A relaçao entre o Flamengo e Jorge Sampoli completa 120 dias nesta segunda-feira. A conta começa em 16 de abril, quando o treinador argentino desembarcou no Rio de Janeiro para ver a estreia do time contra o Coritiba no Campeonato Brasileiro. Foi recebido por dirigentes rubro-negros no Galeão, descansou, almoçou e seguiu para as tribunas de honra do Maracanã. De lá, viu a equipe liderada pelo interino Mário Jorge derrotar o Coritiba por 3 x 0. Na estreia, o técnico comandou a vitória 2 x 0 contra o Ñublense com dois gols do centroavante Pedro.
De lá para cá, o Flamengo acumula mais baixos do que altos. É possível contar nos dedos de uma mão as grandes exibições. Muita em um tempo só ou em trechos de uma etapa. Pouquíssimas do apito inicial ao final. Sampaoli comandou efetivamente o Flamengo a partir da segunda rodada da Série A. Viu o Botafogo disparar na liderança. A vantagem alvinegra é de 14 pontos!
Na Libertadores, conseguiu a proeza de empatar por 1 x 1 com o frágil Ñublense na fase de grupos. Na quinta-feira passada, viu o Olimpia virar um placar agregado de 0 x 2 para 3 x 2 no Defensores del Chaco, eliminar o atual campeão e avançar rumo às quartas de final.
Nesta quarta-feira, o Flamengo defenderá vantagem de dois gols pela terceira vez na temporada em uma partida eliminatória. Como acreditar na classificação diante de dois traumas recentes?
Em abril, o Flamengo ostentava uma vantagem de 2 x 0 construída no primeiro jogo da final do Carioca contra o Fluminense. Entre tapas e beijos com o técnico português Vítor Pereira, levou goleada de 4 x 1 do Fluminense no duelo de volta e perdeu o título do Campeonato Carioca.
Nas últimas semanas, o Flamengo abriu 1 x 0 contra o Olimpia no Maracanã na partida de ida das oitavas de final da Libertadores. Viajou para Assunção e vencia por 1 x 0. Totalizava vantagem de 2 x 0 no agregado. No entanto, o time se desmilinguiu no gramado do Defensores del Chaco, sofreu três gols de cabeça e perderá o patch de campeão da Libertadores no fim do ano.
A gestão do Flamengo é um contraste. Toma decisões rápidas como as dispensas e negociações de Marinho e Vidal. Faz o que se espera de qualquer empresa no mundo corporativo ao demitir o preparador físico Pablo Fernández por ter dado soco no rosto do centroavante Pedro. Ao mesmo, tempo, empurra com a barriga a resolução de uma queda de braço no vestiário.
O plantel do Flamengo e Jorge Sampaoli não falam a mesma língua. O empate por 1 x 1 com o São Paulo deixa isso evidente. Sim, havia um time em depressão depois da eliminação contra o Olimpia, mas a indiferença no jogo era gritante. O sistema defensivo deixa Lucas Moura evoluir com a bola no pé como se o atacante tricolor estivesse desfilando na Marquês de Sapucaí.
Ironicamente, o gol do empate começa nos pés de um xodó de Sampaoli, o ponta Luiz Araújo, derrubado dentro da área por Michel Araújo depois de receber a bola em impedimento, e termina na cobrança de pênalti do desafeto Pedro. Para variar, o centroavante bateu mal, diga-se de passagem, com a força suficiente para evitar a defesa do goleiro Jandrei.
O resultado não esconde problemas. Substituído por Pedro, Gabriel Barbosa deixa o gramado pela linha lateral do outro lado do campo. Dá uma volta imensa por trás da trave do São Paulo. O camisa 10 não cumprimentou Pedro. Arrascaeta fez cara feia ao Sampaoli tirá-lo para a entrada de Everton Ribeiro. Àquela altura, o Flamengo perdia por 1 x 0.
Marcos Braz fez o papel dele. Fingiu que está tudo bem. Só que não. Lembro-me de uma bela entrevista do lateral-direito Rafinha ao programa Bola da Vez da ESPN ao colega André Plihal. “O Flamengo é uma bomba-relógio, tem que estar toda hora atrasando ela para não explodir”.
Já era assim na gestão de Jorge Jesus. Continua nos 120 dias de Sampaoli. Habilidoso para lidar com medalhões nos vestiários, o vice de futebol atrasou a bomba até o duelo de volta com o Grêmio pelas semifinais da Copa do Brasil. Lembro: a vantagem de 2 x 0 não é garantia de nada. O placar era esse contra Fluminense e Olimpia. É o mesmo contra o tricolor gaúcho. Portanto, é atrasar a bomba novamente ou vê-la explodir e mandar a temporada inteira pelo alto.
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