Briga com pedras na estreia do Internacional no Campeonato Gaúcho contra o Veranópolis. Homossexual agredido por organizada em São Paulo. Torcedor morto com espeto de churrasco antes do clássico entre Flamengo e Botafogo, no Rio. Briga generalizada dentro e fora de campo no Bezerrão durante Gama 1 x 1 Brasiliense no último domingo. A coleção de barbáries em apenas dois meses de temporada no futebol brasileiro finalmente fez o secretário nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor se manifestar sobre a violência dentro e fora dos estádios. Depois de ver as imagens do último domingo no Distrito Federal, Gustavo Perrella pretende agendar uma reunião emergencial com o Ministério da Justiça para pedir socorro na batalha contra os episódios recentes de selvageria nas arenas do país.
“Agora, nós vamos ter que fazer uma reunião emergencial com o Ministério da Justiça. Mas, de imediato, só se resolve com poder de polícia. Isso é o mais preocupante. Quando a polícia não faz o seu trabalho. A questão cultural é no decorrer do tempo”, disse ao blog Gustavo Perrella, filho do senador e ex-presidente do Cruzeiro, Zezé Perrella.
As tabelinhas entre os ministérios do Esporte e da Justiça não são novidade e estão longe de resolver o problema. Em 2013, depois da barbárie em Joinville (SC) entre as torcidas do Vasco e do Atlético-PR na última rodada do Campeonato Brasileiro, os então ministros Aldo Rebelo (Esporte) e José Eduardo Cardozo chegaram a apresentar com pompa, em Brasília, nove propostas para tentar frear a violência. Cogitou-se inclusive perda de pontos. Quatro anos depois, as barbáries desta temporada mostram a inércia das ações. No ano passado, foi lançado até o Marco de Segurança no Futebol — Guia de Recomendações para Atuação de Forças de Segurança Pública em Praças Desportivas.
Questionado sobre as medidas que a Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor desenvolve (ou tenta desenvolver) para combater a violência, Gustavo Perrella respondeu. “Tem algumas medidas que a gente tem tomado. Seminários com organizadas. Termos de cooperação e de compromisso. Estamos reformulando o marco de segurança com o Ministério da Justiça. Coibição é assunto junto aos governos. Temos a campanha Geral na Paz”, enumerou o secretário.
“De imediato, só se resolve (a violência no futebol) com poder de polícia. Isso é o mais preocupante. Quando a polícia não faz o seu trabalho. A questão cultural é no decorrer do tempo”
Na conversa com o blog, Gustavo Perrella se manifestou contrário a jogos com torcida única. Também não defende a interdição de estádios, como fez o Tribunal de Justiça Desportiva do Distrito Federal nesta segunda-feira com o Bezerrão. “Quando há omissão por parte dos organizadores, sim. Mas quando o estádio cumpre todas as suas obrigações, isso não é problema. O problema são os bandidos, criminosos. Gente que usa a camisa dos clubes para fazer atos de violência não somente em um estádio, mas em qualquer um, interditado ou não”, opinou.
Especificamente sobre o episódio no Bezerrão, Gustavo Perrella afirmou. “O sentimento é de indignação. A sensação de injustiça é o que nos deixa mais tristes. Estádio é um local em que famílias se reúnem e o futebol está perdendo a credibilidade. Os números mandam. Em Minas, onde vivo de perto o futebol, já fizemos clássicos com torcida única. Neste ano, teve cruzeirenses e atleticanos no Mineirão (na Primeira Liga) e houve reforço especial no policiamento”, alega.
Nomeado em junho do ano passado pelo Governo Federal, Gustavo Perrella é o quinto nome diferente a ocupar a Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor. A pasta vinculada ao ministro do Esporte, Leonardo Picciani, foi criada em 2009, no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma das atribuições do cargo — senão a principal — é o desenvolvimento de uma política nacional de combate à violência no futebol brasileiro. Antes de Perrella, ocuparam o cargo Alcino Reis, Toninho Nascimento, Rogério Hamam e Ricardo Gomyde.
No papel era lindo…
Medidas contra a violência anunciadas em 2013 pelos ministérios do Esporte e da Justiça depois da barbárie de Joinville, em Santa Catarina, entre organizadas de Vasco e Atlético-PR
1 – Guia de procedimento de segurança para atividades esportivas
Padrão de comportamento dos órgãos de segurança pública e privada em eventos esportivos, especialmente em jogos de futebol. Serão definidas competências, deveres e responsabilidades de cada ente envolvido nos eventos;
2 – Juizado de torcedores:
Será recomendado aos órgãos de justiça de todos os estados a instalação de juizados de torcedores nos estádios de futebol.
3 – Delegacias especiais
Recomendação aos governos dos estados a instalação de delegacias especiais para os torcedores.
4 – Cadastro de torcidas
Conclusão do cadastro nacional de torcedores, que seria utilizado para impedir a entrada nos estádios de pessoas com histórico de brigas. A proposta faz parte do programa “Torcida Legal”, anunciado pelo Ministério em 2011. No entanto, após suspeitas de irregularidades no projeto, o cadastro acabou atrasando.
5 – Maior responsabilização dos clubes
Medidas para aumentar a responsabilidade dos clubes com torcedores envolvidos em brigas. Uma das propostas, que deve ser discutida pelo Conselho Nacional do Esporte (CNE), é a punição com perda de pontos em casos considerados muito graves.
6 – Segurança integrada
Seguindo o modelo de segurança montado para a Copa de 2014, o Ministério da Justiça trabalhará no sentido de integrar as polícias que atuam nos eventos esportivos em todo o país.
7 – Qualificação dos estádios:
O governo vai trabalhar junto aos estados, clubes e a CBF no desenvolvimento de um plano para equipar os principais estádios brasileiros com modernos sistemas de segurança, semelhante ao que está sendo feito com os estádios da Copa de 2014.
8 – Câmara técnica
Será instalada uma câmara técnica do Ministério da Justiça que ficará responsável por acompanhar os eventos esportivos no país, promovendo a integração entre os estados.
9 – Estatuto da Segurança Privada
O Ministério da Justiça deve encaminhar em breve ao Congresso Nacional a proposta de Estatuto da Segurança Privada, que definirá novas regras para o setor.