Neymar completa hoje 5 anos de Seleção com uma incerteza semelhante à que atormenta a carreira da rainha Marta na esquadra feminina

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Neymar precisou de só 28 minutos para fazer o primeiro gol pela Seleção

Jeff Zelevansky/Getty Images/AFP

O tempo não para e exerce uma pressão maior do que o esperado sobre Neymar. Parece que foi ontem. Há exatos cinco anos, em 10 de agosto de 2010, nosso único craque estreava com a camisa principal da Seleção Brasileira em New Jersey, nos EUA. Precoce, o gênio balançou a rede pela primeira vez em 28 minutos no triunfo por 2 x 0 sobre os ianques. Ajoelhou no gramado, ergueu os dois dedos indicadores para os céus e agradeceu aos deuses da bola pelo cruzamento milimétrico de André Santos em sua cabeça. Começava ali uma era de incertezas.

Neymar debutou na Seleção em um time que tinha tudo para dividir responsabilidades. O meio de campo contava com Paulo Henrique Ganso. No ataque, Robinho e Alexandre Pato. Mas, um a um, os parças desertaram. Neymar virou maior abandonado. De uma hora para outra, era o camisa 10. De uma hora para outra, era o capitão. De uma hora para outra, era o salvador de uma pátria que deitou em berço esplêndido sonhando vingar 1950 e caiu da cama com o pesadelo do 7 x 1 em 2014.

A missão de Neymar até que ia bem até a joelhada de Zúñiga, mas, a bem da verdade, ele não levaria o Brasil ao hexa aos 22 anos. Muito menos em sua primeira Copa do Mundo. Sinceramente, não sei nem se conseguirá um dia. Temo que Neymar vire Marta, ou seja, quebre todos os recordes possíveis com a amarelinha, conquiste cinco ou mais prêmios de melhor jogador do mundo e amargue a frustração de jamais ter sido campeão do mundo. Ambos são fora de série. Contundo, deram o azar de serem ilhas cercadas de maus jogadores. A geração — tanto masculina quanto feminina — não está à altura de Neymar e de Marta.

Não tenho dúvida de que Neymar será eleito, em breve, melhor jogador do mundo. Não sou nenhum São Tomé para desconfiar que ele pode se tornar o maior artilheiro da história da Seleção nas duas contagens da CBF. Afinal, aos 23 anos, ele já é o quinto maior artilheiro com 44 gols em 65 jogos. Considerando-se apenas partidas contra seleções, o cara que estreou um dia desses só está atrás de Pelé (77), Ronaldo (62), Romário (55) e de Zico (48). Em números absolutos também. Nesse ranking, Pelé contabiliza 95 bolas na rede, Ronaldo 67, Zico 66 e Romário 56. A média de gols de Neymar com a amarelinha é de oito por ano. Fazendo uma projeção, Neymar ultrapassará Pelé em 2019. Jovem, pode até se tornar o maior goleador da história das Copas. Participou só de uma e fez quatro gols.

Mas Neymar não é jogador de tênis ou de pôquer, seu novo hobby. Escolheu esporte coletivo e depende dos parças para colecionar títulos. Em cinco anos, perdeu a Copa América duas vezes (2011 e 2015), foi medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Londres-2012 — terá outra chance no Rio-2016 — e não concluiu a única Copa do Mundo que disputou. Ganhou a Copa das Confederações em 2013 e o Superclássico das Américas em 2011, 2012 e 2014. Torneios irrelevantes e o craque sabe muito bem disso.

Para cravar seu nome na história, Neymar precisa bordar a sexta estrela no peito da Seleção de uma forma jamais vista em mais de 100 anos de amarelinha. Romário levou o Brasil ao tetra em 1994, mas tinha ao lado Bebeto e na retaguarda Taffarel, Jorginho, Branco, Dunga, Aldair… Ronaldo carregou o Brasil no colo ao penta em 2002. Entretanto, podia se dar ao luxo de jogar mal. Dividia espaço com Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho, Cafu e Roberto Carlos. Cinco anos se passaram desde que Neymar estreou e ele segue sozinho. Pelo jeito, vai continuar sendo assim…

O primeiro time de Neymar na Seleção

Jogo 1: Brasil 2 x 0 EUA

Victor

Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz e André Santos

Ramires, Lucas Leiva e Ganso

Robinho, Alexandre Pato e Neymar

Técnico: Mano Menezes (4-3-3)

Lembra?

Neymar vestia a camisa 11 na primeira exibição com a camisa da Seleção e não disputou toda a partida. Foi substituído pelo meia Ederson, contratado recentemente pelo Flamengo. Paulo Henrique Ganso era o camisa 10. Hoje, o número mítico pertence a Neymar.

Coluna Máquinas do Tempo publicada nesta segunda (10/8) no Correio Braziliense