Diacre Em janeiro, o Correio contou a história da técnica Corinne Diacre

Na França, mulher já é técnica de time masculino profissional

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A CBF está se achando revolucionária ao demitir Oswaldo Alvarez, o Vadão, e nomear a primeira técnica na história da Seleção Brasileira feminina — a competente paulista Emily Lima, 36 anos —, mas a verdade é que a entidade demorou a chutar o machismo para fora dos nossos gramados. Antes de Emily, o cargo foi de René Simões, Luiz Antônio, Jorge Barcellos, Kleiton Lima, Márcio Oliveira e Vadão. Protagonistas da final olímpica da Rio-2016 no Maracanã, Alemanha e Suécia eram comandas por mulheres. O machismo já recebeu cartão vermelho até mesmo na Série B de uma das ligas mais importantes do mundo. Na França, uma dama comanda um time profissional masculino.

No país da liberdade, igualdade e fraternidade, uma outra “Emily Lima” protagoniza uma nova revolução francesa. Agora, com uma prancheta nas mãos. Quem olha para a tabela de classificação da Ligue 2 — a segunda divisão do Campeonato Francês — dificilmente imagina que, à frente dos 25 homens do elenco do Clermont Foot, existe uma grande mulher: a treinadora de futebol Corinne Diacre, 41 anos.

Primeira mulher a obter a licença de técnica na França e a comandar um time profissional masculino no país, ao assumir, em agosto de 2014, o Clermont Foot, a ex-zagueira esteve próxima de levar a equipe à primeira divisão. O clube da cidade de Clermont-Ferrand virou o ano em terceiro lugar com 37 pontos. No entanto, desacelerou e hoje ocupa o 13º lugar.

Corinne Diacre é ex-jogadora profissional. Participou da Copa do Mundo de 2003 e da Eurocopa em 1997, 2001 e 2005. É a terceira boleira que mais vestiu a camisa da França, com 121 exibições. Depois de pendurar as chuteiras, decidiu investir na carreira de treinadora. Entrou para a história do país como a primeira mulher a obter o diploma de técnica. O prêmio foi a chance de ser auxiliar do comandante da seleção francesa feminina, Bruno Bini. Na sequência, liderou as meninas do Sochaux.

A treinadora assumiu o Clermont Foot por acaso, depois de um polêmico pedido de demissão de outra mulher. Antes de contratar Corinne Diacre, o presidente do Clermont Foot, Claude Michy, apostou na portuguesa Helena Costa. No entanto, a lusitana sentiu-se incomodada no cargo e pediu o boné. “Eu sou apenas um rostinho para atrair publicidade”, explicou na carta de despedida. A notícia repercutiu mal em toda a França, porém, o presidente do Clermont Foot não fez cerimônia. Claude Michy deu as contas de Helena e apresentou Corinne Diacre como sucessora. O cartola não se arrependeu. A evolução do trabalho é impressionante.

Emily
Demorou, CBF! Vice-campeã da Copa do Brasil à frente do São José dos Campos, Emily Lima, 36, é a primeira técnica na história da Seleção Feminina

Em 2013/2014, o Clermont Foot terminou a Ligue 2 em 14º sob comando masculino. Na primeira temporada sob as ordens de Corinne Diacre, o time pulou para o 12º lugar. A missão da treinadora era justamente manter a equipe na segunda divisão com uma campanha melhor do que a anterior. Na atual edição, o Clermont Foot chegou a virar carruagem sob a varinha de condão da fada Corinne. Ocupou o terceiro lugar, próximo da zona de acesso à Ligue 2.

Tímida quando assumiu o Clermont Foot, Corinne Diacre evitou promessas. “Eu sei que vou sofrer pressão, mas a minha ideia é fazer com que os meus jogadores se sintam bem em campo”. Aparentemente, o discurso conquistou os 25 homens do elenco. Corinne é respeitada na comissão técnica. “Ela é a chefe. No começo, era muito observadora, mas depois que assumiu o seu papel conseguiu se fazer respeitada”, conta ao L’Équipe Emmanuel Gas. “Ela é metódica e sabe ouvir. Não há diferença em relação a um treinador masculino. A única diferença é que não dividimos o mesmo vestiário”, brinca o auxiliar Jean Noel Cabezas.

Representante da cidade de Clermont-Ferrand na segunda divisão da França, o Clermont Foot conta com o apoio de pouco mais de 140 mil habitantes. O local é conhecido por ter sido o berço da multinacional de pneus Michelin no século 19. Apesar da quantidade de indústrias na capital da região de Auvernia, o Clermont Foot tem a terceira menor receita da Ligue 2, com apenas 6 milhões de euros.

 

Que time é esse?

Clermont Foot Alvergne 63

Fundação: 1990

Cidade: Clermont-Ferrand (França)

Estádio: Gabriel Montpied

Capacidade: 10.607

Títulos: Champions 2 (terceira divisão) em 2002 e 2007