52879655370_05b63b4c52_c Victor Sá e Matheus Nascimento: os nomes da vitória contra o Galo. Foto: Vitor Silva/Botafogo Victor Sá e Matheus Nascimento: os nomes da vitória contra o Galo. Foto: Vitor Silva/Botafogo

O “jeitinho marroquino” do Botafogo de Luis Castro na liderança isolada do Brasileirão

Publicado em Esporte

Antes de falar do Botafogo, você lembra da campanha do Marrocos na Copa do Mundo do Catar em 2022? A seleção africana termina a competição em quarto lugar tendo menos posse de bola do que todos os adversários: Croácia, Bélgica, Canadá, Espanha, Portugal, França e novamente a Croácia na decisão do terceiro lugar. Nas oitavas de final, o time de Wahid Regragui teve 23% contra 77% diante da Espanha, mas suportou o tempo regulamentar, a prorrogação e avançou nos pênaltis. Havia marcação, intensidade, velocidade na transição e consciência de que era preciso aproveitar o mínimo espaço concedido pelo adversário para lacrá-lo. Controlar o jogo sem ter a bola — e superá-lo — também é uma arte. Das mais desafiadoras!

 

Líder do Brasileirão pela segunda rodada consecutiva, o Botafogo lembra Marrocos até na largada surpreendente. Quem apostava na classificação na fase de grupos contra Bélgica, Croácia e Canadá? Alguém diria que o Glorioso estaria em primeiro lugar na quarta volta da Série A com 100% de aproveitamento? Pois a realidade é essa. Com jeitão marroquino. Se o goleiro Bono era um dos caras do Marrocos com intervenções miraculosas, Lucas Perri é um dos protagonistas do Botafogo. Uma das travas de segurança da defesa. 

 

O Botafogo enfrentou o São Paulo na estreia. O técnico tricolor ainda era Rogério Ceni. Os times do ex-goleiro gostam de ficar com a bola. O Alvinegro não se sentiu minimamente incomodado com isso. Conseguiu se adaptar ao jogo e fez muito com tão pouco. Venceu por 2 x 1 tendo apenas 32% de posse contra 68% do adversário.  

 

Na segunda rodada, foi até Salvador enfrentar um Bahia recém-incorporado ao City Group, a multinacional dos Emirados Árabes Unidos que banca clubes como o Manchester City de Pep Guardiola. Uma das filosofias do principal braço da companhia é ter a bola nos pés. O time comandado pelo portugês Renato Paiva perdeu para o Botafogo por 2 x 1 ostentando 60% de posse. O visitante construiu o resultado com 40% e saiu contente de Salvador. 

 

Menos posse, mais vitórias, 100% de aproveitamento

  • Botafogo (32%) x (68%) São Paulo
  • Bahia (60%) x (40%) Botafogo
  • Flamengo (74%) x (26%) Botafogo
  • Botafogo 39% x 61% Atlético-MG

 

Jorge Sampaoli assumiu o Flamengo cobrando respeito à bola. Atual campeão da Libertadores e da Copa do Brasil, o elenco mais caro e badalado da América do Sul teve a bola nos pés durante 74% do jogo. O Botafogo precisou de 26% para triunfar por 3 x 2. 

 

O adversário na quarta rodada era duríssimo. O Atlético-MG segue a linha de trabalho do técnico Eduardo Coudet de ter a bola, o controle da partida e criar ações ofensivas. O Galo saiu do estádio Nilton Santos com posse de 61%, mas quem ganhou três pontos na classificação foi novamente o Botafogo. Vitória por 2 x 0 com apenas 39% de controle. 

 

Lembro-me de ter acompanhado uma das coletivas do Grupo de Estudos Técnicos da Fifa, em Doha. O tema era justamente a incrível posse de bola da Espanha. Os ex-técnicos Arsène Wenger e Jurgen Klinsmann criticaram a troca de bola excessiva. Até mesmo o técnico do Marrocos desabafou sobre as cobranças pela posse de bola antes de enfrentar a França na semifinal da Copa do Catar. “É incrível como vocês jornalistas gostam de posse de bola. Mas de que vale a posse de bola se você finalizar só duas vezes?”, questionou. 

 

Regragui acrescentou: “Se (o presidente da Fifa, Gianni) Infantino começar a dar pontos por posse de bola, aí será diferente. Guardiola foi meu ídolo, referência por muito tempo. Fiquei louco, queria ter posse de bola e tudo. Mas, quando você tem jogadores como De Bruyne, Bernardo Silva, fica mais fácil, você tem que ter a bola. Não queremos percentual, queremos vencer”, avisou na véspera da derrota para a França na semifinal da Copa. Guardadas as devidas proporções, o Botafogo lembra muito Marrocos. Resta saber como se comportará quando o adversário deixar o Botafogo mais tempo com a bola nos pés. A ver…

 

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