O futebol brasileiro conquistou seis das últimas dez edições da Libertadores — quatro delas em sequência no período de 2019 a 2022. No entanto, o manual de gestão dos clubes do país está longe de servir de gabarito para os vizinhos da América do Sul. Dos quatro times classificados para as oitavas de final, três expõem mazelas administrativas incuráveis nesta banda tropical do continente: trocas de treinador, interino empoderado e impaciência.
Dos sete representantes do país, quatro mudaram de técnico na fase de grupos da Libertadores: Athletico-PR, Atlético-MG, Corinthians e Flamengo. O Furacão e o Galo avançaram no mesmo grupo às oitavas de final. Não sem antes arriscarem auto sabotagem.
Quem um dia irá dizer que existe razão na saída de Paulo Turra e Luiz Felipe Scolari do Athletico-PR depois de o time conquistar 13 dos 18 pontos possíveis? Homenageado pela Conmebol no sorteio da fase de grupos, em março, pelos serviços prestados ao futebol sul-americano, Felipão causou comoção devido ao anúncio da aposentadoria depois do vice na Libertadores do ano passado. O Felipão pediu demissão do cargo de diretor técnico, retomou a profissão de treinador no Atlético-MG e virou a vida de Turra de ponta cabeça.
O treinador do Athletico fazia parte do combo Scolari. Afinal, havia sido ungido por ele ao cargo de técnico do Athletico-PR. Consequentemente, a diretoria decidiu dispensar os serviços de Paulo Turra e empoderar o técnico interino Wesley Carvalho.
A troca no Athletico-PR foi causada pela treta no Atlético-MG. O Galo iniciou a Libertadores sob as ordens de Eduardo Coudet. O argentino pediu demissão e o Galo convenceu Felipão a assumir a prancheta alvinegra. O bicampeão continental nem pensou duas vezes. Arrumou as malas, deixou Curitiba e desembarcou rapidinho em Belo Horizonte.
O Corinthians teve dois técnicos diferentes na Libertadores. Largou com Fernando Lázaro e terminará a fase de grupos sob as ordens de Vanderlei Luxemburgo. O resultado da desordem é a eliminação precoce. O prêmio de consolação é uma vaga no playoff da Copa Sul-Americana em caso de empate com o Liverpool do Uruguai, na Neo Química Arena.
Atual campeão, o Flamengo também deu mau exemplo aos vizinhos sul-americanos. Antes, trocava de técnico no início do mata-mata. Nesta temporada, o português Vítor Pereira perdeu o emprego na fase de grupos e deu lugar ao argentino Jorge Sampaoli. O time carioca necessita de um ponto contra o Aucas para confirmar presença nas oitavas.
Além das trocas de técnico e do empoderamento dos interinos, a vaia descabida é outra mazela dos times brasileiros na fase de grupos. Há 57 dias, o Fluminense era celebrado pelo técnico do River Plate, Martin Demichelis, como melhor time da América do Sul depois de impor 5 x 1 no tricampeão da Libertadores. Classificado em primeiro lugar no Grupo D, considerado o mais forte no sorteio, o tricolor saiu de campo vaiado de campo depois do empate por 1 x 1 com o Sporting Cristal, no Maracanã. Durma com um barulho desse!
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