A Seleção Brasileira tem dado uma sorte danada em clássicos contra o Uruguai quando despreza atacantes que estão em alta no exterior e os convoca em cima da hora — como é o caso, por exemplo, de Jonas, chamado às pressas para substituir o lesionado Roberto Firmino. Vou lembrar, aqui, antes de a bola rolar para o clássico de hoje na Arena Pernambuco pela quinta rodada das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo da Rússia-2018, ao menos três casos de salvadores da pátria que eram ignorados até enfrentar a Celeste.
Lembram do sufoco nas Eliminatórias para a Copa de 1994? Sob o comando do técnico Johan Cruyff, Romário pintava e bordava com a camisa do Barcelona. No entanto, o técnico do Brasil, Carlos Alberto Parreira, não queria vê-lo nem pintado de ouro com a camisa 11 da Seleção. O treinador só se rendeu quando a Seleção corria o risco de ficar fora do Mundial. Romário classificou o país marcando os dois gols da vitória sobre o Uruguai em uma tarde histórica no Maracanã. Ah, se não fosse o Baixinho naquele 19 de setembro de 1993…
Em 2007, foi a vez de o técnico Dunga escrever certo por linhas tortas contra o Uruguai. Luis Fabiano colecionava gols e mais gols com a camisa do modesto Sevilla na temporada europeia. Mas o titular da Seleção era Vágner Love. E o reserva dele, Afonso Alves. Largo que só ele, Dunga foi obrigado a cortar o contundido Afonso. Quem ele chamou? Luis Fabiano!
Reserva no empate por 1 x 1 com o Peru, Luis Fabiano ganhou a posição para a partida seguinte da rodada dupla pelas Eliminatórias para a Copa de 2010. Em pleno Morumbi, o Fabuloso sacou dois gols da cartola e virou a partida diante do Uruguai para 2 x 1. A Celeste vencia o jogo até com um gol sabe de quem? Do Loco Abreu. Mas os deuses da bola escreveram certo por linhas tortas. Cortado, Afonso Alves viu Luis Fabiano não apenas decidir, mas assumir de vez a camisa 9 verde-amarela até a Copa da África do Sul.
Não sei qual é o destino reservado para o clássico desta sexta-feira, na Arena Pernambuco, mas Dunga tentou ser teimoso novamente. O centroavante Jonas, do Benfica, briga com Luis Suárez e Cristiano Ronaldo pela Chuteira de Ouro — prêmio entregue ao maior artilheiro das ligas nacionais europeias em uma temporada. Mas o técnico da Seleção não chamou Jonas na primeira lista para os duelos contra Uruguai e Paraguai. Ele só se rendeu ao centroavante quando Roberto Firmino — que havia sido chamado para o lugar de Kaká — se machucou e teve de ser cortado.
Renegado duas vezes por Dunga na mesma convocação, Jonas dificilmente deve entrar em campo hoje contra o Uruguai. A preferência no início ou durante a partida é por Ricardo Oliveira. Mas anotem aí: se o Jonas pisar no gramado, é bom ficar de olho nele. Quem sabe baixa um Romário de 1993 nele. Ou, talvez, um Luis Fabiano de 2007.
Na sexta-feira da Semana Santana, podemos ressuscitar mais uma vez um centroavante que andava desprezado pelo técnico da Seleção Brasileira… Boa sorte se você jogar, Jonas!