Favorita a receber a Supercopa do Brasil entre Palmeiras e Flamengo desde 27 de dezembro, como havia antecipado o blog, inclusive quando a proposta foi oficializada, Brasília receberá a partida no próximo dia 28, às 16h30, depois de vaivém e muitas manobras nos bastidores. Há negociações de direitos de transmissão em trâmite. Nenhuma tevê e/ou streaming comprou até agora. O Mané Garrincha receberá o duelo pela terceira vez em quatro anos: 2020, 2021 e 2022. A versão passada seria aqui, mas devido à pandemia mudou para a Arena Pantanal, em Cuiabá.
A capital do país correu contra o tempo para convencer a entidade máxima do futebol nacional de que, mesmo sob intervenção de Ricardo Cappelli na segurança pública depois dos ataques aos três poderes no último domingo, será possível manter a ordem dentro e fora do Estádio Nacional Mané Garrincha no jogo de abertura da temporada nacional. O próprio Cappelli avalizou depois de uma troca de telefonemas e mensagens insana nos bastidores entre figurões do quadradinho na noite passada, com direito a jogadas ensaiadas a fim de apresentar um discurso coeso e minimamente convincente à CBF.
O blog apurou que autoridades do alto escalão do GDF se mobilizaram depois do aval informal de Cappello e mantiveram contato com a CBF para dar garantias ao evento. Personagens da tropa de elite do Buriti estavam convictos de que o presidente Ednaldo Rodrigues oficializaria Brasília anfitriã do clássico nesta quarta-feira, mas fraquejaram diante do crescimento de Salvador entre os concorrentes. Balão de ensaio. Como mostrava o blog desde o mês passado, Brasilia sempre esteve na pole position. Além das ofertas em petrodólares da Arábia Saidita e dólares dos EUA, os ataques aos três poderes eram as únicas ameaças.
Paralelamente, a entidade trabalhava, sim, com outras possibilidades desde os violentos atos golpistas em Brasília. A Arena Fonte Nova, em Salvador, era uma espécie de bola de segurança do dirigente nascido em Vitória da Conquista. Ednaldo Rodrigues trabalhou na Federação Baiana de Futebol de 1993 a 2019. Foi mandatário da entidade por 18 anos no período de 2001 a 2019. Logo, a cidade ajudaria o presidente em um estalar de dedos. Houve até vazamento fake pela manhã de que a cidade havia sido escolhida. A Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata, corria por fora.
Fiscal da paz nos estádios na capital, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios também deu sinal verde para que Brasília recebesse a Supercopa do Brasil. É o que afirmou ao blog o Procurador dos Direitos do Cidadão, José Eduardo Sabo Paes. “Há, sim, condições de Brasília receber, mesmo sob intervenção, essa partida de futebol. Inclusive, recebemos esse jogo (Supercopa do Brasil) em outras duas oportunidades (2019 e 2020). A qualidade de todos os atores integrantes das comissões, das equipes, dos órgãos de segurança, está à altura e capacitada para propiciar ao torcedor uma partida muito tranquila. Há expertise”, avaliou.
Eduardo Sabo acrescentou: “Evidentemente, o Ministério Público, como em todos os eventos, por meio da Procuradoria Distrital dos Direitos do Cidadão e da comissão que acompanha os jogos nos estádios, está absolutamente certa de continuar um trabalho de vigilância e de atuação para que não ocorra nenhum problema e também apurar todas as responsabilidades”.
Mesmo sob pressão do discurso ensaiado das autoridades do DF, a CBF considerava a escolha de Brasília complexa. Como mostrou o post de segunda-feira, a entidade tinha ofertas da Arábia Saudita e dos Estados Unidos pela compra da Supercopa do Brasil, porém pretende avançar nas conversas para a edição de 2024. A entidade considerou o calendário apertado para internacionalizar o evento neste ano. Faltavam 17 dias para o jogo é o Flamengo tem agenda complexa devido ao Mundial de Clubes da Fifa.
Diante do impasse, até sexta-feira havia 90% de certeza de que a Supercopa deste ano seria mesmo no Brasil — e Brasília era a favorita. As cenas de selvageria no domingo abalaram a convicção da CBF. Antes mesmo dos ataques na Esplanada dos Ministérios, havia preocupação com a rivalidade entre as torcidas de Palmeiras e Flamengo. Ambas protagonizaram briga generalizada na arquibancada do Mané Garrincha na partida disputada em 5 de junho de 2016 pelo Campeonato Brasileiro. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), inclusive, responsabilizou e condenou o Flamengo e a Federação de Futebol do DF pela barbárie. Houve mais de um recurso negado.
Decisão do juiz da 7ª Vara Cível de Brasília determinou à época que o clube e a entidade máxima do futebol local pagassem R$ 282.856,50 a título de danos morais coletivos e notificou que o valor deveria ser repassado ao Fundo de Defesa do Consumidor. A FFDF entende que a dívida é do Flamengo. Por sua vez, o clube carioca tem se recusado insistentemente a pagar e o imbróglio se arrasta há seis anos.
Além do preocupante histórico de cinco anos atrás, existe um desconforto com a inimizade entre os dois clubes. O Palmeiras não comercializou ingressos para a torcida rubro-negra nas últimas partidas realizadas no Allianz Parque. O Flamengo respondeu na mesma moeda e não vendeu bilhetes para alviverdes no Maracanã. Portanto, a demanda por segurança na Supercopa é altíssima e a partida ainda é considerada de altíssimo risco.
As invasões ao Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal no último domingo deixaram a entidade com outra pulga atrás da orelha: a possibilidade de manifestantes se infiltrarem no meio das torcidas de Palmeiras e Flamengo para causar pânico no Mané Garrincha. A soma de todos os medos tornou a decisão do palco da partida mais arrastada.
A insegurança jurídica em Brasília também estava sendo levada em conta. Em 2021, a CBF marcou a Supercopa do Brasil para o Mané Garrincha. O duelo era justamente entre Palmeiras e Flamengo. Na sexta-feira anterior ao jogo, Brasília estava em lockdown devido à pandemia. Um juiz havia determinado que o evento não poderia ser realizado na cidade e deu início a uma guerra de liminares a pouco mais de 24 horas da partida.
O caso foi parar na mesa do Tribunal Regional Federal 1ª Região, que negou o recurso do GDF e obrigou o governador Ibaneis Rocha a acionar o plantão do Superior Tribunal de Justiça para manter o duelo na capital. O desgaste no tapetão manchou a imagem do evento e causou fúria na CBF à época. Recém-eleito, o presidente Ednaldo Rodrigues quer uma margem mínima de desgaste não somente a ele, mas ao produto ressuscitado recentemente pela entidade. Lançada no início dos anos 1990, o torneio teve edições em 1990 e 1991 e parou. O tira-teima saiu do baú em 2019 e voltou a ser disputado a partir de 2020. No fim, o aval do interventor Ricardo Cappelli bancou a Supercopa do Brasil na cidade pela terceira vez em quatro anos. Agora, procura-se uma tevê disposta a transmitir. A Record é uma das interessadas na aquisição dos direitos.
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