Eu e a minha mania de bisbilhotar fichas técnicas de jogadores… Lendo o Guia do Campeonato Espanhol, do Marca, esbarro na data 24 de junho de 1987. Acredite se quiser: quando Lionel Messi entrar em campo hoje com o Barcelona para enfrentar o Athletic Bilbao, pelas oitavas de final da Copa do Rei da Espanha, um dos maiores jogadores de todos os tempos começa oficialmente a contagem regressiva para o aniversário de 30 anos. Sinal de que a aposentadoria está próxima? Não, mesmo! Quem é craque se reinventa.
Quanto mais velho, melhor. Messi deu mais de uma demonstração ao longo da carreira de que tem futebol e criatividade de sobra para se transformar em campo. Foi falso 9, jogou aberto na direita, cai pela esquerda, fez o papel de enganche tanto no Barcelona quanto na seleção da Argentina… Independentemente da data de nascimento, já avisou que gênio não fica sem espaço dentro das quatro linhas.
A cinco meses de fazer 30 anos, Messi continua fominha. É o artilheiro isolado da Liga dos Campeões da Europa com 10 gols. Divide com Luis Suárez a liderança da lista de goleadores do Espanhol, com 12 bolas na rede cada. A gana por títulos, de quem ostenta 29 conquistas aos 29 anos, entre eles, cinco prêmios de melhor do mundo, quatro Champions League, oito Campeonatos Espanhóis, quatro Copas do Rei da Espanha, dois Mundiais de Clubes, continua a mesma.
Depois dos 30, Messi pode se dar ao luxo de quitar uma dívida que tem consigo. Vestindo a camisa da Argentina, conquistou o Mundial Sub-20 de 2005 e a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008. Falta a Copa América no currículo. Principalmente, a Copa do Mundo. Como faz aniversário em junho, Messi vai chegar à Rússia virando dos 31 para os 32 anos. No Catar, em 2022, terá de 35 para 36. Podem, sim, ser as últimas chances de ganhar a Copa. Mas se não vencê-la, como fizeram Mario Kempes (1978) e Diego Maradona (1986), azar da Copa. Messi não deixará de ser uma lenda por isso. Afinal, Maradona ganhou quantas vezes a Champions League, mesmo?
A proximidade dos 30 anos deu a Messi casca grossa para, ao contrário do amigo Neymar, driblar com paciência de Jó um dos poucos escândalos da carreira: a encrenca com ao fazenda espanhola. Maturidade para saber recuar em momentos difíceis, dar uma segunda chance a si mesmo, como a decisão de voltar a defender a Argentina depois de perder o pênalti que poderia ter dado ao país o título da Copa América Centenário no ano passado. Liderança para peitar a imprensa em defesa do compatriota Lavezzi depois do suposto caso de consumo de drogas dentro da concentração da seleção.
Messi entra em campo hoje pela primeira vez em 2017, o ano em que vai virar trintão. São 600 jogos com a camisa de um clube só, o Barcelona. Com Messi em campo, o time azul-grená venceu 70,5% dos jogos. O Barcelona viu seu maior ídolo e artilheiro balançar a rede 508 vezes, média de 0,84. Adversário do dia na Copa do Rei, o Athletico Bilbao é a segunda maior vítima da carreira de Messi. Sofreu 19 gols, atrás apenas do Sevilla (27).
Lá se vão 16 anos desde que Messi chegou ao Barcelona como menino vindo de Rosário. Faz 12 anos que o craque estreou com a camisa profissional do clube azul-grená. Infelizmente, não há máquina do tempo capaz de rejuvenescer Messi. A vida passa com rapidez. Resta aos fãs do futebol arte aproveitar cada momento de futebol em altíssimo nível do quase trintão Messi. Afinal, a areia também desce na ampulheta de semideuses da bola como o Messias Messi.