O maior ano da história do Botafogo com títulos da Libertadores e do Brasileirão em nove dias deixa no mínimo uma pulga atrás da orelha do torcedor alvinegro e de outros clubes na fila para virar Sociedade Anônima do Futebol ( SAF).
Holdings como a do empresário estadunidense John Textor e dos demais candidatos a aportar no Brasil inauguram nova relação do torcedor com o clube do coração. O modelo anuncia a era dos times de empreitada. Contrata-se para uma determinada missão e os profissionais cada vez menos têm apego às cores da camisa.
Veja o caso de Thiago Almada. A entrevista do meia, protagonista de dois erros na derrota para o Pachuca por 3 x 0 na Copa Intercontinental, ilustra essa nova relação de trabalho: o jogador está ali para servir aos interesses do patrão, neste caso específico, à Eagle Football, e menos ao sentimento em relação a clubes centenários como o Botafogo. Vale o que está escrito. Não há apelo de arquibancada apaixonada capaz de reverter o novo tipo de relação profissional.
Almada mandou a fila andar no gramado do 974 Stadium, em Doha. “A verdade é que, com esse grupo, até ficaria aqui toda a minha carreira. Este grupo é muito lindo, muito unido, de família. Mas, bem, quando eu cheguei ao Botafogo, eu já tinha tudo acertado para ficar por 6 meses. E aí ir ao Lyon. Acho que isso vai acontecer. Faço questão de agradecer aos torcedores por todo o apoio e carinho. Vou levar para sempre no meu coração”, afirmou em entrevista à Cazé TV.
Eis uma diferença entre os modelos associativo e de uma SAF vinculada a uma holding. As torcidas do Flamengo e do Palmeiras, por exemplo, desfrutaram dos ídolos o maior tempo possível. Gabriel Barbosa cumpriu seis anos de contrato. Arrascaeta e Bruno Henrique seguem desde 2019. Dudu deixa o alviverde depois de quase 10 anos de serviços prestados ao clube. Foi para o Catar durante o contrato, mas voltou.
O botafoguense curtiu Almada por seis meses. Vive a expectativa da permanência ou da saída de Luiz Henrique. A empreitada acabou. Lembra o filme mercenários de Sylvester Stallone. Uma legião se reúne por um objetivo. Ao término da força-tarefa, cada um vai para o seu lado.
Essa é a nova realidade no mundo das holdings. Os donos manipulam contratos de acordo com as necessidades dos times a ele vinculados. Coirmão do Botafogo na holding, o Lyon está em quinto lugar na Ligue 1, a uma posição da zona de classificação para a Liga dos Campeões da Europa. Se Almada é importante para o projeto do Lyon e não do Botafogo a essa altura desta temporada, a prioridade é do clube francês, não do brasileiro. Simples assim.
O torcedor do Botafogo está se acostumando com a nova realidade. Em breve, os do Vasco passarão pelo processo de adaptação aos novos tempos econômicos no futebol brasileiro. Nem sempre a camisa do seu time é a mais pesada, valiosa é prioritária na holding do proprietário.
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