O governo do Distrito Federal deu aval. A Arena BSB deixou as portas abertas para alugar o Mané Garrincha a custo zero. A articulação nos bastidores para trazer o segundo Fla-Flu da final do Campeonato Carioca para Brasília existe. Foi publicada primeiro no blog do colega Mauro Cezar Pereira no UOL e confirmada pelo Drible de Corpo, mas pode esbarrar em pelo menos duas questões: o regulamento do Estadual e a falta de expertise para o controle do acesso do público ao estádio — principal argumento para a mudança. No caso do regimento da competição, cabe à Federação do Estado do Rio (Ferj) apontar brechas para descumprir o próprio texto, que veta finais fora do Estado. Em nota, a entidade admite fazer fazer o arranjo. Sobre a fiscalização, Ferj e os clubes teriam de assumir um plano de trabalho arriscado para controlar a entrada e a presença da plateia na arena. A CBF, por exemplo, fugiu disso na Supercopa do Brasil. Não pagou pra ver.
O artigo 38 do manual do Campeonato Carioca permite a realização de qualquer partida da competição fora do Estado do Rio. Brasília recebeu várias. Mas o texto veta decisão do título longe do Estado. O texto diz o seguinte: “Excepcionalmente, havendo acordo entre as partes e anuência da FERJ, qualquer partida do campeonato poderá ser realizada fora do Estado do Rio de Janeiro. Tal disposição não se aplica as Finais do campeonato, salvo em casos de excepcionalidades já referidas neste regulamento e com a anuência da FERJ”.
Parágrafo único no regulamento acrescenta: “Existindo impedimento legal de ordem governamental que vede a realização de partidas no território do Estado ou Município do Rio de Janeiro, caberá ao DCO da FERJ indicar o local que possibilite a realização de partidas em outro Município ou Estado da Federação, de forma a viabilizar a continuidade e conclusão do campeonato”, explica.
O artigo 23 trata sobre “excepcionalidades” e aponta as possíveis brechas para a realização da final fora do Rio. “No caso de restrição da atividade de futebol, a nível municipal ou estadual, decretada por autoridade governamental, qualquer partida do campeonato, inclusive as Finais, excepcionalmente, poderão ser realizada em estádio localizado em município ou estado que assim o permita, cabendo ao DCO da FERJ a decisão sobre a designação do local que atenda as disposições sanitárias e de estrutura, de modo a não prejudicar o prosseguimento ou conclusão do campeonato”.
A questão é que não há impedimento legal para a realização de jogos no Estado do Rio. Tanto que a primeira partida foi disputada no último sábado — empate por 1 x 1. Continua vetada, a presença de público no estádio. Mesmo assim, cerca de 150 convidados estiveram no Maracanã e a Secretaria Municipal de Saúde aplicou multa. Portanto, a “excepcionalidade” para tirar o jogo do Rio e trazê-lo para Brasília tem a ver claramente com a forçada de barra para colocar público no estádio. Nem que o público seja de convidados, como, aliás, aconteceu na decisão da Supercopa do Brasil. Weverton, goleiro do Palmeiras, reclamou da presença de infiltrados rubro-negros no Mané Garrincha.
“O departamento de competições da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, com competência para definição do local dos jogos, analisa a possibilidade de mudança da praça da decisão do Campeonato Carioca”
Nota da Ferj
Como a presença de público funcionaria aqui Brasília?
O blog apurou que o plano é reduzir a capacidade máxima do Mané Garrincha de 70 mil torcedores para 17.500 (25% da carga total). Metade do acesso ficaria com profissionais de saúde já vacinados — como pretendia o governador Ibaneis Rocha na decisão da Supercopa do Brasil — e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) rejeitou.
As negociações começaram na manhã desta segunda-feira. Ibaneis deu sinal verde para o avanço das negociações. A Arena BSB também sinalizou positivamente. Porém, a concessionária mostrou preocupação com o controle do acesso ao estádio, o respeito aos lugares marcados e ao distanciamento no interior do estádio. A maior preocupação, porém, diz respeito a falsificações de comprovantes de imunização. Isso demandaria a contratação de pessoal especializado. A CBF não quis pagar para ver e usou o regulamento para consolidar o não a Ibaneis.
O blog conversou com um dirigente do Flamengo sobre a possibilidade de o jogo sair do Rio. Segundo ele, o clube insiste com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, pela realização com público, mas no Maracanã. O clube rubro-negro considera o custo da logística elevado. Mesmo que alguém pague por isso, e interessados não faltam em Brasília, há uma avaliação, na Gávea, de que o Fluminense não toparia.
Tentei contato com o presidente da Ferj, Rubens Lopes, e com o presidente tricolor, Mario Bittencuout, mas ambos não responderam às ligações e mensagens de texto até a publicação deste post. Diante desse quadro, pelo menos duas fontes consultadas consideravam improvável a vinda do jogo para o Mané Garrincha.
No entanto, em nota, a Ferj admitiu: “O departamento de competições da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, com competência para definição do local dos jogos, analisa a possibilidade de mudança da praça da decisão do Campeonato Carioca”
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