Pikachu Pikachu: dobradinha de laterais com Gilberto pela direta do Vasco. Foto: Carlos Gregório Jr/Vasco

Pikachu, Trauco, Léo Moura e Uendel: o que há em comum entre eles a essa altura da temporada?

Publicado em Esporte

A principal arma do Vasco no clássico deste domingo contra o Botafogo na final da Taça Rio é uma alternativa que tem se tornado cada vez mais comum no futebol brasileiro e foi muito utilizada no meio de semana tanto na Libertadores quanto na Copa do Brasil: o “falso meia”. Yago Pikachu, Miguel Trauco, Leonardo Moura e Uendel são laterais de origem, mas a essa altura da temporada do futebol brasileiro tornaram-se trunfos de Vasco, Flamengo, Inter e Grêmio por causa da versatilidade, da capacidade de cumprirem funções no meio de campo.

 

A dobradinha de laterais do Vasco: Pikachu e Gilberto
Uma das sacadas de Milton Mendes: A dobradinha de laterais de Pikachu e Gilberto

Yago Pikachu é a maior novidade da era Milton Mendes. Desde a chegada do treinador ao Vasco, o lateral-direito passou a jogar aberto pela direita, mas como um meia, no sistema tático 4-2-3-1/4-5-1. Na linha de criação, Yago Pikachu pela direita, Nenê por dentro e Andrezinho aberto na esquerda (0u vice-versa). Jogando assim, Yago Pikachu tem três gols e uma assistência em quatro partidas (80 minutos) na era Milton Mendes. Uma simples comparação mostra que Milton Mendes definitivamente achou um lugar para Yago Pikachu no time. Com os treinadores anteriores do Vasco, Yago Pikachu disputou 52 partidas (59 minutos), fez quatro gols e não deu assistência. Portanto, o técnico do Botafogo, Jair Ventura, precisa ter atenção redobrada com as tramas do “falso meia” Pikachu e o lateral-direito Gilberto.

 

Zé Ricardo fez o mesmo no meio de semana no Flamengo. A surpresa na escalação foi a presença do até então lateral-esquerdo Miguel Trauco no meio de campo na vitória por 2 x 1 sobre o Atlético-PR. O treinador rubro-negro não reinventou Trauco. Muito menos tirou uma  mágica da cartola. Em entrevista ao blog logo que o time da Gávea contratou o peruano, Roberto Chale, técnico de Trauco no Universitario, avisou que ele era melhor ainda no meio. “Nós vimos potencial nele primeiro como lateral-esquerdo. Depois, como um meia avançado pela esquerda, ofensivo. São duas características que o Flamengo pode explorar”, esmiuçou Chale em 19 de dezembro do ano passado. Com Trauco formando um trio de volantes ao lado de Márcio Araújo e Willian Arão, e responsável por dar suporte a Renê na lateral esquerda, o Flamengo ganhou poder de marcação, liberando Diego, e qualidade no passe. Eleito o melhor jogador do último Campeonato Peruano atuando justamente como meia, Trauco participou diretamente dos dois gols do Flamengo diante do Atlético-PR.

O par de laterais esquerdos do Flamengo: Renê e Trauco
O par de laterais esquerdos do Flamengo: Renê e Trauco, alternativa na Copa Libertadores

 

Antonio Carlos Zago usou a mesma estratégia no empate do Internacional contra o Corinthians no meio de semana, pela Copa do Brasil. O técnico do Internacional sabia que o bom lateral-esquerdo Uendel tinha no currículo partidas na função de meia. No ano passado, Oswaldo de Oliveira chegou a testá-lo neste papel justamente em um duelo do Corinthians, onde Uendel estava em 2016, contra o Inter. Pois Antonio Carlos escalou Carlinhos como lateral-esquerdo e Uendel como “falso meia”. A sacada deu liberdade ao maestro D’Alessandro.

 

Leia o que Antonio Carlos Zago disse depois da partida. “O Uendel já tinha jogado por ali no Corinthians. Podemos inverter, Uendel na lateral e Carlinhos aberto. Eles estão se entendendo muito bem. O Uendel tem um posicionamento tático muito importante em campo, recebe e bola de frente para o adversário. O Carlinhos voltou a ter uma intensidade muito boa. É importante ter estes jogadores no ápice da forma. Estamos melhorando bastante e espero que não só por um lado (esquerdo), mas pelo outro também possamos ter esse entendimento”.

 

O veterano Leonardo Moura pode não ter mais pique de lateral-direito, mas é outro “falso meia” no meio no Grêmio. O jogador de 38 anos tem sido importante nas tramas com o verdadeiro lateral-direito Edilson na configuração tática de Renato Gaúcho.

 

Milton Mendes, Zé Ricardo, Antonio Carlos Zago e Renato Gaúcho não estão reinventado a roda. Longe disso.  Há muitos exemplos no passado de treinadores que usaram um lateral no meio de campo como alternativa tática. Mazinho foi para a Copa de 1994 como volante depois de uma temporada brilhante no Palmeiras, mas ganhou a posição de Raí durante a campanha do tetra porque começou como lateral e poderia ser um elemento surpresa nas tramas com Jorginho pela direita. O próprio Jorginho virou meia no São Paulo e trocava de função com o lateral-direito Belletti durante as partidas do tricolor, confundindo a marcação adversária. Foi assim também nos tempos de Vasco, em 2000, com o Clébson.

 

Daniel Alves e Philip Lahm são referências mais recentes. Quando precisa de um ataque mais contundente, Pep Guardiola liberava Daniel Alves para atacar, espetado como homem do meio de campo ou até mesmo do ataque. Fez o mesmo com Lahm no Bayern de Munique. O teuto-brasileiro Rafinha assumia a lateral direita e Lahm atuava com mais liberdade no meio de campo. Até Dunga investiu na ideia em sua primeira passagem pelo cargo de técnico da Seleção Brasileira, de 2006 a 2010. Lembram de Daniel Alves e Maicon juntos no time?

 

A boa notícia é que alguns treinadores brasileiros estão detectando soluções ou improvisos táticos dentro do próprio elenco. Algumas dão certo, outras não, é verdade. Mas deixar a preguiça de lado, ser criativo, mostrar capacidade de reinvenção, custa bem mais barato do que fazer o mais fácil: ir para a tevê pedir reforços.