A convocação do técnico Tite para os amistosos data Fifa da Seleção Brasileira contra Estados Unidos e El Salvador desencadeou uma série de erros que vão do desrespeito da CBF a dois dos times semifinalistas da Copa do Brasil a irregularidades dos clubes na relação trabalhista com seus jogadores.
A CBF desfalcou o Cruzeiro e o Flamengo na partida de ida das semifinais do seu torneio mais lucrativo — a Copa do Brasil. Em contrapartida, os clubes passaram por cima da regra que impede um atleta de entrar em campo com menos de 66 horas de descanso, e escalarão Dedé e Lucas Paquetá 24 horas depois de ambos defenderem a Seleção no amistoso desta terça-feira contra El Salvador, em Washington, a capital dos Estados Unidos.
Cruzeiro e Flamengo montaram uma logística para trazerem Dedé e Lucas Paquetá a tempo de eles enfrentarem respectivamente, nesta quarta-feira, Palmeiras e Corinthians. Os dois clubes fretaram um voo e dividirão a operação financeira.
Presidente do Sindicato Nacional dos Atletas Profissionais (SindAtletasPro) e do Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo (Sapesp) e ex-presidente da Federação Nacional dos Atletas de Futebol Profissional (Fenapaf) da Divisão Américas da Federação Internacional de Futebolistas Profissionais (FIFPro), Rinaldo Martorelli condena a atitude dos clubes, mas se diz de mãos atadas para proteger os jogadores pelo fato de os atletas se sujeitarem às exigências dos dirigentes.
“A gente sempre resistiu a esse tipo de situação, sempre lutamos por um intervalo de pelo menos 66 horas entre os jogos para que o atleta pudesse se recuperar. É o que os pareceres de fisiologia nos dizem. Mas nós atuamos de forma coletiva. Individualmente também, o cara tem que querer. Essa discussão começou lá atrás, quando o Santos mandou buscar o Neymar (depois de um amistoso da Seleção Brasileira). Eles aceitando essa condição é uma pena, a gente não pode fazer nada além de lamentar que as coisas sejam assim”, disse Rinaldo Martorelli em entrevista por telefone ao blog.
O artigo 25 do Regulamento Geral de Competições da CBF indica que “atletas profissionais não poderão, como regra geral, disputar partida em competições sem observar o intervalo mínimo de sessenta e seis (66) horas”. Diante disso, a CBF exigiu que Cruzeiro e Flamengo assinassem um termo de responsabilidade para contarem com seus convocados.
Além dos jogadores, o ex-goleiro Rinaldo Martorelli culpa os dirigentes dos times e da CBF pela bagunça no calendário. “A gente não se opõe a que os clubes disputem competições paralelas, simultaneamente, como Brasileiro, Copa do Brasil, Estadual, quantas forem; mas que utilizem os mesmos jogadores e desrespeitem o intervalo mínimo para que se tenha prevenção quanto a possíveis lesões. Infelizmente, isso é uma discussão que se arrasta há muito tempo porque a gente não tem nas entidades dirigentes uma percepção da necessidade de um calendário organizado para todo mundo. Aí, todo mundo perde com isso. Essa é a nossa posição”.
Em 2012, o Santos fretou um jatinho para “resgatar” Neymar, em Estocolmo, na Suécia, onde o Brasil havia goleado os anfitriões por 3 x 0 num amistoso, para ter o atacante contra o Figueirense, pelo Campeonato Brasileiro. A viagem até Florianópolis durou 14 horas. Neymar descansou no restante do dia e entrou em campo às 21h. O Peixe venceu por 3 x 1. O segundo gol da virada foi justamente de Neymar.