Tostão 70 anos: o craque nas crônicas de Nelson Rodrigues

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Eduardo Gonçalves de Andrade, o Tostão, camisa 9 da Seleção na conquista do tricampeonato, em 1970, faz 70 anos nesta quarta-feira. Fui ao fundo do baú reler livros de Nelson Rodrigues para encontrar e recordar o que o craque pernambucano das letras escreveu sobre o craque mineiro das quatro linhas antes, durante e depois daquele Mundial do México, reunidos no livro À sombra das Chuteiras imortais.

Na crônica “À sombra dos crioulões em flor”, por exemplo, Nelson Rodrigues exalta a exibição de Tostão na vitória do Brasil sobre a Inglaterra, por 2 x 1, em um amistoso no Maracanã disputado em 12 de junho de 1969. “(…) Tostão foi, durante a partida, um estilista da cabeça aos sapatos. Seus passes saíam límpidos, exatos, macios. Deu um banho de bola nos ingleses. E a maioria dos espíqueres exigia, aos brados, a sua substituição. O rádio e a TV não faziam outra coisa senão soluçar elogios aos ingleses. Os visitantes tinham todos os méritos e os brasileiros todos os defeitos”.

O Brasil foi para o intervalo perdendo por 1 x 0. Mas aí, entrou em cena Tostão. “(…) E a maioria dos locutores, principalmente os paulistas, continuava a exigir a retirada de Tostão. E, no momento em que mais se exasperavam contra o maravilhoso jogador, Tostão é derrubado na grama e faz o gol! Foi um assombro. Em pé, Tostão já é pequeno, pequeno e cabeçudo como um anão de Velasquez. Imaginem agora deitado. Os ingleses ficaram indignados e explico: — um gol como o de Tostão desafia toda uma complexa e astuta experiência imperial. Um minuto depois, ou dois minutos depois, Tostão dá três ou quatro cortes luminosíssimos e entrega a Jairzinho. Este põe lá dentro. Naquele momento ruía a pose inglesa. Era a vitória e pergunto: — como reagimos diante da vitória? Claro que o homem da arquibancada subiu pelas paredes como uma lagartixa profissional (…)”.

“Mas o que eu queria chamar a atenção de vocês é para o abnegado e formidável esforço de Tostão. Saído de uma crise vital, aceita todos os riscos para servir ao escrete. De quinze em quinze minutos, seu futebol cresce. Está entre os cinco ou seis jogadores do mundo em todos os tempos” Nelson Rodrigues, na crônica Deslizando como cisnes

(O Globo, 14/6/1970)

Na crônica “O entendido, salvo pelo ridículo”, Nelson Rodrigues conta como Tostão conseguiu desequilibrar na vitória por 1 x 0 sobre a Inglaterra na fase de grupos da Copa de 1970. “(…) Vocês viram o nosso gol contra a Inglaterra. Foi uma obra-prima. Começou em Tostão, que passou a Paulo César. Paulo César novamente a Tostão. Este trabalha a bola. A área inglesa era uma ferocíssima selva de botinadas. Cada milímetro estava ocupado. Tostão dribla um inglês, e mais outro inglês, e mais outro inglês, um terceiro inglês. E vinham outros, e mais outros e outros mais. Tostão vira-se e entrega a Pelé. Três adversários envolvem o sublime crioulo. Este, rápido, empurra para Jairzinho, enganando todo mundo (…)”.

Tostão virou finalmente personagem da semana de Nelson Rodrigues na crônica “Deslizando como cisnes”, sobre as vitórias diante da Romênia, por 3 x 2, e do Peru, por 4 x 2, ambos na Copa de 1970. “(…) Mas falo, falo e não digo uma palavra sobre o meu personagem da semana. Vamos dar-lhe nome: — Tostão. Foi uma enorme figura. Marcou dois gols e foi um criador de jogadas maravilhosas. Já a sua atuação no gol contra a Inglaterra foi um lance de gênio. Mas o que eu queria chamar a atenção de vocês é para o abnegado e formidável esforço de Tostão. Saído de uma crise vital, aceita todos os riscos para servir ao escrete. De quinze em quinze minutos, seu futebol cresce. Está entre os cinco ou seis jogadores do mundo em todos os tempos. Como influiu para a nossa vitória sobre o Peru! Fez uma série de coisas perfeitas e irretocáveis (…)”.

Parabéns, setentão Tostão! Vida longa…

Marcos Paulo Lima

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