Andar de metrô pelo Rio de Janeiro nos Jogos Olímpicos é o maior barato. O contato com a irreverência e o deboche do carioca. A ideia desse post partiu de um torcedor do Vasco que conheci no vagão na viagem entre as estações Botafogo e Maracanã. Ele olhou para a minha credencial e disse: “Tu é jornalista, mermão?” Balancei a cabeça positivamente e ele soltou a língua. Disparou a falar no meu ouvido.
Seu Antônio Teodoro pediu para eu lembrar que, durante muito tempo, São Januário, campo de treino do time do coração dele, ficou marcada como pé-frio por ter abrigado a preparação do Brasil para a Copa do Mundo de 1950. Segundo ele, os rubro-negros dizem que a Seleção perdeu para o Uruguai justamente por ter escolhido o Gigante da Colina como sua casa. Em 2013, a CBF chutou a superstição para escanteio. O Brasil treinou na casa do Vasco na véspera da decisão da Copa das Confederações contra a Espanha e venceu por 3 x 0. “Aquilo lá foi prova de que essa história de São Januário pé-frio não tem nada a ver, põe lá no teu jornal”, cobrou, com o dedo em riste.
Só que seu Teodoro falou alto e um flamenguista ouviu. De repente, começou um Clássico dos Milhões no vagão. O rubro-negro que não tive tempo de perguntar o nome porque desceu rápido do metrô soltou essa. “Deixa de onda, rapá, só porque o Flamengo deu camisa para o Neymar, larga de inveja. Tu não fala pra ele que a Argentina treinou lá em São Januário na véspera da decisão com a Alemanha não, né. Conta as coisas ruins também”, alfinetou, antes de descer na Estação São Cristóvão.
O vascaíno ficou sem graça, mas logo recuperou o bom-humor. “Eu só quero ver na final contra a Alemanha. O Brasil treinou aonde, mesmo? Lá no Ninho do Urubu, lá naquele fim de mundo em Vargem Grande. Se perder a medalha de ouro, pé-frio é o Flamengo. E eu vou logo dizer antes que você dessa aí no palco da tragédia, meu irmão: eu vou torcer pra Alemanha”, riu. “Ainda mais depois que o Renato Augusto e o Neymar receberam camisa do Flamengo, eu nem sabia dessa, agora é que eu não torço, mermo”.
Desci na Estação Maracanã com uma pulga atrás da orelha. Será que seu Antônio Teodoro, morador da Pavuna, vestiria a camisa rubro-negra da… Alemanha? Queria muito saber…