Flamengo Bolsonaro é recebido por jogadores do Flamengo, em janeiro, no CT do Brasiliense. Foto: Reprodução Bolsonaro é recebido por jogadores do Flamengo, em janeiro, no Centro de Treinamento do Brasiliense. Foto: Reprodução

O poder da bola: saiba como são os laços dos times semifinalistas da Copa do Brasil com Bolsonaro

Publicado em Esporte

Protagonistas do último capítulo das semifinais da Copa do Brasil 2021 nesta quarta-feira, às 21h30, Flamengo, Athletico-PR, Fortaleza e Atlético-MG têm uma característica em comum: a proximidade com o governo do presidente da República, Jair Bolsonaro. Uns assumidamente. Outros discretamente. Foi assim antes e depois das eleições de 2018.

A diretoria do Flamengo é a mais “bolsonarista” das quatro. O cordão umbilical com direito a visitas ao Palácio do Palácio do Planalto permitiu, por exemplo, acelerar a retomada do futebol no país em meio à pandemia. Era o que o presidente desejava e o clube carioca comprou o discurso à época. O Campeonato Carioca foi o primeiro a ser reiniciado. 

As ações do Flamengo em parceria com o governo foram além. Da tabelinha entre a Gávea e o Palácio do Planalto nasceu, por exemplo, a Lei do Mandante, embrião do que se tornou a Lei do Futebol Livre, aprovada no Congresso Nacional e sancionada neste ano por Bolsonaro. Por sinal, o Chefe de Estado entregou até camisa do clube mais popular do país ao presidente do país mais populoso do mundo — Xi Jinping. 

Palmeirense assumido, vai aos jogos do Flamengo, principalmente, no Mané Garrincha. Em alguns deles a tiracolo com o hoje desafeto Sergio Moro, ex-ministro da Justiça. Adora também dar uma passadinha nos treinos do time em Brasília. No último deles, em janeiro, foi ao Centro de Treinamento do Brasiliense, no Setor de Clubes Sul. Era véspera da partida contra o Palmeiras, no Mané Garrincha, pelo Campeonato Brasileiro. Bolsonaro foi recebido por jogadores e alguns membros da comissão técnica liderada à época por Rogério Ceni. Sucesso do ex-goleiro, Renato Gaúcho é assumidamente bolsonarista. Foi, inclusive, consultado pelo presidente sobre a retomada do futebol. 

Adversário do Flamengo nesta quarta-feira, no Maracanã, o Athletico-PR foi usado como cabo eleitoral de Bolsonaro nas eleições de 2018. Ordem do presidente Mario Celso Petraglia, um dos fiéis apoiadores do atual governo. 

Durante a corrida presidencial ao Palácio do Planalto, o Furacão entrou em campo duas vezes com a terceira camisa, amarela, em alusão à cor da campanha de Bolsonaro. Foi assim contra o América-MG e o Botafogo — este último, na véspera do segundo turno contra o petista Fernando Hadad. Uma faixa na Arena da Baixada dizia: “Vamos Todos Juntos por Amor ao Brasil”. Os jogadores pisaram no gramado com camisas amarelas. O zagueiro Paulo André se recusou a exibi-la e colocou uma jaqueta por cima da blusa.

Paulo André foi um dos jogadores à época que assinou o manifesto Democracia Sim numa lista de 332 personalidades do país e argumentou: “É preciso dizer, mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial. É preciso recusar sua normalização e somar forças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino coletivo entre nós”, criticou. 

O primeiro ato político do Athletico-PR pró-Bolsonaro foi punido pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) à época. Houve multa de R$ 700 mil. Na época, o clube pediu autorização à CBF, mas a entidade máxima do futebol brasileiro negou. “O Atlético-PR deveria ter precaução. O pedido foi indeferido. Entendo condenar por descumprir um ofício da CBF”, explicou o auditor Eduardo de Mello à época. “Temos que ter em mente que pessoas estão morrendo por questões políticas. Não posso entender que aquela manifestação política é boa e correta”, completou o auditor José Nascimento no julgamento.

Em uma das raras manifestações sobre o apoio a Bolsonaro, Petraglia justificou a opção nas eleições de 2018. “Nossa posição e demonstração de apoio pelo projeto vencedor foi com um único objetivo: termos o melhor para o nosso Brasil”, escreveu no Facebook. 

Atlético-MG e Fortaleza são mais discretos no relacionamento institucional com o Palácio Planalto, mas é possível notá-los. Mecenas do Galo, o empresário Rubens Menin tem proximidade com Bolsonaro. Defendeu, por exemplo, o tratamento precoce contra a covid-19. “Mesmo para leigos como eu, parece bastante óbvio, quanto mais cedo começarmos um tratamento médico de qualquer doença, inclusive covid-19, melhores serão os resultados. Não entendo a lógica que alguns defendem, em retardar qualquer tratamento. Imagino que as chances serão menores”, escreveu em junho no Twitter. 

A relação sofreu abalo em agosto deste ano, quando um dos filhos do presidente, Eduardo Bolsonaro, usou o Twitter para criticar a CNN e pedir o fechamento da emissora de Menin. “Jornalista da CNN Brasil dizendo que de fato há assuntos mais prioritários para se tratar do que impeachment de ministro do STF. Tire a CNN do ar e o salário dele. Vejamos se ele segue com a mesma opinião”, desafiou.

Antes da gestão do mandatário Sergio Coelho, o ex-presidente do Atlético-MG, Sergio Sette Câmara, visitou Bolsonaro na capital em dezembro de 2019 e presenteou o presidente da República com um kit de produtos do Galo. No ano passado, Bolsonaro apareceu publicamente vestindo a camisa do clube, no Palácio da Alvorada, durante um encontro com o deputado estadual cearense André Fernandes. 

O Fortaleza é o mais pé atrás entre os quatro semifinalistas da Copa do Brasil. No ano passado, foi representado pelo presidente Marcelo Paz em uma caravana de sete clubes rumo ao Palácio do Planalto para interceder pela Lei do Mandante, sancionada neste ano por Bolsonaro. A reunião foi registrada pela equipe de comunicação do governo. 

Depois do encontro, Marcelo Paz limitou-se a falar sobre os interesses em comum da caravana presente em Brasília. “Foi uma visita institucional, fomos muito bem recebidos. “Ele conversou sobre futebol, perguntando quando volta. Ele gosta muito de futebol e nos recebeu com carinho, gostou das camisas levadas pelos clubes, e perguntou qual a situação de cada estado sobre a volta do futebol”, afirmou, em junho do ano passado. 

 

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