Da classificação às oitavas de final da Copa Sul-Americana no ano passado ao quinto lugar na primeira fase do Campeonato Candango e a eliminação precoce nas quartas de final. Apontado como um dos favoritos ao título no início do ano, e responsável por altos investimentos, como as contratações do veterano Baiano por R$ 100 mil e do técnico Julinho Camargo, o Brasília está fora de duas das três competições previstas para o ano. Caiu diante do Vila Nova-GO na Copa Verde e contra o Ceilândia na última quarta-feira, nos pênaltis. Resta apenas a Copa do Brasil, com estreia nesta terça-feira, contra o Bragantino-SP.
Em entrevista ao blog na Sabatina do Sábado, o presidente do Brasília, Luis Felipe Belmonte, faz um balanço da pior campanha do Brasília no Candangão em quatro anos. O clube vinha de uma série de três vices e neste ano não chega sequer às semifinais. A seguir, o dirigente assume erros de gestão, critica a arbitragem em jogos pontuais, desconfia do interesse de terceiros de minar o Brasília, ataca a administração do Estádio Nacional Mané Garrincha, dá sua justificativa para o clube ter a pior média de público do Candangão e compara o vexame do Brasília às eliminações do Barcelona na Liga dos Campeões da Europa e do Palmeiras na Copa Libertadores da América.
MPL – Que balanço o senhor faz da ausência nas semifinais?
Luis Felipe Belmonte – Desastroso. Põe por terra todo o planejamento. Agora é repensar o que realmente vale a pena fazer.
MPL – O senhor pensa em largar o Brasília?
Luis Felipe Belmonte – Repensar é a palavra da vez. Fiquei assustado com algumas constatações. Estou convencido de que houve interesses em tirar o Brasília do páreo. Eu já previa isso, mas acreditava que o time ia corresponder e superar tudo isso.
MPL – Interesses de quem?
Luis Felipe Belmonte – Assumo os erros internos e da minha responsabilidade, mas uma conjugação de fatores permite que eu tenha minhas conclusões.
MPL – Quais dificuldades?
Luis Felipe Belmonte – Dificuldades com estádio, sistemático noticiário depreciativo na imprensa e arbitragens desastrosas. Afinal, ninguém aqui é criança.
Estou convencido de que houve interesses em tirar o Brasília do páreo. Eu já previa isso, mas acreditava que o time ia corresponder e superar tudo isso. Assumo os erros internos e da minha responsabilidade, mas uma conjugação de fatores permite que eu tenha minhas conclusões
MPL – Quais foram os erros de arbitragem?
Luis Felipe Belmonte – A expulsão absurda do Índio contra o Luziânia, aos 30 minutos do primeiro tempo, apenas porque ele reclamou de uma falta contra nossa atleta e em um momento em que estávamos melhor no jogo. O (Rodrigo) Raposo contra o Santa Maria deu cinco cartões amarelos na minha defesa em 15 minutos do primeiro tempo. O mesmo Raposo, contra o Ceilândia, em Formosa, anulou um gol nosso alegando falta. Vi e revi o lance. Nosso jogador subiu sozinho. Não houve falta nem dele nem de outro. No mesmo jogo, Murilo entra na área livre e é empurrado pelas costas dentro da área. O juiz diz que ele se jogou. Se jogou como, se ele estava sozinho com o goleiro? Tenho os lances filmados e posso te mandar para sua avaliação. Isso não pode ser apenas equívoco e coincidência.
MPL – Quando o senhor fala que assume os seus erros, quais foram eles?
Luis Felipe Belmonte – Demorei a corrigir problemas identificados. Pretendi dar oportunidades, quando sabia que devia corrigir procedimentos. Mas ainda assim montamos um elenco que acreditei ser capaz de um melhor desempenho. Sem querer comparar, obviamente, mas conforta saber que, no mesmo dia (da eliminação do Brasília diante do Ceilândia) o Barcelona foi eliminado (pelo Atlético de Madri) da Champions League, também nas quartas de final. No futebol tudo é possível acontecer.
MPL – Leandro Rodrigues, Omar Feitosa e Julinho Camargo foram erros?
Luis Felipe Belmonte – Não quero personalizar. O erro foi meu em demorar a agir. Julinho é um técnico de excelente nível. Talvez, mais do que eu precisava. Sabe formar jogadores e equipes, mas precisa de tempo.
MPL – Não seria melhor ter reformado um estádio da cidade para jogar nele em vez de quebrar cabeça com o Mané Garrincha e perambular por estádios em Luziânia, em Formosa…
Luis Felipe Belmonte – Não. O que se esperava é que a manutenção do Mané fosse feita antes do período de competições e não durante os campeonatos. Afinal, foi um estádio construído para se jogar futebol e é onde o Brasília sempre mandou seu jogos. Só porque enricou empreiteiras e agentes outros estará inviável para clubes locais?
MPL – Em um estádio próprio, reformado ou alugado o time teria uma casa, conheceria os atalhos do campo e não ficaria dependendo do Mané. Um exemplo: jogaria no Cave, por exemplo. Não teria sido melhor?
Luis Felipe Belmonte – Como eu disse, tudo está sendo repensado. Tudo.
O que se esperava é que a manutenção do Mané fosse feita antes do período de competições e não durante os campeonatos. Afinal, foi um estádio construído para se jogar futebol e é onde o Brasília sempre mandou seu jogos. Só porque enricou empreiteiras e agentes outros estará inviável para clubes locais?
MPL – As vagas para a Série são para dois anos, 2016 e 2017. Como administrar o prejuízo de saber que o Brasília só poderá disputar a quarta divisão em 2018?
Luis Felipe Belmonte – Pergunte à CBF. Quem sabe ela tem uma boa ideia.
MPL – Qual é a sua expectativa para a estreia na Copa do Brasil terça-feira contra o Bragantino?
Luis Felipe Belmonte – A expectativa da Copa do Brasil é normal. Jogo a jogo veremos o que acontece. Jogaremos com o Bragantino com uma equipe modificada e esperamos que renda.
MPL – O Brasília chegou às oitavas de final da Sul-Americana eliminando Goiás e Atlético-PR. Aquela campanha iludiu na sequência do trabalho para o Candangão?
Luis Felipe Belmonte – A campanha do Brasília na Sul-americana veio de um time bem montado pelo Luis Carlos e bem ajustado pelo Omar. Esteve bem e poderia até ter ido mais longe. Porém, no campeonato, embora tenhamos feito boas partidas, muitas delas com maior volume de jogo, isso não foi traduzido em gols e futebol é resultado. Acontece. O Palmeiras foi o clube que mais investiu no Brasil e não conseguiu os resultados almejados, o Barcelona, no mesmo dia que o Brasília, foi eliminado, também nas quartas de final. Futebol tem lógicas que desafiam a própria lógica. Ainda acho que montamos um elenco de qualidade, mas que não rendeu o esperado.
MPL – O que Brunoro e Leandro Rodrigues deixaram de legado para o Brasília? E Omar Feitosa e Julinho Camargo?
Luis Felipe Belmonte – Prefiro não falar em legados. Cada um contribui como pode, mas quero destacar o trabalho de Julinho Camargo, um técnico de nível extraordinário, formador de craques. Infelizmente, o tempo de trabalho que tivemos não permitiu que ele preparasse melhor a equipe. Também destaco o excelente trabalho de Julio Soster como diretor técnico de futebol. Eles continuam nos apoiando, mesmo não mais integrando o quadro do clube.
Sem querer comparar, obviamente, mas conforta saber que, no mesmo dia (da eliminação do Brasília diante do Ceilândia) o Barcelona foi eliminado (pelo Atlético de Madri) da Champions League, também nas quartas de final. No futebol tudo é possível acontecer
MPL – Incomoda o Brasília ter a pior média de público do Candangão?
Luis Felipe Belmonte – Não incomoda, não. Tivemos que jogar fora de Brasília três vezes, mesmo tendo mando de campo, pela inviabilidade de estádios no DF. No tempo certo, tudo acontece e esse ano não foi o tempo de acontecerem as coisas para o Brasília no Candangão. O que incomodou foi não termos conseguido cumprir o planejamento, com seguidos entraves internos. Incomodou foi o time não ter rendido todo o seu potencial. O que incomodou foi a imprensa seguidamente dar notícias depreciativas do clube, mesmo diante de situações em que não tínhamos nenhuma responsabilidade pelos problemas. O que incomodou foi ter erros escandalosos de arbitragem, devidamente registrados em vídeo e facilmente constatáveis. Mas hoje não estou nem incomodado nem acomodado. Temos que aprender com os erros e corrigir rumos. Tenho perfeitamente claro quais os próximos passos que devo dar e ao tempo próprio farei o que necessário se fizer.
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