O sonolento Flamengo foi despertado por Arrascaeta na difícil estreia na Copa Intercontinental ao derrotar o Cruz Azul do México por 2 x 1 nesta quarta-feira, em Al-Rayyan, no Catar. Testemunho pessoal? estive duas vezes no país do Oriente Médio. Uma em viagem de sete dias e outra na cobertura da Copa do Mundo de 2022. O fuso-horário de +6h não é incorporado facilmente à rotina. Os primeiros dias são confusos. Obviamente, cada um reage de um jeito, mas estamos falando de jogadores de futebol. Atletas de alta performance. Isso ajuda a explicar a péssima exibição dos dois times nas quartas de final.
Embora tenha desembarcado no Catar no último domingo, alguns jogadores aparentavam um certo delay. Jorginho, Pulgar, Bruno Henrique e Samuel Lino, por exemplo. Quantos passes e tomadas de decisão erradas! Isso comprometeu o desempenho rubro-negro. Como dizem os especialistas, há uma desregulação do ritmo circadiano — o relógio biológico interno do corpo humano. Os efeitos colaterais são alterações do sono, fadiga e mal-estar, problemas cognitivos, sintomas físicos e impacto no desempenho. Flamengo e Cruz Azul têm poucos dias no Catar. Sem contar a adaptação ao campo e à bola.
Em contrapartida, Arrascaeta estava elétrico. Não existe jet lag para o camisa 10. Ligado no 220v, o uruguaio agiu como se fosse Pedro no lance do primeiro gol. Um segundo à frente da defesa do Cruz Azul, aproveitou a péssima saída de bola do adversário, dominou bonito e finalizou com frieza para fazer 1 x 0 no Estádio Ahmed bin All Stadium.
Faltam pernas a essa altura na 76ª partida na temporada e o Flamengo agiu como na final da Libertadores. Recuou. Atraiu o Cruz Azul e o atual campeão da Concachampions cresceu emulando a pressão do Palmeiras. Quando ficou atrás em Lima, Abel Ferreira agrediu o time rubro-negro nas ações pela esquerda em cima de Varela.
A falta de ritmo de jogo do zagueiro Léo Ortiz deixou o setor vulnerável. Houve um gol em impedimento de Gabriel Fernández e o outro valeu. Ambos construídos naquele pedaço do campo. A bola chegou a Jorge Sánchez na entrada da área em uma belíssima finalização.
A fisionomia de Filipe Luís depois do gol e a caminho do vestiário no intervalo era de quem tentava decifrar o plano de jogo de Nicolas Larcamon. O intervalo ajudou a comissão técnica a tirar o Flamengo de trás. Gonzalo Plata entrou no lugar de Samuel Lino e deu mais profundidade pela direita, com Carrascal assumindo a ponta canhota.
Aos poucos, o Flamengo retomou as rédeas do jogo e passou a construir oportunidades. Faltava refinamento na finalização, mas a bola procura quem a trata com carinho. Arrascaeta tentou ser arco ao procurar Bruno Henrique no passe, mas o camisa 10 estava em um dia de flecha. Em outro arremate primoroso, encobriu a defesa do Cruz Azul e contou com o chip na bola e a comunicação rápida com o relógio do árbitro sueco Glenn Nyberg para ter o gol e a classificação consumada para enfrentar o Pyramids do Egito no sábado.
Depois do gol, o Flamengo repetiu o enredo de vários jogos no ano. Empilhou oportunidades de fazer o terceiro e decidir a partida. Atraiu agonia para o fim da partida, mas o Cruz Azul não mostrou capacidade de reação no segundo tempo. Se havia algum risco contra a meta de Rossi, ele era proporcionado pelos erros absurdos de passe do Flamengo e a incompetência para marcar o terceiro gol e encerrar as quartas de final.
Para sorte do Flamengo, não há fuso-horário nem jet lag para Arrascaeta. Que ano fantástico do uruguaio. São 25 gols em 62 jogos na temporada. Muito acima da média para um meia.
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