O ocaso da única cidade europeia que tem dois times campeões da Uefa Champions League

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A única cidade do Velho Mundo que tem dois times campeões europeus pede socorro. Pela primeira vez a dupla de Milão pode ficar fora na próxima temporada dos dois torneios de clubes do continente — a Liga dos Campeões e a Liga Europa. O 9º lugar da Internazionale e o 10º do Milan no Campeonato Italiano são dois (maus) exemplos de que cartolas ultrapassados, como Massimo Moratti e Silvio Berlusconi, podem transformar duas máquinas de jogar futebol em latas velhas.

O heptacampeão Milan e a tri Internazionale somam juntos 10 títulos na Liga dos Campeões, a mesma quantidade do recordista Real Madrid. A contar de 1955/1956, quando surgiram os torneios interclubes da Europa, nenhum deles ficou uma temporada sem participar de, ao menos, uma das competições. No auge do sucesso, o Clássico della Madonnina foi semifinal da Liga dos Campeões. Em 2003, o Milan venceu a queda de braço contra a Internazionale, avançou à finalíssima e foi campeão em cima da Juventus. Eram três times italianos contra o solitário espanhol Real Madrid.

O Milan não era o esquadrão dos anos 1990, com Baresi, Rijkaard, Gullit e Van Basten… Mas era um timaço. O técnico Carlo Ancelotti tinha à disposição Nesta, Maldini, Pirlo, Seedorf, Shevchenko e se dava ao luxo de sentar Rivaldo no banco de reservas. A Inter, do treinador Héctor Cuper, escalava Materazzi, Fabio Cannavaro, Javier Zanetti, Crespo e Recoba, todos em excelente fase. Dois empates, por 0 x 0 e 1 x 1, classificaram o Milan para a finalíssima. Há duas semanas, os dois clubes protagonizaram o segundo pior clássico entre eles no Campeonato Italiano. Ao menos na posição da tabela. O Milan estava em 9º e a Inter, em 10º. Pior, só o dérbi de 1942, quando o time rossonero era 9º e o arquirrival, 11º. O resultado da partida não poderia ser outro: 0 x 0.

Reféns dos centralizadores presidentes Massimo Moratti e Silvio Berlusconi — ex-primeiro ministro da Itália —, os dois clubes viraram latas velhas na Europa. Endividados, falidos e mergulhados em uma mediocridade técnica sem precedentes, ambos acham que a solução para os problemas é negociar as duas marcas valiosas com milionários colecionadores de máquinas antigas. Não faltam aventureiros. Em 2013, Moratti vendeu 75% da Inter ao indonésio Erick Thohir. Silvio Berlusconi negocia as ações do Milan com o tailandês Mr. Bee Taechaubol — por enquanto, o favorito a comprá-las.

Milan e Inter deram sinais recentes de que poderiam ressuscitar. Foram campeões da Champions League em 2007 e em 2010, respectivamente. Porém, não conseguem curar a ressaca das últimas glórias. O Milan se orgulha de ser um dos clubes mais vitoriosos do mundo. São 47 títulos nacionais e internacionais e oito Bolas de Ouro: Van Basten (3), Gullit, Rivera, Weah, Shevchenko e Kaká. A Inter coleciona 39 trofeús e dois jogadores eleitos número 1 do mundo —Lothar Matthäus e Ronaldo, o Fenômeno.

As eras douradas ficaram no passado, mas Milan e Inter não podem virar peças de decoração de antiquário. A ressurreição do futebol italiano precisa, sim, do sucesso da Juventus nas semifinais da Liga dos Campeões nesta temporada. Mas a nossa noite do museu comprova: a reconstrução do Calcio depende muito mais das latas velhas de Milão. Nem que elas só peguem no tranco.

Marcos Paulo Lima

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