No país da liberdade, igualdade e fraternidade, uma treinador de futebol está prestes a protagonizar uma nova revolução francesa. Agora, com uma prancheta nas mãos. Quem olha para a tabela de classificação da Ligue 2 — a segunda divisão do Campeonato Francês — dificilmente imagina que à frente dos 25 homens do elenco do Clermont Foot existe uma grande mulher. Aos 41 anos, Corinne Diacre está a seis meses de fazer história. De novo.
Primeira mulher a obter a licença de técnico na França e a comandar um time profissional masculino no país, ao assumir, em agosto de 2014, o Clermont Foot, a ex-zagueira está prestes a levar a equipe à primeira divisão. O clube da cidade de Clermont-Ferrand virou o ano em terceiro lugar com 37 pontos — seis atrás do Dijon e a oito do líder Nancy. Pelo regulamento, o campeão e o vice são promovidos para a Ligue 1.
Corinne Diacre é ex-jogadora profissional. Participou da Copa do Mundo de 2003 e da Eurocopa em 1997, 2001 e 2005. É a terceira boleira que mais vestiu a camisa da França, com 121 exibições. Depois de pendurar as chuteiras, decidiu investir na carreira de treinadora. Entrou para a história do país como a primeira mulher a obter o diploma de técnico. O prêmio foi a chance de ser auxiliar do comandante da seleção francesa feminina, Bruno Bini. Na sequência, liderou as meninas do Sochaux.
A treinadora assumiu o Clermont Foot por acaso, depois de um polêmico pedido de demissão de outra mulher. Antes de contratar Corinne Diacre, o presidente do Clermont Foot, Claude Michy, apostou na portuguesa Helena Costa. No entanto, a lusitana sentiu-se incomodada no cargo e pediu o boné. “Eu sou apenas um rostinho para atrair publicidade”, explicou na carta de despedida. A notícia repercutiu mal em toda a França, mas o presidente do Clermont Foot não fez a mínima cerimônia. Claude Michy deu as contas de Helena e apresentou Corinne Diacre como sucessora. O cartola não se arrependeu. A evolução do trabalho é impressionante.
Em 2013/2014, o Clermont Foot terminou a Ligue 2 em 14º sob comando masculino. Na primeira temporada às ordens de Corinne Diacre, o time saltou para o 12º lugar. A missão da treinadora era justamente manter a equipe na segunda divisão com uma campanha melhor do que a anterior. Na atual edição, o Clermont Foot virou carruagem sob a varinha de condão da fada Corinne. Além de ocupar o terceiro lugar na classificação, a equipe ostenta o terceiro melhor ataque da competição com 28 gols, atrás apenas do Nancy (30) e do Dijon (28).
Tímida quando assumiu o Clermont Foot, Corinne Diacre evitou promessas. “Eu sei que vou sofrer pressão, mas a minha ideia é fazer com que os meus jogadores se sintam bem em campo”.
Aparentemente, o discurso conquistou os 25 homens do elenco. Corinne é respeitada na comissão técnica. “Ela é a chefe. No começo, era muito observadora, mas depois que assumiu o seu papel conseguiu se fazer respeitada”, conta ao L’Équipe Emmanuel Gas. “Ela é metódica e sabe ouvir. Não há diferença em relação a um treinador masculino. A única diferença é que não dividimos o mesmo vestiário”, brinca o auxiliar Jean Noel Cabezas.
Representante da cidade de Clermont-Ferrand na segunda divisão da França, o Clermont Foot conta com o apoio de pouco mais de 140 mil habitantes. O local é conhecido por ter sido o berço da multinacional de pneus Michelin no século 19. Apesar da quantidade de indústrias na capital da região de Auvernia, o Clermont Foot tem a terceira menor receita da Ligue 2, com apenas 6 milhões de euros.
Que time é esse?
Clermont Foot Alvergne 63
Fundação: 1990
Cidade: Clermont-Ferrand (França)
Estádio: Gabriel Montpied
Capacidade: 10.607
Títulos: Champions 2 (terceira divisão) em 2002 e 2007