Se não houver uma nova ação do FBI na Suíça nesta sexta-feira, a Fifa conhecerá hoje seu nono presidente em 117 anos de história. Das 209 federações filiadas, 207 estão aptas a votar. As exceções são a Indonésia e o Kuwait, suspensos. Para ser eleito no primeiro turno, um dos cinco candidatos necessita de 138 votos, ou de 104 no segundo turno.
Independentemente de quem seja o vencedor, não há uma grande proposta para salvar o futebol. Algumas ideias chegam a ser polêmicas ou esdrúxulas. O suíço Gianni Infantino, por exemplo, defende uma Copa do Mundo com 40 países, oito a mais do que as 32 em vigor desde 1998. Salman Bin Ebrahim Al-Khalifa pretende determinar a quantidade de partidas que um jogador de alto nível deve disputar em uma temporada. Jerôme Champagne ergue a bandeira do o uso da tevê para julgar lances polêmicos. Tokyo Seexwale aposta em um estudo para liberar o uso de patrocínio na camisa das seleções.
Todos falam em combater a corrupção em uma entidade mergulhada na crise desde o inicio da Operação FifaGate, no ano passado, com a prisão de vários dirigentes, entre eles, o ex-mandatário da CBF, José Maria Marin. No entanto, nenhum dos cinco candidatos tem no plano de poder uma revisão, por exemplo, no processo de eleição do Catar como anfitrião da Copa de 2022. A escolha do país é um dos centros nervosos da avalanche de denúncias de falcatruas na entidade máxima do futebol. Falta coragem a todos os candidatos. Talvez porque soaria antipático. Representaria perda de votos.
Não importa quem seja o vencedor. Ele precisa ter um espírito restaurador, conciliador. Para ser sincero, não consigo ver uma possibilidade de revolução na Fifa em nenhuma das cinco candidaturas. Qualquer que seja o eleito, sinto uma troca de seis por meia dúzia. Como, aliás, ocorreu na própria Fifa quando Joseph Blatter sucedeu João Havelange na Fifa; ou quando a Confederação Brasileira de Futebol trocou Ricardo Teixeira por José Maria Marin e depois Marin por Marco Polo Del Nero. Nomes são trocados, mas a estrutura, o sistema, continua viciado.
Por falar em Del Nero, o presidente licenciado da CBF mais uma vez não arrastou os pés do Brasil. O interino, coronel Nunes, presidente da Federação Paraense de futebol e vice da CBF pela região Sudeste, é quem vai votar em nome do futebol brasileiro. Está na Suíça acompanhado dos mandatários das federações do Acre e de São Paulo. A tendência é que a CBF vote em bloco com a Conmebol, ou seja, em Gianni Infantino. Acho que o secretário-geral da Uefa é a saída menos ruim. Graças em parte a ele, a Uefa atingiu um nível de excelência impressionante na organização das suas competições. Acho que a vitória de um dos outros quatro seria entregar a entidade a aventureiros. É apenas uma impressão. A Conmebol fechou com Infantino, mas não ficarei surpreso se houver um redirecionamento de votos na hora H. Usando o slogan da própria Fifa, que haja Fair Play ao menos na eleição.
Antes do eleito de hoje, oito nomes diferentes presidiram a Fifa: o francês Robert Guérin (1904-1906), o inglês Daniel Burley Woolfall (1906-1918), o francês Jules Rimet (1921-1954), o belga Rodolphe William Seeldrayers (1954-1955), o inglês Arthur Drewry (1955-1961), o inglês Stanley Rous (1961-1974), o brasileiro João Havelange (1974-1998) e o suíço Joseph Blatter (1998-2015).
Os 5 candidatos à sucessão de Joseph Blatter
» Gianni Infantino
Nascimento: 23/03/1970
Local: Brig, na Suíça
Experiência no futebol: secretário-geral da Uefa
Futebol à parte: é formado em Direito
Cinco propostas
1. O secretário-geral da Fifa vai ser africano
2. Cada federação receberá US$ 5 milhões em quatro anos para projetos de desenvolvimento
3. Transparência nas eleições de sedes da Copa, contratos comerciais e pagamentos a dirigentes
4. Copa do Mundo com 40 seleções, em princípio, com oito grupos com cinco seleções cada.
5. Partidas beneficentes com equipes formadas por lendas do futebol.
» Salman Bin Ebrahim Al-Khalifa
Nascimento: 02/11/1965
Local: Riffa, no Barein
Experiência no futebol: presidência da AFC e membro do Comitê Executivo da Fifa
Futebol à parte: é formado em Literatura e História Inglesa
Cinco propostas
1. Uma presidência não executiva
2. Promover o futebol e separá-lo por completo da gestão comercial
3. Estudo para o aumento de seleções na Copa do Mundo
4. Estabelecer um número máximo de partidas que um jogador de eleito pode disputar
5. Instituição de uma agência anticorrupção.
» Jerôme Champagne
Nascimento: 15/06/1958
Local: Paris, na França
Experiência no futebol: coodenador da campanha de Joseph Blatter em 2002
Futebol à parte: é formado em Literatura e História Inglesa
Cinco propostas
1. Reequilibrar a divisão de vagas para as competições da Fifa
2. Tornar público os salários do presidente e demais funcionários
3. Intensificar a luta contra a corrupção
4. Contrução 40 campos com gramado artificial em quatro anos
5. Introdução do vídeo, criação do cartão laranja e uma substituição a mais na prorrogação.
» Ali Bin Al-Hussein
Nascimento: 23/12/1975
Local: Amã, na Jordânia
Experiência no futebol: membro do Comitê Executivo
Futebol à parte: é formado na Academia Militar
Cinco propostas
1. Criar um Grupo de Vigilância da Fifa para velar pela transparência
2. Publicação dos salários dos dirigentes
3. Aumento da bolsa anual às 209 federações filiadas de US$ 250 mil para US$ 1 milhão
4. Estabelecer um plano de seguro global para os estádios
5. Revisar o sistema eleitoral da Fifa.
» Tokyo Seexwale
Nascimento: 05/03/1953
Local: Soweto, África do Sul
Experiência no futebol: membro do Comitê de candidatura para a África do Sul receber a Copa-2010.
Futebol à parte: Foi ativista político como aliado de Nelson Mandela
Cinco propostas
1. Fomentar o desenvolvimento do futebol nas zonas mais pobres
2. Inclusão de publicidade na camisa das seleções, como acontece, por exemplo, com os clubes
3. Criação de um conselho internacional que se reúna ao uma vez por ano com o presidente
4. Equilibrar o Comitê Executivo e as vagas para a Copa do Mundo
5. Tolerância zero contra o racismo e o comércio de crianças.