Estou em Saint-Denis para a cobertura da final da Eurocopa entre Portugal e França neste domingo, às 21h aqui na França, 16h em Brasília. Na chegada ao estádio palco, entre outras decisões, da final da Copa do Mundo de 1998, foi automático olhar para o gramado e lembrar da voz de Galvão Bueno dizendo, surpreso: “Ronaldinho não joga”, mostrando a escalação do camisa 21 Edmundo enquanto Ronaldo, o Fenômeno, tentava se recuperar de uma convulsão horas antes da final. Impossível não olhar para o Stade de France e lembrar das duas cabeçadas letais de Zidane no primeiro tempo, do gol decisivo de Petit na etapa final, liquidando a Seleção Brasileira naquele 12 de julho de 1998. Eu ainda nem era jornalista. Aliás, era. Metido a locutor de jogos de time de botão nas partidas contra amigos de infância e adolescência na Quadra 1.205 do Cruzeiro Novo, em Brasília. Havia sido aprovado no vestibular de comunicação social da Universidade Católica de Brasília, cheio de vontade de trabalhar com esporte. Começava ali um dos muitos sonhos na profissão que curto de montão: cobrir, um dia, uma Euro depois de ver, criancinha, pela televisão, um xará fazer um golaço na decisão da Euro-1988: Marco van Basten, na vitória da Holanda sobre a extinta União Soviética.
Dezoito anos depois daquela inesquecível final da Copa de 1998 no Stade de France, dos primeiros passos na faculdade de jornalismo, aqui estou para contar, entre tantas histórias, a de outro Ronaldo, o Cristiano, de Portugal, que decidirá o título também contra a França, no mesmíssimo Stade de France. Quem sabe, com mais sorte do que o xará. O Fenômeno jamais balançou a rede no estádio com a amarelinha. Ronaldo, o Cristiano, pode brindar Portugal com o primeiro título da história diante de uma França que só perdeu três dos cinco torneios que disputou como anfitriã. Venceu a Euro-1984, a Copa do Mundo-1998 e a Copa das Confederações-2003; e perdeu a Copa do Mundo-1938 e a Eurocopa-1960.
O primeiro contato com o Stade de France foi nostálgico. Vi a decisão da Copa de 1998 pela tevê, no apartamento da minha mãe no Cruzeiro, ao lado da minha namorada que depois virou minha noiva, minha esposa e mãe da minha filhinha Isabela. Minha rainha Elisabete faz parte demais dessa história, ela sabe. Lembro também daquele 0 x 0 de 2004 entre França e Brasil — ambas com uniformes retrô, no histórico amistoso em homenagem aos 100 anos da Fifa. Como não lembrar do gol de Belletti, que está aqui na França, agora como comentarista do SporTV, na final da Liga dos Campeões de 2006 contra o Arsenal.
O Stade de France é maravilhoso. Palco de uma final de Eurocopa, então, fica mais belo ainda. Neste sábado, caminhei pelo palco da decisão antes de seguir para o Centro de Imprensa. Impressionante o profissionalismo da Uefa. Tudo milimetricamente pensado no espaço destinado ao jogo. Bancos de reservas envelopados, personalizados com as cores e os escudos das seleções finalistas, instalação de uma réplica gigante do troféu da Euro atrás de uma das traves, voluntários cuidando incansavelmente de cada detalhe — uma delas, brasileira.
No céu, sons de helicóptero sobrevoando a arena, policiais civis e militares atentos ao movimento nos arredores do estádio. Torcedores desembarcando de metrô na corrida para comprar ou retirar ingressos. Até a hora que deixei o estádio na noite de sábado, faltavam apenas as instalações das traves. Havia muita preocupação com o gramado do Stade de France na tarde de ontem, sacrificado com a realização de sete partidas desta Eurocopa.
Tem tudo para ser um grande espetáculo. A Eurocopa da torcida da Irlanda, do sucesso da marcante Islândia — para mim, uma das histórias do ano no futebol concorrendo com Wendell Lira, Leicester e Plaza Colonia — do impressionante Antoine Griezmann, que pode repetir, aos 25 anos, os protagonismos de Michel Platini e Zidane em outros títulos da França, merece uma bela decisão. E Estou aqui para tentar contá-la.
Prazer em conhecê-lo, Stade de France!