Análise: o aval de Felipão a Abel Ferreira na Seleção e o eco da opinião nos corredores da CBF

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Balão de ensaio é uma das gírias do jornalismo para definir uma informação vazada de propósito a fim de avaliar antecipadamente possíveis efeitos de uma determinada decisão. Vinte e oito dias depois da eliminação do Brasil contra a Croácia nas quartas de final da Copa do Mundo do Qatar-2022, os balões de ensaio parte de dentro e de fora da CBF, ajudam a entidade a montar o próprio quebra-cabeça e a amadurecer a escolha do sucessor de Tite. Como mostrou uma reportagem recente do Correio Braziliense, é a primeira vez que o presidente Ednaldo Rodrigues escolhe um técnico em mais de 40 anos como dirigente, desde que comandou a Liga de Vitória da Conquista (BA). Daí a paciência de Jó na avaliação de nomes internacionais como Abel Ferreira,  José Mourinho, Carlo Ancelotti, Pep Guradiola; e nacionais como Mano Menezes, Fernando Diniz, Cuca, Renato Gaúcho…

Em meio aos balões de ensaio, os primeiros supostos ungidos eram Mano Menezes e Fernando Diniz. Depois do fracasso no Catar, José Mourinho era o nome comentado na zona mista e na sala de conferência do Estádio da Educação. O nome de Carlo Ancelotti surgiu na sequência nas especulações. Zinedine Zidane teve seus dias de cotado. A bola da vez é Abel Ferreira — atual campeão da Série A do Brasileirão.

A diferença, agora, é que a possibilidade de Abel Ferreira trocar o Palmeiras pela Seleção tem um “padrinho forte”. A última vez que o Brasil conquistou o título da Copa do Mundo foi sob a batuta de Luiz Felipe Scolari. A última vez que o Brasil ficou entre os quatro melhores também foi sob as ordens de Felipão. Sim, houve um 7 x 1 diante da Alemanha na tarde daquele 8 de julho de 2014. A pior derrota na centenária história canarinha. Parreira (2006), Dunga (2010) e Tite (2018 e 2022) caíram nas quartas diante de França, Holanda, Bélgica e Croácia, respectivamente.

Vice-campeão da última Libertadores pelo Athletico-PR, Felipão deu entrevista ao programa Show de Esportes da rádio Gaúcha. Não há como negar. Usando uma das palavrinhas da moda, ele é um influencer. As palavras do treinador aposentado — hoje diretor-técnico do Athletico-PR —, têm poder para encaminhar a decisão do presidente Ednaldo Rodrigues.

“O Abel (Ferreira) é um dos nomes que eu ficaria muito feliz em ver na Seleção Brasileira. Quem é bom pode trabalhar, mostra sua condição e pronto”, opinou Felipão.

Com passagem pela seleção de Portugal e pelo Chelsea, o gaúcho de Passo Fundo se aprofundou no tema. “Quero colocar minha opinião para que todo mundo saiba. Nós saímos do Brasil tantas vezes e tiramos lugar de tantos. Não podemos cercear quem está na Seleção Brasileira de trazer A ou B. É bom, independe da nacionalidade. É bom, traga”.

O entusiasmo de Felipão com Abel Ferreira dá margem até a interpretações. Ambos poderiam trabalhar juntos no próximo ciclo da Seleção? Felipão no cargo de coordenador, uma espécie de escudeiro, no papel que foi de Mário Jorge Zagallo, Antônio Lopes e Carlos Alberto Parreira.

Abel Ferreira desembarcou no Palmeiras com a fama de quem havia eliminado o Benfica, de Jorge Jesus, na Pré-Champions League na temporada de 2020/2021. Comandava à época o modesto PAOK da Grécia. Levou o Palmeiras ao título da Copa do Brasil (2019), a duas conquistas da Libertadores em nove meses (2020 e 2021), ganhou uma Recopa Sul-Americana (2022) e foi quarto colocado e depois vice no Mundial de Clubes da Fifa, respectivamente, nas edições de 2020 e 2021 do torneio.

Há pontos favoráveis a um possível convite da CBF a Abel Ferreira. O primeiro deles, o idioma. Ele fala a língua portuguesa da terrinha, mas é facilmente compreendido. Além disso, a presidente Leila Pereira deixou claro que liberará o profissional se houver convite. O contrato do treinador foi renovado por dois anos, até o fim de 2024.

“É claro que eu liberaria. Eu acho que seria uma honra para qualquer profissional e até para um clube servir ao nosso país. Se houver esse convite, é porque confirma toda essa capacidade que já está ratificada no Palmeiras. Eu não tenho receio, nem um pouco, o que eu quero é o melhor para o profissional”, disse a dirigente antes da Copa do Mundo.

O Brasil teve coração quente nas quartas de final contra a Croácia. Brigou pela vitória muito mais do que o adversário. Faltou cabeça fria. Curiosamente, o título do livro de Abel Ferreira publicado no ano passado é: Cabeça fria, coração quente.

Pode ser o que a CBF procura.

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Marcos Paulo Lima

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