O jornalismo do Distrito Federal perdeu um craque nesta dura segunda-feira (11/3). Fui comandado três vezes na carreira pelo capitão Paulo Pestana. Iniciei a labuta em 2001 como estagiário no saudoso chão azul do Jornal de Brasília. Ele era o diretor de redação. Usava a braçadeira de capitão, mas falava pouco. Experiente, usava os atalhos do campo para fazer os gols dele. Liderava o time na base do olhar, da diplomacia, quase em silêncio, com um jeito diferente. Bem dele.
Eu era aprendiz no Torcida, o caderno de Esportes do JBr à época. Um dia, numa das passagens dele pela editoria, soube em uma rápida e rara conversa que ele torcia pelo América-RJ. Ele ouvia sempre com paciência de Jó as mesmas piadinhas sobre o time do coração, mas não apelava. Absorvia as provocações com elegância. Dominava cada zombaria no peito e saía jogando com estilo rumo à sala dele.
Também tabelei com Paulo Pestana na Agência Brasília. Eu era um dos editores do portal de notícias do Governo do Distrito Federal (GDF). Ele, um dos meus líderes. O estilo de gestão não mudou. Embora usasse quase sempre a camisa 10, Paulinho preferia a discrição. Distribuía as bolas, fazia assistências, comemorava gols e títulos no vestiário e praticamente passava despercebido pela redação do antigo Buritinga — quando a sede do executivo local mudou-se para Taguantinga Norte.
Batemos uma bola também no Correio Braziliense. Eu no esporte, ele um baita colunista no Divirta-se Mais, na Revista do Correio e leitor assíduo da nossa editoria. Sim, Paulo Pestana amava esportes. Automobilismo, então, nem se fala. Sensível para pinçar pautas como encontrar agulha em palheiro, chamou-me no privado do WhastApp no fim do ano passado para sugerir uma matéria. O “tarado” havia percebido que o piloto brasiliense Vítor Meira havia voltado às pistas. Não mais na Fórmula Indy ou em outra categoria — mas no ciclismo. O personagem havia participado de uma competição na Europa não mais sobre quatro, mas duas rodas. A bela história, claro, rendeu. Muito! Fizemos uma bela página, por sinal.
Observador, Paulo Pestana sabia que adoro cavar história antiga, encontrar personagens do arco da velha. E lá disparou ele uma mensagem novamente avisando que o ponta-esquerda Edu estava vindo a Brasília para o lançamento do Túnel Rei Pelé, um dos melhores amigos do craque do Santos e da Seleção Brasileira. Lembra que chamei Pestana de camisa 10? Ele deixou-me na cara do gol. Liguei para o Edu. Fiz um post para o blog, mandei o link para o Paulinho e a resposta econômica, a cara dele, tinha duas palavra em candanguês: “Ficou massa”.
Além de um senhor jornalista, perdemos um ilustre torcedor de um clube com 120 anos de história. Paulo Pestana é peça rara. Senta-se em uma arquibancada não muito fácil de escalar. Ele, José Trajano, Alex Escobar, Charles Gavin, Tim Maia, Noel Rosa, Heitor Villa-Lobos, Lamartine Babo, Dona Ivone Lara, Monarco, Oscarito, Jorge Perllingeiro, Leandro Hassum, Ari Fontoura e outros personagens são torcedores do América-RJ.
O clube carioca tem, para mim, um dos hinos mais lindos do futebol brasileiro. Portanto, encerro a minha homenagem ao Paulo Pestana — um dos quatro caras por quem tenho gratidão por ter gostado do meu trabalho e aprovado a minha contratação pelo Jornal de Brasília na conclusão do meu estágio —, com uma adaptação em um trecho da canção de Lamartine Babo:
“(…) Hei de torcer, torcer, torcer, hei de torcer até morrer, morrer, morrer, pois a torcida americana é toda assim, a começar por ti, Paulo Pestana!”
Foi bom conhecê-lo. Aprender com você. Obrigado por aquela carteira de trabalho do estagiário Marcos Paulo Lima assinada com a promoção a repórter de esportes. Meu primeiro emprego na selva de pedra do jornalismo.
Gratidão. Sempre! 😢
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