A derrota do Flamengo para o Independiente del Valle, em Quito, no primeiro duelo da final da Recopa Sul-Americana, evidencia que Vítor Pereira precisa deixar claro de uma vez por todas o que pensa para o Flamengo e colocar em prática doa a quem doer sob pena de o maior penalizado ser ele próprio caso perca o terceiro título em dois meses no cargo.
O técnico rubro-negro se mantém refém do legado de Dorival Júnior e parece intimidado a mexer, por exemplo, no quadrado formado por Éverton Ribeiro, Arrascaeta, Gabi e Pedro. Para mim, está claro que o português pretende usar Éverton Ribeiro ou Arrascaeta no meio de campo e Gabi ou Pedro no ataque, ou seja, ele é favorável ao fim do quadrado para remontar o time.
Tenho a impressão de que Vítor Pereira quer Everton Cebolinha entre os onze titulares. Ele sente falta de velocidade. Um jogador capaz de acelerar a partida e com característica de partir para cima no mano a mano, no um contra um. A formação emergencial usada por Dorival Júnior nas conquistas da Copa do Brasil e da Libertadores era muito bem articulada pelo meio com aproximação e passes curtos, porém carecia de velocidade, agressividade pelos lados do campo. Esse papel pertencia ao lateral-direito Rodinei. Com a ida dele para o Olympiacos da Grécia, esse papel passou a ser de Ayrton Lucas na esquerda. O Flamengo está capenga. Matheuzinho e Varela não dão a profundidade esperada. Daí a tentativa de inclusão de Cebolinha no time.
A biografia de Vítor Pereira tem poucos capítulos em que ele utilizou dois centroavantes, os chamados camisas 9. Ele tem sido tolerante com Gabi e Pedro porque ambos têm sido decisivos neste início de temporada. Em condições normais de temperatura e pressão, um seria titular e o outro sentaria no banco de reservas para o ataque ter no mínimo um ponta veloz e driblador.
Guardadas as devidas proporções, Vítor Pereira vive um dilema semelhante ao de Carlos Alberto Parreira na Copa de 2006. Criou-se o mantra do quadrado mágico formado por Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Adriano. Eles eram praticamente intocáveis. No entanto, o início do Mundial na Alemanha apresentou demanda por um atacante de velocidade. Robinho pedia passagem, mas o comandante verde-amarelo resistiu. Emerson e Zé Roberto se desdobravam na marcação para dar liberdade aos quatro homens de frente. Parreira até sacou Adriano do time nas quartas de final contra a França para colocar Juninho Pernambucano no meio de campo e adiantar Ronaldinho Gaúcho ao ataque ao lado de Ronaldo. O plano não funcionou. O Brasil foi eliminado.
Vítor Pereira está diante de um dos maiores desafios da carreira. Vive uma espécie de “decifra-me ou te devoro”. Ou dá um jeito de os quatro continuarem no time titular, como fez Dorival Júnior no ano passado, ou arrisca sacar dois deles do time, gerar desgaste e perder o emprego em caso de derrota para o Independiente del Valle na próxima terça-feira, no Maracanã.
Uma alternativa para colocar o que deseja em ação é recorrer a uma de suas melhores obras autorais: o Porto da temporada 2011/2012. O time tinha três volantes — Souza, Guarín e João Moutinho no papel de meia. Na frente, Hulk aberto na direita como uma espécie de ponta direita, Kléber Gladiador como homem de referência e Cristian Rodríguez aberto na esquerda. A derrota para o Palmeiras na Supercopa e o fracasso no Mundial transformaram o começo da temporada em uma ampulheta para a sequência do português no Flamengo.
Twitter: @marcospaulolima
Instagram: @marcospaulolimadf
TikTok: @marcospaulolimadf