A Seleção Brasileira não estreia numa Copa do Mundo com dois laterais de clubes brasileiros desde 1986. Esse é o tamanho do desafio dos titulares Daniel Alves, 36 anos, anunciado na noite desta quinta-feira como reforço do São Paulo; e Filipe Luís, 33, recém-apresentado pelo Flamengo. Se quiserem ir ao Catar em 2022, ambos terão de quebrar tabu de 33 anos.
Em 1º de junho de 1986, Telê Santana escalou Edson Boaro (Corinthians) na direita e Branco (Fluminense) na esquerda na vitória por 1 x 0 sobre a Espanha, no México. Faz 33 anos. O futebol era outro. Apenas dois titulares atuavam no exterior: o zagueiro Edinho (Udinese) e o volante Júnior (Torino). Por sinal, eram os únicos estrangeiros no elenco também.
A contratação de Daniel Alves pelo São Paulo é inegavelmente um gol de placa. É preciso retribuir o amor do lateral-direito pela camisa tricolor com responsabilidade, ou seja, pagando em dia o salário combinado com o jogador mais vitorioso do futebol. O título da Copa América foi o 40º na carreira do jogador eleito o craque da edição deste ano do torneio continental.
Deixei claro várias vezes que gostaria de finalizar a minha carreira no Bahia como forma de agradecimento. Se eu pudesse dar uma passada no São Paulo também, mas são coisas muito futuristas, vontades que existem. Não quer dizer nada. O importante é viver o presente, tentar construir coisas sólidas no presente para estar pronto na hora em que o futuro chegar. Adoro o Bahia, e pelo São Paulo, sempre torci. São possibilidades.
Daniel Alves, em entrevista ao Correio Braziliense publicada em 14 de julho, uma semana depois do título da Copa América
Na noite desta quinta-feira recebi telefone de um amigo de Daniel Alves. Ele conta que os três anos de contrato oferecidos pelo São Paulo pesaram na decisão. O jogador está em Fortaleza. Bateu o martelo lá. Não quis esperar até o fechamento da janela europeia.
Um clube italiano e dois ingleses tentaram contratar Daniel Alves. Um deles ofereceu um ano de contrato e possibilidade de mais um. Outros apresentaram oferta de dois anos, mas ponderaram que primeiro precisariam se desfazer de alguns jogadores para cumprir meta financeira e se adequar ao número de atletas estrangeiros. Daniel Alves não abriu mão do contrato de três anos por um motivo simples: quer ser o capitão do Brasil na Copa 2022.
O São Paulo cumpriu o requisito. Daniel Alves tem 40 títulos no currículo, mas falta justamente o Mundial. O craque jamais disputou o torneio do início ao fim. Em 2010, era reserva de Maicon. Dunga achou lugar para ele no meio de campo depois da contusão de Elano. Começou a edição de 2014 titular, mas perdeu a vaga para Maicon durante a competição. Seria o dono do pedaço em 2018, porém, a lesão antes da convocação o deixou fora da lista final de Tite.
Pouco interessa ao torcedor do São Paulo se Daniel Alves atuará como lateral-direito, no meio de campo ou até como atacante, como chegou a atuar algumas vezes por Sevilla, Barcelona, Juventus e Paris Saint-Germain. Ele é muito acima da média e merece — se for verdade — ganhar mais do que o blasé Alexandre Pato. Que a contratação de Daniel Alves seja um recado ousado do São Paulo ao mercado. Um indicativo de que o clube voltou a pensar grande e dará ao treinador Cuca um grande elenco para a temporada 2020.
Senhor dos troféus
1 Bahia – Copa do Nordeste 2001
5 Sevilla – 2 Copas Uefa, 1 Copa do Rey, 1 Supercopa Espanha, 1 Supercopa UEFA
23 Barcelona – 6 Espanhol, 4 Copa do Rei, 4 Supercopa Espanha, 3 Liga dos Campeões, 3 Supercopa UEFA, 3 Mundial de clubes
2 Juventus – Italiano e Copa da Itália
5 PSG – 2 Francês, 1 Copa da França, 1 Copa da Liga e 1 Supercopa França
Ao menos no papel, Daniel Alves, Alexandre Pato, Jucilei, Hernanes e Éverton têm experiência de sobra para transmitir às promessas do elenco do São Paulo. Cuca pode montar um bom time capaz de classificar o clube para a Libertadores e começar o ano que vem brigando pelo título do Campeonato Paulista. Afinal, jejum dura desde 2005. Daniel Alves é pé-quente, mas a diretoria São Paulo também precisa trabalhar duro para não minar o senhor dos troféus. O último título tricolor é a Copa Sul-Americana de 2012.
Daniel Alves começou a carreira no Bahia. Defendeu o clube nas temporadas de 2001 e 2002. Foram 58 jogos, 5 gols e duas assistências. Seu último jogo pelo Bahia foi em 17 de novembro de 2002, em São Paulo. O Bahia enfrentou a Portuguesa, em Mogi Mirim. O Bahia venceu por 4 ×2 e Daniel Alves se despediu do futebol brasileiro com uma assistência. Após 17 anos jogando na Europa, está de volta ao futebol brasileiro para defender o São Paulo até 2022.
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