palermo. Do outro lado, o comandante Ramon Diaz contava com Ayala, Berizzo, Gallardo, Marcelo Salas…
Maradona entra em campo com cara de quem sabia que aquele seria seu ultimo tango. No meio do gramado, ergue os dois braços com os punhos fechados. Faz o sinal da cruz. Aplaude os 10 mil torcedores xeneizes e a si mesmo. É hostilizado por 50 mil rivais. Dá uns piques. Perseguido o tempo inteiro pelos fotógrafos, corre para cumprimentar o desafeto Ramon Diaz — quem o acusou de vetar a sua presenças na Copas de 1986 e de 1990 — e os demais integrantes do banco do River Plate. Retorna ao gramado fazendo novamente o sinal da cruz, dá três pulinhos com o pé direito na linha lateral, sem tocar a canhota no piso. Vestindo a braçadeira de capitão, disputa o último cara ou coroa antes da saideira de 45 minutos. O River ganha a bola. Maradona escolhe o lado do campo para o começo do seu derradeiro ato.
Irreconhecível, Maradona vê Berti abrir o placar para o River com um chute da linha da grande área, indefensável para Córdoba. Após o intervalo, o próprio Maradona começa a mudar a história do clássico. Ele teria dito “basta” ao técnico Héctor Vieira, pedindo para ser substituído. Maradona saiu para a entrada de Caniggia. Alegação oficial: contratura muscular adquirida na partida anterior contra o Colo-Colo pela Supercopa dos Campeões da Libertadores. O treinador também colocou em campo o jovem Riquelme no lugar de Vivas.
Sem Maradona, o Boca vira o jogo com um gol de Toresani e outro de Palermo. O Boca tomava a liderança isolada do Apertura na residência do inimigo. Maradona retornou ao gramado para festejar com os companheiros, tripudiar da torcida do River com gestos obscenos. Só Não voltaria mais a jogar com a camisa do Boca.
“Vou deixar de jogar. Não aguento mais. Esta aposentadoria é definitiva. Meu pai pediu chorando. Não posso aceitar que a minha família sofra tanto com cada controle (antidoping) e que a onda de rumores nos envolva” (Maradona, em 30 de outubro de 1997, à Rádio La Red)
Irreverente, Maradona provocou o adversário. Disse que o River Plate fez um belíssimo primeiro tempo, mas que, no segundo, “arrearam as calcinhas”. O Boca chegou ao Monumental de Núñez com a incrível marca de sete anos sem perder na mansão do River Plate e ampliou o tabu.
Entusiasmado com o triunfo no histórico megaclássico, Maradona prometeu jogar até os 40 anos. Cinco dias depois do triunfo sobre o River Plate, quebrou o pacto. Em uma surpreendente entrevista à rádio La Red, anunciou o fim da carreira. Era 30 de outubro, dia do aniversário de 37 anos do craque. Estava cansado dos rumores de um novo flagrante em exame antidoping. Havia testado positivo na vitória do Boca sobre o Argentinos Juniors, por 4 x 2. A AFA não suspendeu o craque, mas o obrigou a submeter-se a constantes controles da AFA.
Maradona sentiu-se perseguido. Chateado com os efeitos colaterais sobre a sua família, parou o mundo da bola em 30 de outubro de 2017. Da casa dos pais, em Villa Devoto, colocou ponto final na brilhante carreira. “Vou deixar de jogar. Não aguento mais. Esta aposentadoria é definitiva. Meu pai pediu chorando. Não posso aceitar que a minha família sofra tanto com cada controle (antidoping) e que a onda de rumores nos envolva”, desabafou.
D10S parou por cima. Disputou sete partidas oficiais com a camisa do Boca Juniors contra o River Plate e só perdeu uma, com três vitórias e um empate. O Boca sentiu a perda do camisa 10 e perdeu o título do Apertura para o River Plate por apenas um ponto de diferença: 45 x 44.