A confusão na partida de domingo entre Gama x Brasiliense foi tamanha que o árbitro Almir da Silva Camargo precisou anexar duas páginas à súmula da partida para explicar seus procedimentos no empate por 1 x 1 no Bezerrão. O blog teve acesso ao documento na íntegra — que não havia sido publicado no site oficial da Federação de Futebol do Distrito Federal até o início da madrugada desta terça-feira. A ata só foi entregue às 19h15, ou seja, mais de 24 horas depois do fim do jogo, deixando Almir Camargo exposto a influências e pressões internas e externas — inclusive das imagens de tevê. Em tempos de tecnologia, os árbitros ainda preenchem a súmula com o velho canetão, em descompasso com o que ocorre, por exemplo, nas competições da CBF. Mesmo as súmulas mais complexas, de jogos polêmicos e tumultuados, são detalhadas online, em um software específico, e divulgadas poucas horas depois do encerramento das partidas. No Candangão, ainda não…
No documento anexado por Almir Camargo, devidamente formatado em um aplicatico de textos, chamam a atenção a riqueza de detalhes e a cronologia dos acontecimentos, o que permite imaginar que pode ter existido auxílio de imagens na confecção da súmula. Há relatos de garrafas de água mineral atiradas no gramado, socos, rasteiras, voadoras, bolada na cara protagonizada por um gandula e até lata de cerveja arremessada contra a arbitragem, que deixou o estádio escoltada pela PM. O documento será entregue nesta terça-feira ao Tribunal de Justiça Desportiva do Distrito Federal, que já interditou o estádio do Gama. A seguir, o blog detalha passo a passo, em 10 atos, o que o árbitro registrou na papelada oficial da Batalha do Bezerrão…
1. Em tempos de racionamento…
Almir Camargo diz que, aos quatro minutos do segundo tempo, quatro garrafas de água mineral foram atiradas dentro do gramado pela torcida do Gama.
2. Artilheiro das confusões
Almir Camargo relata, ainda, que o atacante Nunes foi o pivô da confusão generalizada. Segundo ele, aos 43 minutos, o camisa 9 do Brasiliense atingiu Dudu Gago com o braço em uma disputa de bola, dando início a uma confusão generalizada entre jogadores e comissões técnicas.
3. Gandula
Na sequência, o gandula Bruno Antonio Aquino Machado é citado como autor de uma bolada na cara do atacante Luquinhas, do Brasiliense.
4. Cabeçada e socos
Almir Camargo relata também uma cabeçada de Dudu Gago no rosto de Gabriel, do Brasiliense, que revidou dando um soco na cara do lateral-direito alviverde. Segundo o árbitro, na confusão, Nunes também deu um soco na cara de Dudu Gago.
5. Chute e voadora
O juiz diz ainda que os reservas Raone e Paulinho, ambos do Gama, acertaram chutes em Nunes, do Brasiliense. Enquanto isso, Elcarlos contra-atacou com uma voadora em Raone.
6. Rasteira
Almir Camargo também detalha uma rasteira do centroavante Roberto Pitio, autor do gol do Gama e um dos artilheiros do Candangão, em Guaru, e um murro do camisa 9 alviverde no rosto de Patrick.
7. Boxe
Segundo a súmula, o auxiliar-técnico do Brasiliense, Guto, atingiu o camisa 8, Eduardo, do Gama, com um soco. O goleiro Maringá entrou na confusão para defender Eduardo e acertou um soco no pescoço de Guto. Almir relata que o goleiro reserva Fernandes, do Brasiliense, entrou em cena e também deu um soco no goleiro alviverde Maringá.
8. Expulsões
Almir Camargo conta que os cartões não foram aplicados devido à insegurança no campo de jogo. No fim das contas, foram expulsos pelo Gama quatro titulares (Eduardo, Dudu Gago, Roberto Pitio e Maringá) e dois reservas (Raone e Paulinho). Receberam vermelho pelo Brasiliense o pivô da confusão, Nunes, e os reservas Gabriel, Elcarlos e Fernandes.
9. Campo de batalha e segurança
Sobre a conduta da torcida, Almir Camargo registra: “Quando a Polícia Militar entrou em campo para conter os ânimos dos jogadores e membros das comissões técnicas, a situação ficou ainda mais tensa. Torcedores pularam o alambrado e no momento em que uma faixa do Brasiliense foi arrancada por torcedores do Gama, alguns torcedores do Brasiliense também pularam e houve conflitos entre eles dentro de campo”. Almir Camargo continua: “A polícia tentou conter os torcedores que invadiram o campo. Foi quando a equipe de arbitragem deixou o campo, dando por encerrada a partida”. O árbitro do jogo também fala da segurança no Bezerrão. “O efetivo da polícia estava sob o comando do sargento Martinho, com efetivo de 13 policiais no campo de jogo e havia três seguranças no portão de entrada do campo”, escreveu Almir Camargo.
10. Lata de cerveja
O árbitro conta ainda que deixou o Bezerrão escoltado pelos policiais e que, mesmo assim, uma lata cheia de cerveja foi arremessada por um torcedor do Gama, mas não atingiu ninguém. As duas páginas estão rubricadas por Almir Camargo.
Diante da confusão, o Brasiliense reivindicou à Federação de Futebol do Distrito Federal que todo e qualquer jogo envolvendo Brasiliense e Gama seja marcado para o Estádio Nacional Mané Garrincha, independentemente de quem seja o mandante. “A indicação deve-se ao fato de no mesmo existir espaço suficiente para manter afastadas as duas torcidas”, diz o documento protocolado às 18h desta segunda-feira, assinado por José Eduardo Bariotto Ramos. O Tribunal de Justiça Desportiva do DF interditou o Bezerrão.
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