Mais que um técnico: Seleção Brasileira precisa investir na formação de ídolos exemplares

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O Brasil está sem técnico há 57 dias. Tite confirmou o fim do ciclo em 9 de dezembro, após a eliminação na Copa do Mundo no Catar contra a Croácia. Mas acredite: a busca por um sucessor é o menor dos problemas agora. Há uma gravíssima crise de valores da base ao profissional. As referências recentes da Seleção perderam a noção do que foi, é ou deveria ser vestir a única camisa cinco estrelas. Se é que um dia souberam.

Lulu Santos tem uma canção chamada “Tudo igual”. Um dos trechos da letra diz: “(…) não leve o personagem pra cama/Pode acabar sendo fatal (…)”. Meninos e meninas levam para cima do travesseiro o sonho de ser Ronaldinho Gaúcho, Robinho, Neymar ou um Daniel Alves da vida. No entanto, como diz a mesma música, “os personagens se revelam depois do aplauso final”. Escândalos recentes depõem contra todos eles e os transforma em ídolos de barro.

Duas vezes melhor do mundo, Ronaldinho passou seis meses em um presídio em Assunção, no Paraguai. Ele e o irmão, Roberto Assis, foram acusados de falsificação de documentos e fraude financeira em 2020. Campeão da Copa de 2002, o camisa 10 inspirou Messi e uma geração com seus malabarismos, mas a conduta extracampo sempre foi questionável.

As pedaladas de Robinho na final do Brasileirão de 2002 contra o Corinthians encantaram o país. Chamado até de Robinho “Arantes do Nascimento” pelos mais apressadinhos, o atacante foi condenado a nove anos de cadeia, na Itália, por estupro coletivo em ação penal de 2013. Refugiado, não arreda o pé do Brasil. Usufrui da blindagem de não ser entregue à Justiça italiana. Robinho era uma espécie de 12° jogador do Brasil na Copa de 2006. Virou intocável de Dunga em 2010, até perder de vez o respeito em um crime contra a mulher.

Única referência da Seleção há 13 anos, Neymar ostenta a 10, é o maior artilheiro ao lado de Pelé, com 77 gols, porém, empilha péssimos exemplos. No maior deles, foi inocentado em uma acusação de estupro, em 2019, após se envolver com uma jovem brasileira. Neymar havia bancado a viagem dela de São Paulo até Paris. Influencer da bola, vai além dos lances geniais, cortes de cabelo e das dancinhas. Ele esquece — ou finge não saber — que seus bons e maus exemplos reverberam.

Neymar tinha como maior parça na Seleção Daniel Alves. Aparentemente, era o único capaz de domá-lo, aconselhá-lo… As cenas seguintes à queda nos pênaltis contra a Croácia deixaram expostas a figura de um paizão disposto a passar a mão na cabeça do “menino Ney”. Dani é mais um que perdeu o resto do sempre questionado juízo. O jogador que “transcende o futebol”, nas palavras de Tite, está preso em Barcelona, na Espanha. Acusado de estupro contra uma jovem de 23 anos. Outro crime gravíssimo contra a mulher protagonizado por um astro da Seleção.

Ao traçar o perfil do sucessor de Tite, o presidente da CBF falou em aproximação com a base. Cobra atenção aos meninos das seleções sub-15, sub-17 e sub-20. “Não podemos perder os jovens jogadores que passam por nossas seleções de base e somem no futebol internacional sem continuidade na Seleção”, argumenta o dirigente.

É necessário ir além. Jogador precisa ter valores, seja nos clubes ou nas seleções. Não estão acima do bem e do mal. É importante puxar o currículo de quem se está contratando ou convocando. Condutas como as de Ronaldinho Gaúcho, Robinho, Neymar e Daniel Alves são inaceitáveis. Se a CBF está em uma cruzada para despolitizar a camisa da Seleção, precisa tratar urgentemente de cobrar reputação ilibada de quem almeja vestir a amarelinha. Sim, a maioria deles teve origem pobre e o sucesso subiu à cabeça rapidamente. Porém, há freio para isso. O Brasil não tinha psicólogo na comissão técnica na Copa do Mundo do Catar. Por aí se vê. A Seleção precisa ser tratada dos pés à cabeça.

Coluna publicada neste sábado (4/2/2023) na edição impressa do Correio Braziliense

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Marcos Paulo Lima

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