A sexta vitória consecutiva do Brasil sob o comando de Tite deixa como imagem positiva um Neymar coadjuvante. O Brasil venceu o Peru por 2 x 0, no Estádio Nacional, em Lima, sem depender de uma exibição brilhante do seu camisa 10. O mais importante: viu Philippe Coutinho assumir o papel de protagonista não somente em um jogo, mas na temporada. Isso é ótimo para o fortalecimento técnico, tático e psicológico do elenco. Pela primeira vez, desde 2011, Neymar não fecha o ano como artilheiro da Seleção principal. Philippe Coutinho e Gabriel Jesus são os goleadores da temporada, cada um com cinco gols. Tudo bem, Neymar tirou férias enquanto os colegas ralavam — e até passavam vergonha — na Copa América Centenário com Neymar ao lado de Justin Bieber e Lewis Hamilton na arquibancada, mas os números são esses. Ponto.
Por falar em números, Tite reclamou na entrevista coletiva do superdimensionamento dado aos técnicos. Compreensível, mas, novamente, os números falam por si só. Dunga deixou a Seleção com 9 pontos, em sexto lugar, fora da zona de classificação. Sob o comando de Tite, o Brasil ganhou 18 pontos em 18 possíveis e lidera as Eliminatórias com 27 pontos, ou seja, Tite triplicou o número de pontos conquistados pelo antecessor. Não se trata de canonizar Tite e satanizar Dunga, mas de reconhecer o trabalho de quem assumiu o cargo outro dia e organizou o caos. Gestão de vestiário é importantíssimo. Os jogadores não acreditavam no trabalho de Dunga. Hoje, compraram a ideia de Tite.
O torcedor, agora, sabe escalar o tal do time-base. Nota um estilo moderno em campo, marcação no ataque, suor para recuperar bolas e transformá-las em gols. Aliás, 17 gols em 6 jogos e apenas um sofrido. Curiosamente, contra, de Marquinhos, na vitória por 2 x 1 sobre a Colômbia, em Manaus. Concordo com a resposta de Tite na entrevista coletiva ao ser questionado pelo repórter Tino Marcos, da tevê Globo. “Que m… que o Brasil só volta a jogar em 23 de março” contra o Uruguai, em Montevidéu. “Que pena” que a Copa do Mundo da Rússia não começa amanhã”. Não começa amanhã, mas não significa que estamos prontos para o hexa. A caminha é longa…
Goste ou não goste o Tite, é preciso lembrar. Ele igualou em 2016 o recorde de João Saldanha nas Eliminatórias para a Copa de 1970 e venceu seis partidas oficiais consecutivas. Não é pouca coisa, não, Tite. Daí o r-e-c-o-n-h-e-c-i-m-e-n-t-o. Não sou da turma que solta fogos dizendo que o 7 x 1 está superado. O vexame jamais será deletado da história centenária da Seleção Brasileira. Mas é preciso olhar para o trabalhou de Tite com otimismo. Repito o que dizia a amigos antes da Copa de 2014. Temos material para brigar pelo hexa em 2022, no Catar. Se o título vier na Rússia, em 2018, vai ser uma proeza e tanto. Mas é preciso dar tempo a Tite. Se não ganhar o título daqui a um ano e meio, o que considero normal, é proibido fazer terra arrasada. Quem estiver na presidência da CBF até lá — Marco Polo Del Nero continua sem viajar para o exterior, sob investigação do FBI e se escondendo atrás do sucesso da Seleção — tem de dar mais um ciclo de Copa a Tite, insistir na continuidade de um trabalho muito bem feito até agora.
Alisson
Vacilou ao espalmar para o meio da área a cobrança de escanteio de Yotún. Deu sorte no lance depois de a bola desviar em um peruano e ir para a fora. Nos demais lances, esteve muito atento às bolas alçadas na área. Tem crédito com seu anjo da guarda. Foi salvo pela trave no início do jogo após chute cruzado de Carrillo. Nota 6,5
Daniel Alves
Mesmo tento um trabalho danado com Carrillo no início do jogo, avançou e deu opção para Renato Augusto e Philippe Coutinho. Foi uma boa opção nas saídas de bola. Nota 6,5
Marquinhos
Colocou Paolo Guerrero no bolso. Impressionante como anulou o maior artilheiro da história da seleção peruana. Continuo dizendo: é um zagueiro jovem que joga como veterano. Nota 7
Miranda
Mais uma atuação de zagueiro-zagueiro. Teve muito trabalho com a atenção à cobertura de Filipe Luís nos avanços de Corzo. Assim como Marquinhos, deu conta de Guerrero. Nota 6,5
Filipe Luís
Não tem vergonha de ser uma lateral que só sabe marcar, mas deu uma pipocada no início do segundo tempo ao perder uma bola para Cueva que quase terminou em gol do Peru. O time mostrou mais uma vez que não confia nele ofensivamente ao insistir nos lances pela direita com Daniel Alves, Philippe Coutinho, Paulinho e Renato Augusto. Nota 6
Fernandinho
Capitão da Seleção pela primeira vez, teve duas chances claras de fazer gol em cobranças de escanteio. Faltou sorte. Continuo achando que não é o cara para ser o primeiro volante. É preciso achar um estepe para o titular Casemiro. Nota 6,5
Philippe Coutinho
Provou na prática por que barrou Willian. Duas partidaças contra Argentina e Peru. Roubou bola, deu passes milimétricos, protagonizou jogadas de efeito e partiu até para divididas, como no lance do gol de Gabriel Jesus. Nota 8 Douglas Costa entrou no fim do jogo. Na única participação, cruzou para Paulinho desperdiçar o terceiro gol. Nota 5,5
Paulinho
Dá equilíbrio defensivo ao time, tem uma facilidade imensa para chegar ao ataque, mas é o campeão do desperdício de gols. Ontem, poderia ter feito um no primeiro tempo após uma assistência de Neymar e outra no fim do jogo, depois do cruzamento de Douglas Costa. Nota 6
Renato Augusto
Repito o que venho dizendo. É o Tite de dentro de campo. Excelente leitura tática do jogo. Graças à movimentação dele para a direita, Philippe Coutinho conseguiu jogar muita bola pelo meio. Evoluiu muito no futebol alemão como jogador do Bayer Leverkusen e teve uma frieza germânica no segundo gol do Brasil em Lima. Nota 7
Neymar
Aceitou demais a marcação no primeiro tempo e ficou isolado na esquerda. Mesmo assim, deu uma arrancada com passe para Paulinho. Acertou uma bola no travessão no segundo tempo. Insistiu para fazer gol, mas percebeu que o time está evoluindo e não precisa tanto dele quanto na era Dunga. Viveu um estranho dia de coadjuvante. Nota 6
Gabriel Jesus
Pep Guardiola deve estar contando os dias para tê-lo no Manchester City. Que categoria no primeiro gol. E que frieza, aos 19 anos, para esperar a chegada de Renato Augusto e rolar a bola para o meia fazer o segundo. Nota 8 Willian Fez o que Tite pediu. Ocupou espaço no meio de campo para dar liberdade a Neymar para ser o falso 9. Nota 5
Tite
A nota é mais para o desempenho nos seis jogos do que para a partida diante do Peru. Seis jogos, seis vitórias, 17 gols marcados, um sofrido, líder isolado das Eliminatórias e praticamente garantido na Copa da Rússia. Só não mereceu um 10 porque nem tudo é perfeito. A convocação de Fábio Santos para o lugar do suspenso Marcelo, na minha opinião, foi um equívoco. Nota 9,5