Vini Junior Vinicius Júnior entrou em cartaz no último lance como super-herói. Foto: Minervino Júnior/CB.DA Press Vinicius Júnior entrou em cartaz no último lance como super-herói. Foto: Minervino Júnior/CB.DA Press

Raphinha e Vinicius Junior aprumam o desencaixado “LEGO” de Dorival Jr

Publicado em Esporte

Dorival Júnior ganhou uma caixa de LEGO da CBF há um ano, mas está com muita dificuldade para montar o brinquedo chamado Seleção e torná-lo minimamente atraente, divertido, lúdico para o torcedor. Há várias razões. A falta de repetição da escalação é uma delas. Não há continuidade devido às lesões, aos cortes, ao excesso de cartões, à carência de Neymar, a jogador no banco dos réus sob suspeita de alimentar manipulação de resultados e, em alguns casos, à falta de tamanho, mesmo, para vestir a camisa verde-amarela.

 

Taticamente, nem sempre a leitura do manual é aplicada da melhor forma e a construção do time sofre abalos. Compreensível. Esta costuma ser a pior Data Fifa no calendário. Os técnicos ficam praticamente quatro meses sem interagir com o elenco dos jogos realizados em novembro até a retomada, em março. Dorival Júnior vivia o dia a dia do trabalho nos clubes. É outra rotina profissional. Dos 11 titulares no último jogo do ano passado, o empate por 1 x 1 com o Uruguai, três sequer estão em Brasília: Ederson, Danilo, Abner Vinícius e Igor Jesus. Savinho também não iniciou o jogo.

 

Portanto, a vitória por 2 x 1 contra a Colômbia na noite desta quinta-feira, no Mané Garrincha, pela 13ª rodada das Eliminatórias para a Copa de 2026, mostrou mais uma vez graves problemas de encaixe — e dependência das individualidades de Raphinha e Vinicius Junior. Para sorte dos 70.027 pagantes, público recorde em 12 anos de novo Mané Garrincha, ambos se procuraram em campo e resolveram nos dois lances decisivos. Em contrapartida, bastou perder uma peça para o Brasil entrar em pane contra os atuais vice-campeões da América.

 

A conexão entre o badalado trio formado por Raphinha, Rodygo e Vinicius até funcionou no início do jogo. Foi do astro do Barcelona a assistência para o galático do Real Madrid invadir a área e sofrer o pênalti cometido por Muñoz. Escolhido para ser o cobrador oficial desde a goleada contra o Peru, em outubro do ano passado, Raphinha bateu bem, converteu, e deu a falsa impressão de que as peças do LEGO do Dorival estavam finalmente encaixados.

 

No entanto, aos 26 minutos do primeiro tempo, Gerson caiu no gramado e não voltou mais. Dorival Júnior consultou o manual e escolheu Joelinton para remontar o meio de campo. Gerson não fazia boa partida. Recuou uma bola no fogo para Marquinhos. No entanto, era o cara da saída de bola, do passe, da imposição física, do ritmo de um meio de campo carente de um camisa 10. Aí, o técnico da Seleção caiu em contradição.

 

Na entrevista coletiva pré-jogo, Dorival Júnior falou sobre o esforço para fazer os jogadores atuarem na mesma posição dos clubes. Joelinton entrou no papel de volante, porém não nas mesmas características do time inglês. Lá, ele forma um trio muito bem entrosad com Tonali e Bruno Guimarães. Contra a Colômbia, ele entrou para formar um par com Bruno Guimarães no 4-2-3-1. Para mim, o correto seria a entrada de André. Dorival preferiu o jogo físico e a altura de Joelinton: 1,86m.

 

Dorival recorreu ao entrosamento de Joelinton e Bruno Guimarães no Newcastle, mas uma falha individual do estepe de Gerson comprometeu o plano. Joelinton perde a bola para Arias no lance do contra-ataque da Colômbia. Em terra de pontas, quem tem um meia como James Rodriguez é rei.

 

A bola caiu justamente nos pés do discreto camisa 10. Bastou um lampejo para o garçom desmontar o LEGO de Dorival Júnior. Ele serviu Luis Díaz e o atacante colombiano não teve piedade do colega de time Alisson. Finalizou no cantinho do companheiro de Liverpool.

 

O Brasil sentiu o gol. Dorival Júnior também. A Seleção começou a desmanchar taticamente. A Colômbia notou a maior fragilidade do sistema defensivo verde-amarelo: a saída de bola. Em pane, as bolas eram excessivamente recuadas para o goleiro Alisson. O melhor goleiro com os pés é Ederson, mas o jogador do Manchester City, uma peça importantíssima do LEGO do Dorival, se machucou e foi cortado. Todas as bolas atrasadas para Alisson eram no fogo. Uma atrás da outra. Pior: o Brasil não atacava mais.

 

No segundo tempo, estabeleceu-se o caos. As peças espalhadas em campo não faziam mais sentido. Dorival Júnior tirou André, Savinho, Wesley, Matheus Cunha e Léo Ortiz do banco. De tanto receber bola no fogo, Alisson se lesionou e deu lugar a Bento. Virou um abafa com jogadores desencaixados tentando resolver a partida na base da individualidade, Faltava concatenação de ideias e sobrava vontade de ganhar o jogo. Wesley incendiou o time na estreia como lateral direito e criou pelo menos duas oportunidades.

 

Coube ao The Best Vinicius Junior colocar ordem na casa com uma pitada de sorte. Ele recebeu o passe de Raphinha e arriscou chute de fora da área. A bola desviou no azarado Lerma e matou o goleiro Vargas. A dificuldade foi grande para vencer foi grande. Dorival Júnior montou, desmontou, remontou o brinquedo e terá trabalho para juntar as peças do quebra-cabeça nos próximos quatro dias para enfrentar a Argentina, em Buenos Aires, sem o zagueiro Gabriel Magalhães e o volante Bruno Guimarães. Ambos estão suspensos, devem ser cortados e substituídos em um convocação extra nesta sexta-feira.

 

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