Em 18 de maio de 2022, iniciei assim o texto de uma reportagem publicada no Correio Braziliense e no blog: “O futebol brasileiro vive uma explosão no número de casos de manipulação de resultados. O número saltou de seis, em 2016, para 88 em 2021. Nove deles no Candangate — o escândalo no Campeonato do Distrito Federal denunciado em 2021. O país é o epicentro das fraudes no esporte mais popular do mundo, mas outras modalidades estão contaminadas”, apontava.
Nove meses depois do alerta, o Brasil se vê surpreso com a tentativa de manipulação de resultados na Série B do Brasileirão. A denúncia partiu do Vila Nova-GO. Um jogador alvo do esquema admite o assédio. A máfia atua em todo o país. Há quem dê de ombros e quem leve a sério a gravidade do tema.
Quando denunciei o Candangate, unimos os pontos e mostramos passo a passo como funciona a engrenagem. Os fraudadores levam vida cigana. Caçam clubes falidos e torneios sem visibilidade. Arrendam os times e oferecem jogadores. Os reforços infiltrados contaminam elencos com ofertas de manipulação. Mostramos os jogos contaminados e mapeamos a Ásia como origem da maioria das apostas digitais.
Dirigentes de clubes locais torceram o nariz, mas o Tribunal de Justiça Desportiva do Distrito Federal (TJD-DF) e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) entraram em ação. A Federação do DF contratou firma especializada em integridade para monitorar desvios de padrões nas apostas. Os inquéritos continuam abertos, porém o combate ao crime organizado é missão inglória. Ouço de fontes que há má vontade e falta de conhecimento. Isso acelera o agravamento da crise.
Em 2005, houve o escândalo da Máfia do Apito. Onze jogos da Série A foram refeitos. Dezoito anos depois, a Justiça Desportiva se mostra ineficiente para punir. O Ministério Público também. A falta de regulamentação do setor é a maior adversária das investigações. Como obrigar os serviços on-line a fornecerem dados de pagamentos feitos a apostas suspeitas? É quase impossível rastrear o dinheiro. As sedes das firmas ficam no exterior. É impossível determinar a instalação de escritórios no país e taxas para trabalhos de inteligência e combate à manipulação.
Há legalização, mas falta regulamentação de um segmento com mais de 450 sites on-line no Brasil. Todos movimentam R$ 12 bilhões por ano e há estimativa de R$ 12,5 bi para 2023. Casas de apostas turbinam o esporte. Compram naming rights. Ocupam uniformes dos 20 times da Série A. Onze como patrocinador máster. Atletas são garotos-propaganda. Alguns jogam e apostam!
Há firmas honestas engajadas em regulamentação e integridade. Afinal, a manipulação faz com que sites percam dinheiro. Outras são suspeitas. O cenário é complexo. Pede atenção dos três poderes. O futebol virou refém. Está dominado por máfias de apostas.
Coluna publicada na edição impressa deste sábado do Correio Braziliense.
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