A decisão de 51,9% da população do Reino Unido de abandonar a União Europeia no referendo encerrado na madrugada desta sexta-feira tem impacto direto em um dos campeonatos nacionais mais ricos e badalados do Velho Mundo: a Premier League.
Até o desfecho da apuração do referendo, qualquer jogador com passaporte europeu podia viver e trabalhar no Reino Unido sem a necessidade de um visto de trabalho. Benefício do acordo de livre circulação de pessoas e de trabalho com os membros do bloco. Com a opção de saída da União Europeia, isso vai mudar. Haverá necessidade de um visto de trabalho. Logo, a tendência é que fique mais difícil contratar europeus. Segundo um censo recente do país, os chamados jogadores europeus são mais de 400 nas ligas do Reino Unido.
Para obter o visto de trabalho, um jogador precisa ter disputado uma porcentagem de jogos com a camisa da seleção de seu país de acordo com o ranking da Fifa. Para times entre a primeira e a décima posição, é exigida uma participação de 30% na seleção nacional; para equipes entre a 11ª e a 20ª posição, 45%. E assim por diante, até as 50 primeiras colocadas na lista da entidade máxima do futebol. Diante do sim à saída da União Europeia, os 27 membros restantes do bloco teriam, hoje, de atender ao pré-requisito para emplacar jogadores, por exemplo, no Campeonato Inglês.
Segundo um levantamento da BBC, 332 jogadores europeus empregados na Premier League, na segunda divisão inglesa e na elite da Escócia não cumprem o requerimento. Entre eles, Bellerin e Coquelin (Arsenal), Nasri e Jesús Navas (Manchester City), De Gea, Schnederlin e Juan Mata (Manchester United). Em tese, eles não teriam mais condição de atuar na Inglaterra. Cada caso precisa ser avaliado separadamente. Ainda segundo a BBC, apenas 23 dos 180 jogadores europeus e não britânicos da Championship — a segunda divisão inglesa — receberiam licença de trabalho. Nenhum na primeira divisão escocesa.
Há dribles na regra, como o do zagueiro Gabriel Paulista, do Arsenal. O zagueiro conseguiu o visto de trabalho sem ter jogado pela Seleção Brasileira, algo muito raro. Uma outra regra que costuma ser driblada diz que jogadores abaixo dos 18 anos estão proibidos de se transferir para a Premier League, de acordo com o artigo 19 do Estatuto dos Regulamento. Porém, há três exceções: se a mudança para Inglaterra não tiver a ver com futebol, como por exemplo, caso os pais arranjem emprego na Inglaterra; se os jovens viveram perto da fronteira do Reino Unido; ou se os menores tiverem idades compreendidas entre os 16 e os 18. Por esses pré-requisitos, jogadores, por exemplo, como Januzaj (Bélgica), ou Timothy Fosu-Mensah ou Fàbregas nunca poderiam ter se transferido para a Inglaterra. Martial, do Manchester United, teria sido impedido de jogar no país.
Quem foi favorável à saída da União Europeia defende o Brexit deve fortalecer a seleção da Inglaterra com o aumento de número de vagas para jogadores do país nos principais times do país. Especialista em imigração esportiva, Maria Patsalos discorda em entrevista ao site da revista espanhola Panenka. “Perderíamos jogadores e treinadores, e os clubes teriam enormes obstáculos para manter seu nível”, rebate. “Há quem argumente que seria uma magnífica oportunidade de desenvolvimento para contratar jogadores mais baratos e potenciar o talento local. No entanto, o argumento contrário é que é precisamente o talento estrangeiro que melhora o local”, argumenta.