O Neymar que vi passar na zona mista do Estádio Olímpico de Berlim: a coluna desta sexta-feira no Correio Braziliense

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Uma cena me deixou com a pulga atrás da orelha na zona mista do Estádio Olímpico, em Berlim, na cobertura da vitória do Barcelona por 3 x 1 sobre a Juventus na final da Liga dos Campeões. Estávamos todos à espera da passagem dos jogadores pelo setor destinado à imprensa. De repente, lá vem Messi. De mãos dadas com o filho, Thiago, foi educado. Deu boa-noite antes de se mandar direto para o ônibus. Detesta dar entrevista. Na sequência, um replay do lance anterior, mas com personagem diferente. Neymar surge de mãos dadas com o filho, Davi Lucca. Imitação pura. O herdeiro, assim como o príncipe de Messi, vestia a camisa do Barça. Neymar parou para falar com os brasileiros e reverenciou o único cara que ele respeita dentro do vaidoso elenco azul-grená.

Consegui perguntar a Neymar se a artilharia da Liga dos Campeões, com 10 gols, ao lado de Messi e de Cristiano Ronaldo, o coloca na briga pela Bola de Ouro. Neymar afinou. “Já tem dono, nosso camisa 10 é diferenciado, mas isso não me impede de sonhar ficar entre os três”, respondeu, usando um boné preto com a marca do Pelé do basquete: Michael Jordan.

Neymar respeita Messi. E só. Em um bate-papo com colegas da imprensa catalã, ouvi que Iniesta e Xavi admiram o talento do camisa 11, mas não suportam alguns comportamentos do jogador dentro e fora de campo. A velha guarda fica chateada com postagens em redes sociais; sente as dores de Pedro, que perdeu a posição para Neymar; e condena atitudes contrárias ao que aprenderam em La Masia.

Xavi ergueu a taça da Liga dos Campeões em Berlim. É sinônimo de Barça. Mas sabe que Neymar não o respeita. Prova disso é a entrevista concedida ontem por Xavi ao diário catalão Sport. Xavi faz duras críticas à lambreta de Neymar na final da Copa do Rei da Espanha, contra o Athletic Bilbao. E deixa escapar que Neymar ignorou seus conselhos. “Ele disse que não quer mudar a forma de jogar. Assim, será difícil. Tem que saber ganhar e perder. Deveria fazer uma reflexão, porque é um menino extraordinário e humilde. Mas tem essa coisa de brasileiros, de acharem que o drible faz parte do show, mas aqui (na Europa) se vê como falta de respeito. Se isso (a lambreta) é feito no primeiro minuto, com 0 x 0 ou perdendo, mas pela forma que foi… Ele precisa fazer uma séria reflexão.”

Não tenho dúvida de que Neymar estará entre os três candidatos à Bola de Ouro. Resta saber se ele quer, mesmo, ser como Messi, ou se, no fim das contas, será lembrado como o sucessor da marra de CR7. Quando Xavi diz que Neymar precisa fazer uma reflexão, alerta para o risco de ele se tornar um dos jogadores mais odiados do mundo. O futebol europeu não tolera as cenas de cai-cai de Neymar. As provocações baratas. As reclamações, as caras e bocas. Messi é objetivo nos dribles. Neymar, ao contrário, tem algumas recaídas vaidosas de Cristiano Ronaldo.

A Copa América tem tudo para colocar Neymar em seu devido lugar. Consolidá-lo entre os três candidatos a melhor jogador do mundo — talvez, até, número 1 ou 2, em caso de sucesso da Seleção — ou levá-lo ao departamento médico.  Ao contrário da Copa de 2014, Neymar não será blindado pela arbitragem no Chile. Se protagonizar um drible desnecessário, vai apanhar. Por isso, Xavi pede reflexão ao garoto que coleciona inimizades entre jogadores do Chile, da Colômbia, do Uruguai, e no próprio Barça. Neymar quer ser Messi, mas, no fundo, age como Cristiano Ronaldo. Ainda mais em uma Seleção Brasileira pobre de talento na qual ele reina soberano.

Marcos Paulo Lima

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