Seis dias depois de o blog mostrar o estado de abandono do gramado do Bezerrão, o segundo estádio mais moderno do Distrito Federal, e revelar que o orçamento apresentado para reconstruir o gramado custa R$ 3 milhões, a Novacap mobilizou uma equipe nesta segunda-feira para capinar o mato que tomou conta do campo. Foram feitos testes, inclusive, no sistema de irrigação. A empresa estatal vinculada ao GDF estuda o que fazer para devolver a arena ao futebol. Construído por R$ 55.429.383,94, o estádio inaugurado em 2008 é administrado pela Secretaria de Esporte. Há possibilidade, inclusive, do lançamento de um edital, mas, para isso, é necessário um parecer técnico.
O orçamento de R$ 3 milhões entregue ao GDF recomenda retirar tudo o que resta do gramado anterior, drenagem, colchão drenante, irrigação e nova grama. Não há meio termo. É preciso refazer tudo. O tempo necessário para o serviço é de, no mínimo, cinco meses, ou seja, se começar em abril, o que é improvável, seria concluído em setembro. A batalha por votos na corrida pelo Buriti pode acelerar o processo a fim de evitar desgastes com o sétimo colégio eleitoral mais relevante do DF. Há muita insatisfação com o fechamento do Bezerrão. O Gama deixou de jogar lá na Série D do ano passado e neste Candangão.
Como revelou o blog no início deste ano, o gramado está impraticável ao futebol devido a um grave erro de logística na escolha do local de instalação de um hospital de campanha lá atrás, no auge da pandemia. A ordem inicial era para que o ginásio ao lado da arena recebesse a estrutura. O Plano B, construí-lo no estacionamento.
Durante o vaivém, descobriram que havia desnível no paralelepípedo da área externa. Sem ginásio e estacionamento, mandaram erguê-lo a toque de caixa dentro das quatro linhas do Bezerrão. O hospital era necessário, óbvio, mas a escolha atabalhoada do local causou prejuízo três vezes maior do que o investimento feito pela Fifa no piso. A instalação ignorou o manual de instruções do gramado e danificou tudo.
Uma das alternativas da Novacap para baratear o orçamento é usar o contrato com a empresa Paleta Engenharia e Construções. O contrato com a firma responsável pela instalação do hospital de campanha previa o replantio do campo. No entanto, a previsão era de instalação da grama batatais. Além de ser a mais barata, não serve para o futebol. O modelo é usado no Distrito Federal para obras de urbanização. Arenas como o Bezerrão e o próprio Mané Garrincha adotam a grama bermuda. Portanto, há total incompatibilidade.
Em 2019, a Fifa despejou R$ 1 milhão no gramado do Bezerrão. O tapete estava impecável no Mundial Sub-17. Os investimentos mais pesados se deram no reforço híbrido com grama sintética e na tubulação. A arena recebeu a maioria das partidas do torneio, inclusive a abertura, a decisão do terceiro lugar e a final vencida pelo Brasil. O serviço bancado pela entidade máxima do futebol ficou como legado para a principal sede da competição. Três anos depois, está totalmente danificado pelo entra e sai de caminhões, desconhecimento e estragos causados em peças fundamentais para o bom funcionamento do campo de jogo.
Em janeiro, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) entrou em ação. O documento assinado pelo Procurador Distrital dos Direitos do Cidadão, José Eduardo Paes, requisitou a desativação completa da estrutura do hospital de campanha montada em março de 2021 na arena e alertou para as “condições precárias do gramado”, que impossibilitam a “utilização do espaço público, em especial da agremiação do Gama”, time da região administrativa. A estrutura foi retirada, mas o campo continua impraticável.
Inaugurado em 19 de novembro de 2008 no badalado amistoso entre Brasil e Portugal com direito a duelo à parte entre Kaká e Cristiano Ronaldo, o Bezerrão recebeu também o jogo do tricampeonato do São Paulo naquele mesmo ano. A arena serviu de ponto de apoio para as seleções na Copa das Confederações 2013, Copa do Mundo 2014 e torneio de futebol nos Jogos Olímpicos do Rio-2016. Em 2019, abriu o Mundial Sub-17 da Fifa.
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